Apartamento dos anos 70 é revitalizado sem perder carga histórica

Vigas de concreto foram combinadas a design de alto padrão para atender necessidades do atual morador

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Por João Abel
Atualização:
Banco de madeira com almofadas foi construído no principal vão da área social. A persiana de madeira ajuda a controlar a forte luz natural que entra no apartamento Foto: André Mortatti

Minimalismo, praticidade e conforto. Estas foram palavras de ordem para o arquiteto Kleber Arigucci frente à missão de repaginar este apartamento de 140 m², nos Jardins, lar de um advogado na faixa dos 40 anos. O maior desafio, no entanto, surgiu de uma constatação: mais do que reeditar, era necessário respeitar o conteúdo histórico deste imóvel da década de 1970 que leva a assinatura do arquiteto Ruy Ohtake. 

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Sem fazer disso uma limitação, Arigucci tirou partido da riqueza do projeto do edifício. “Mesmo antigo, ele tem uma estrutura sofisticada e oferecia elementos originais que caracterizam bem um período importante da nossa arquitetura”, conta. De fato, um levantamento inédito feito pelo Estado em 2017 mostrou que 25% dos imóveis paulistanos existentes foram erguidos entre 1971 e 1980, anos que marcaram o primeiro ‘boom’ de verticalização na cidade.

Restaurar o ‘espírito’ setentista do imóvel, contudo, não foi tarefa das mais fáceis. “Retiramos a camada de argamassa até chegar ao concreto nas paredes da sala e na cabeceira da cama. Aceitamos as imperfeições do material, apenas tratamos com resina”, conta o arquiteto, que aliou o ‘brutalismo’ natural do imóvel a uma marcenaria bem cuidada. Especialmente na escolha criteriosa dos móveis.

Afinado com o período modernista, Arigucci fez questão de trazer para o apartamento peças de mobiliário como cadeiras de jantar assinadas pelo italiano Giuseppe Scapinelli. Com finos traços, elas foram devidamente incorporadas à mesa, assinada pelo brasileiro Jader Almeida. Juntas, elas se integram à generosa área de estar do imóvel, onde uma das paredes exibe trabalhos da artista Bettina Vaz Guimarães.

Já a planta, foi radicalmente alterada: antes com três quartos menores, o imóvel passou a contar com uma espaçosa suíte e um quarto de hóspedes. “Foram demolidas diversas paredes. Tudo era muito segmentado.”

Com uma iluminação natural privilegiada, Kleber levou a proposta minimalista até mesmo aos pontos de luz espalhados pela casa. Com o pé-direito baixo, poucas lâmpadas foram acopladas ao teto, e a opção foi por usar luminárias de chão, como na sala de estar, e apenas um trilho luminoso paira sobre a mesa de jantar. “A iluminação foi toda trabalhada de forma difusa ou indireta para manter uma estética limpa”, diz Arigucci, que instalou um enorme banco de madeira com persiana no vão de uma das aberturas da área social, para controlar a luz natural que invade o ambiente.

A combinação dos grandes vãos e ambientes integrados favoreceu, e muito, a ventilação. O painel de correr vazado que separa a cozinha da área de jantar garante circulação de ar cruzada, diminuindo o uso do ar-condicionado.

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Para atender às necessidades estéticas do local, foram desenhados alguns móveis sob medida. No móvel da TV, por exemplo, todos os fios e equipamento de vídeo e som ficam escondidos por portas de linho natural. “O uso desse tecido permite que o morador use os controles remotos sem ter que abrir as portas do rack.”

O designer catarinense Jader Almeida se faz presente no quarto com a poltrona Edda Foto: André Mortatti

O ideal de praticidade se aplicou até mesmo ao piso do imóvel, onde foi instalado um porcelanato que imita cimento queimado e evita os rejuntes, facilitando o processo de limpeza.

“Além da aparência ‘lisa’ do piso, todos os móveis foram pensados com pés muito discretos, para sugerir que eles estão suspensos no ar, que nem tocam o chão”, finaliza o arquiteto, que se sente satisfeito em compor um apartamento moderno e funcional, sem deixar de reverenciar toda a tradição arquitetônica por trás das linhas do edifício.

*Estagiário sob supervisão do editor de suplementos Daniel Fernandes

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