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Arte que não se perdeu

Os pratos decorativos atravessaram os séculos, e as boas coleções são valorizadas

Por Jennifer Gonzales
Atualização:

Símbolo de tradição no passado, quando famílias abastadas faziam questão de imprimir suas iniciais e brasões em louças da mais fina porcelana, os pratos decorativos ganharam diferentes funções ao longo do tempo, servindo de tela para retratos históricos (como Napoleão e Josefina em modelos Limoges) ou fonte de inspiração para artistas como Picasso e Jean Cocteau. Mas, se outros elementos figuram hoje na pauta familiar como objetos de desejo, é importante lembrar que, até algumas décadas atrás, mesmo os lares mais simples guardavam peças especiais nos cômodos da casa. Há, no entanto, quem ainda valorize uma boa coleção de pratos. Aqui, quatro personagens mostram que não se trata de uma arte perdida.E mais: que essas peças podem dar charme a qualquer residência.Na sala de jantar de Vera Chadad, organizadora do tradicional Salão de Arte do Clube A Hebraica (de 18 a 23 deste mês), a coleção de pratos ingleses do século 19 está disposta sobre um bufê de rádica art déco. O conjunto de azul e branco da porcelana contrasta com os suportes mineiros de estilo barroco que acomodam as sopeiras. Com exceção destas, adicionadas mais recentemente, os pratos, travessas e rosbifeiras formam o mesmo jogo há duas décadas, ou seja, desde que Vera adquiriu as louças em um antiquário. "Elas vieram de um único colecionador. Meu marido ficou entusiasmado e arrematamos tudo para não perder a oportunidade", conta. Do conjunto, Vera gosta especialmente das rosbifeiras, raras. "Em mais de 20 anos trabalhando com arte, vi apenas meia dúzia delas." As peças favoritas da curadora, no entanto, são dois pratos que estão no living, da Companhia das Índias, penduradas junto a obras de arte. "Foram os primeiros que comprei, acabei me apegando a eles."Se a coleção de Vera prima pelo requinte clássico, a da estilista Isabella Giobbi é pura modernidade. Os 12 pratos instalados em fileiras horizontais no living de seu apartamento são do italiano Piero Fornasetti (1913-1988), criador da série Tema e Variazioni, com 350 variações de peças cujo tema é uma mulher de rosto enigmático. Isabella adquiriu as peças quando morava em Milão, onde estudou Moda e Arquitetura nos anos 1990. "Ele fazia esse trabalho à mão, numa época em que não existia tecnologia gráfica, nos anos 40 e 50", diz. O conjunto tem imagens de um rosto feminino no visor de um carro, um prato com talheres dentro dele e duas figuras masculinas - uma delas, diga-se, parte de uma tiragem exclusiva de seis. Isabella começou a interessa-se por pratos decorativos ao passar, um dia, diante do espaço do artista. "Minha avó, no Brasil, tinha pratos com desenhos de macarrão, que ela usava na mesa. Só descobri que eram do Fornasetti quando os vi na loja", lembra. "Na época vivia de mesada, muitas vezes ficava na dúvida entre comprar um sapato Prada ou um prato", diverte-se a estilista.De mãe para filhaCandy Brown, estilista americana de alta-costura e radicada no Brasil há mais de 30 anos, exibe a coleção de influência art nouveau na sala de jantar de sua casa. Os pratos foram pintados por sua avó, Aurore Dessureault, nascida em 1885. "Ela fez um conjunto de louças para cada uma das cinco filhas e eu acabei herdando essas peças da minha mãe", conta. "Na época, era costume as mulheres ganharem um conjunto quando casavam."Natural de Boston, Candy fez faculdade de Línguas e Filosofia no Marymount College, na Califórnia, onde conheceu o futuro marido, que a trouxe ao Brasil, em 1977. A coleção, da marca francesa Limoges (nome da cidade famosa por suas porcelanas), desembarcou por aqui com o casal . "Os pratos ficaram guardados por muito tempo; lembro que eram considerados fora de moda quando eu era menina", diz Candy. Hoje a estilista não poderia achá-los mais atuais. "Os pratos são lindos e dão um toque geométrico ao ambiente."Inspiração na mitologiaNa acolhedora sala de refeições da casa onde mora, com paredes pintadas de amarelo- ocre, a artista plástica Patricia Magano instalou 12 pratos desenhados por ela há oito anos. As peças mostram figuras de pássaros com rostos humanos. "Minha inspiração foram personagens da mitologia grega e azulejos antigos de pássaros portugueses", explica Patricia. "O resultado é um visual híbrido, com referências folclóricas." A artista plástica, que em 2007 foi convidada para fazer um prato para o leilão do Museu Lasar Segall, lembra que idealizou a coleção, originalmente, para a fazenda da família, em Santa Branca, interior de São Paulo. "Fiz as peças como parte da louça da casa, acho um luxo esse tipo de detalhe." Mas as peças ficaram tão bonitas que ela decidiu instalá-las em sua casa, no Jardim Europa. Na área externa, estão os pratos de porcelana e faiança e pintados e ouro e platina líquidos.

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