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Campo moderno

Renata Furlanetto e Flavia Cancian investiram no visual limpo em Araçoiaba da Serra

Por Olivia Fraga
Atualização:

  Ecleide Furlanetto quase caiu para trás quando viu as plantas da casa de campo. A reação do marido foi parecida - incrível mesmo foi a atitude tranquila da arquiteta que, diga-se logo, é filha do casal. Qual não deve ter sido a surpresa dos pais de Renata (Furlanetto, claro) ao verem o desejo de possuir uma vila italiana se transformar em casa moderna, de volumes destacados, cravada em Araçoiaba da Serra, a 130 km de São Paulo. "Era como ensinar uma nova língua", conta Renata. "Quando viram aquelas sugestões, se assustaram. Mas era compreensível: o que fiz era totalmente diferente do que eles imaginavam." Para Ecleide, professora universitária, a experiência foi "um rito de passagem". "Nós chegamos a negociar, mas o conceito estava tão redondo que não havia como querer outra coisa." A história dessa prova de fogo para a jovem arquiteta volta ao ano de 2002. Renata, que hoje integra a equipe de Marcio Kogan, acabava de voltar de Barcelona quando, a pedido dos pais, capitaneou a construção da casa de campo da família. Na Espanha, após dois anos trabalhando com arquitetura, conheceu Flavia Cancian, com quem assinou o projeto. O pretexto para a ousadia estava no terreno, elevado e plano, de onde se tem vista privilegiada das áreas do condomínio. Ali, tudo conspirava a favor de uma casa rendida ao sol, que brilharia nas áreas de estar e nos quartos. À frente do imóvel, a visão de um campo de golfe influenciou o paisagismo (executado por Renata Tilli), resumido a poucas espécies e visual limpo. O projeto de 460 m², no terreno de 2.200 m², é puro de linhas. Como ressalta Renata, as matérias-primas consistiram num "repertório de arquitetura contemporânea mais fácil de ser assimilado pelos meus pais". Traduzindo: o uso de concreto, vidro e caixilharia de metal (alumínio anodizado) e o desenho geométrico, livre de qualquer ornamentação. É difícil determinar qual fachada detém o privilégio da entrada da casa e da melhor vista - todas as áreas de estar assistem ao pôr-do-sol. Construído em três blocos, o imóvel divide suas funções em cada braço da construção. O bloco da frente é o da garagem, cozinha e área de serviço. O lado perpendicular concentra a ala social, integrada à cozinha. Do outro lado, as suítes - as principais ficam escada acima, onde está o destaque do projeto: a laje dos quartos não coincide totalmente com a área do térreo; recuada, acrescentou no andar superior um terraço exclusivo para os proprietários, o "terraço do mirante", como denomina Flavia Cancian. Acrescente-se a isso o efeito visual do revestimento das fachadas. Há beirais em volta de toda a construção, assentada sobre piso de cimento queimado branco. Com esse desenho, surgem largas varandas de cada lado da casa. As portas de correr de vidro, no living, apenas sugerem o limite entre os espaços. As fachadas restantes receberam limestone espanhol cortado em faixas (serviço da Arabesco; na Montblanc, material sai por R$ 590 o m²). Impossível não pensar no capricho da mão de obra na hora da instalação, de forma que os encaixes não ficassem aparentes, e na dimensão da pedra que originou o desenho. Em todo o térreo e nos dormitórios, Renata, que cuidou dos interiores com a mãe (sim, elas falam a mesma língua a esse respeito), aplicou piso de cimento queimado (R$ 47 o m² já aplicado, na Belarte). No andar superior, a madeira foi adotada por oferecer conforto térmico e acústico, de acordo com a arquiteta. No deck do mirante, fulget (R$ 62 o m², na Granitorre), cumaru (R$ 200 o m², na Marcenaria Di Legno) e pedriscos - poucos e bons materiais. Aprovado, Elcleide? "Dá preguiça voltar para São Paulo na segunda-feira", confessa ela, que descreve seu fim de semana perfeito: família reunida em volta da mesa do jardim e os netos brincando na piscina.

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