Aberta para o vento entrar

Cynthia Pedrosa assina o projeto desta casa em Búzios, em que a elegância se mistura aos elementos rústicos

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Por Bete Hoppe
Atualização:

O vento ameniza o calor, mas, quando sopra forte, o que ocorre com freqüência na praia da Ferradura, em Búzios, atrapalha o lazer ao ar livre. Por isso, e para que o casal de proprietários desfrutasse dos espaços abertos sem interferência, a arquiteta Cynthia Pedrosa criou duas varandas nas extremidades do living: uma de frente para o mar; outra voltada para o pátio interno. A construção de 800 m² se abre para o cenário natural, nos fundos do terreno de 2 mil m², onde o deck se debruça dois metros adiante sobre a areia, permitindo ver a praia. O tablado de maçaranduba serve de ponto de reunião. Em volta dele, um banco da mesma madeira faz as vezes de mesa e guarda-corpo. Nesse tablado, espalham-se espreguiçadeiras de madeira com colchonetes revestidos de capas atoalhadas brancas. Para evitar a exposição direta ao sol, nada de quiosque convencional, mas sim tenda removível - com tecidos pintados por Tuta Beirão, amarrados a finos cabos de aço e presos em pilaretes de eucalipto encaixados no deck. Da praia, vêem-se dois blocos separados pelo pátio interno, que abriga as três suítes de hóspedes. No lado direito, dois pavimentos: em cima, as suítes íntimas e no térreo, o living. Já o lado esquerdo é plano e abriga a cozinha externa - outro pedido da proprietária. O espaço está equipado com churrasqueira e coifa, ambos de aço escovado (cerca de R$ 3.500 e R$ 3 mil, respectivamente, na Brasquima), forno para pizza e cooktop industrial. A bancada em ilha cimentada de branco conta com banquetas de vime e madeira (da FibrasArte). "Basta água para limpar", diz Cynthia. "Aliar praticidade e beleza é um dos desafios deste projeto." Cores claras Após 13 meses de obras (entre 2004 e 2005), a arquiteta conseguiu seu objetivo: imprimir sofisticação a materiais naturais. No living, por exemplo, o sofá de madeira (criado por ela e executado por Thereza Racca) tem capa de lona lisa pré-lavada (da Coverin) e a cortina de algodão lembra uma rede de pesca (modelo Rogéria, R$ 69 o metro, na Regatta). "A trama do tecido cria um volume transparente que aquece a esquadria", explica Cynthia. Já a lareira de cimento e tábuas irregulares de eucalipto envelhecido garantem o conforto no inverno. A mesma madeira foi usada no teto da área da churrasqueira, da varanda interna e da sala de jantar. Caibros roliços sustentam ripas de bambu colocadas sobre placas de policarbonato transparente, que protegem da chuva e deixam passar a luz. No teto da varanda voltada para o mar, e dos outros espaços internos (além do piso do andar superior), esse tipo de eucalipto surge pintado de branco em tábuas de 8 a 15 cm (assoalho similar, de perobinha envernizada, cerca de R$ 182 o m², na Top Floor). Nas suítes íntimas, o assoalho recebeu esmalte azul-hortênsia e, nos quartos de hóspedes, verde. "Praia pede cores claras", diz. Sala de jantar, um desafio Os banheiros seguem o tom dos dormitórios. Na suíte principal, pastilhas de porcelana branca Jatobá (da Revestire) cobrem as áreas molhadas, enquanto pastilhas de vidro (da Colortil, em média R$ 22 o m²) forram por completo as paredes. A bancada da pia deu lugar ao móvel de folha de zinco pintada de branco, outra criação de Cynthia. A valorização de materiais simples ainda se revela no estuco das paredes externas: folhas e gravetos secos dão textura à argamassa. O piso também ganhou destaque com o Solarium - revestimento antiderrapante e atérmico, à base de cimento (de 50 cm x 50 cm, R$ 65,52 o m², na Brasil Europa) - no living e nas áreas de circulação externas. Exceção é o cascalho bege, que margeia o lago no pátio interno. Ali, o espelho na parede do fundo reflete a imagem de quem chega da praia e duplica a dos bambus-mossô, cercados pelo banco de madeira de alizaris antigos (desenho de Cynthia, execução da Espaço Porta). Mas o maior desafio, segundo a arquiteta, foi a sala de jantar. "Infelizmente, não pude tirar partido da vista para o mar, porque ela estava entre o pátio interno e o muro lateral da casa", diz. A solução? Criar um cenário com parede vermelha decorada com cestos indígenas, cadeiras de brechó com pernas daquela cor e mesa de madeira. "Consegui criar um ar de despojamento sem abrir mão da elegância", diz ela, satisfeita.

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