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Casa colonial vira morada de sonhadores após restauro

Leitores do ‘Casa&’ contam como revitalizaram construção em Bragança sem a ajuda de arquitetos

Por Construções brasileiras antigas sempre fascinaram
Atualização:

 

SÃO PAULO - Construções brasileiras antigas sempre fascinaram o francês Claude Armand. Estudioso do assunto por hobby, ele levou 14 anos para revitalizar a sede de uma antiga fazenda de café, em Bragança Paulista, e torná-la a casa de campo de seus sonhos. Não chamou arquiteto. Na empreitada, iniciada em 1993 e encerrada em 2007, só trabalharam ele, a mulher, Lívia, um pedreiro/marceneiro e um ajudante.

 

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O desafio de reconstruir o que parecia não valer nada levou o casal a querer compartilhar o prazer de ter a casa feita quase passo a passo. Assinante há anos do Estado, eles resolveram responder ao chamado do Casa& e enviar fotos da morada. “Vimos a reportagem sobre o Palacete Rosa, no Ipiranga, que foi todo restaurado, e tivemos a ideia de mostrar às pessoas a nossa realidade e também que é possível revitalizar um imóvel por quem ninguém dava nada”, explica Claude Armand.

O casal tem um apartamento em Pinheiros por força do trabalho de Lívia, corretora de seguros autônoma. Mas é sagrado: toda sexta-feira, chova ou faça sol, eles vão para a casa de Bragança e lá ficam até a tarde de segunda-feira. “Eu já tinha uma pequena chácara aqui, que comprei em 1976. Como fiz amigos e gosto da cidade, quis algo maior. Então, um corretor me mostrou essa maravilha de lugar, mas avisou que só valia mesmo o terreno, porque a casa era para ser demolida. Não concordei”, conta Claude, aposentado do setor de seguros e natural de Biarritz – celebrizada como praia dos reis – na fronteira com o País Basco.

De cara, ele e Lívia se encantaram com a paisagem. Do platô onde está construção, é possível ver as colinas suaves que circundam o terreno de 70 mil m² e, mais embaixo, o Rio Jaguari, que demarca a propriedade e funciona como proteção natural. Os pés de café, riqueza da família italiana que ergueu o imóvel em 1890, hoje estão espalhados na mata do entorno. O casal e o caseiro só cuidam mesmo das árvores frutíferas e dos jardins mais próximos.

Claude Armand conta que, quando começou a obra, a casa estava lamentavelmente descaracterizada. “Ao longo dos anos, os muitos proprietários não se preocuparam em preservar o original. Deu para salvar a estrutura do telhado – de peroba rosa – e alguns trechos do piso original. O resto, refizemos.”

 

Reconstrução

Consultando livros sobre construções coloniais brasileiras, eles foram refazendo a casa, aos poucos. Acharam no porão um pedaço de gradil, que serviu de modelo para que um serralheiro refizesse todo o guarda-corpo das varandas e terraços. E velhos pedaços de treliça ganharam recorte e pintura e foram parar no frontão. A casa ainda ganhou escadinhas laterais na entrada, no lugar de degraus em meia-lua feitos por algum dos antigos donos; janelões com parapeito no lugar de acanhados e feios vitrôs; portas altas e, lógico, pintura azul e branco, marca do colonial brasileiro. Claude demoliu paredes para criar uma sala de jogos e um bar (o móvel, de mogno maciço, veio de uma casa antiga do bairro do Paraíso) e aumentar o tamanho do seu quarto. Ainda assim, a casa de 640 m² conta com seis suítes, ocupadas quando todos os filhos estão reunidos.

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Frequentadores assíduos de feiras de antiguidades, aqui e no exterior, e das lojas e antiquários de Embu das Artes, Claude e Lívia foram decorando o local com móveis e objetos que tentam reconstruir a atmosfera da época. Pendurados nas paredes, um velho telefone de manivela e um sacarrolhas enorme, além de quadros, alguns do avô e do pai de Claude. Há também croquis e uma tela da casa feitos pelas filhas do casal. O antigo dono deixou um bufê e uma mesa de imbuia, que Lívia, ela mesma, restaurou.

E se os excessos fazem parte do gosto da dupla, há tesouros, como o fogão de ferro a lenha trazido de Camanducaia, o armário de farmácia, um bufê francês da Normandia, uma salamandra (que Claude transformou em aquecedor a gás) e o espelho antigo de lavabo, de folhas que se fecham. Ah, e a coleção de talhas, iniciada há 22 anos, em prateleiras altas em torno das paredes da sala de jantar.

 

Há de todos os tipos. De um magnífico exemplar de argila com o brasão da República a um modelo da Companhia das Índias ao lado de peças portuguesas, mexicanas, espanholas, indígenas e uma que pertenceu a um bandeirante, datada de 1850. São de barro, porcelana, cerâmica, vidro e pedra-sabão. Além das talhas, o casal tem dois filtros do século 19 nos corredores externos da casa.

 

Um ninho

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Lívia iniciou há alguns anos outra coleção, de garrafas verdes, mas anda meio desanimada. “Consegui juntar alguma coisa interessante, mas não estou podendo ir atrás de exemplares que realmente valham a pena. A casa aqui me toma muito tempo”, diz ela, ora preocupada em manter viçosas as flores dos vasos pendurados na entrada, ora com a torta que deixou no forno, ora em salvar um ninho de beija-flor que encontrou no pátio.

Unidos nas pequenas coisas, Claude ajuda a mulher a preparar uma solução de água com açúcar para dar aos filhotes de beija-flor e a pôr a mesa para o lanche. “Amamos tudo isso. Para nós, a felicidade está nas pequenas coisas. Hoje ainda gosto de estudar o colonial brasileiro, que foi uma época de ouro. Vamos muito a Ouro Preto e a Paraty para sentir a atmosfera e também fazer compras para a nossa casa, onde pretendemos viver definitivamente muito em breve”, revela Claude.

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