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A poesia do objeto

O designer Carlos Alcantarino explora a plasticidade dos materiais na criação de peças variadas

Por Roberto Abolafio Jr.
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Em Carta ao Tom, de 1974, Vinícius de Moraes escreveu: "Rua Nascimento Silva, 107/Você ensinando para Elizeth/As canções de ?Canção do Amor Demais?". Carlos Alcantarino mora bem em frente ao endereço, em Ipanema, onde o maestro Tom Jobim viveu de 1953 a 1962. "Você sabia?", pergunta ele, na janela, apontando o prédio do outro lado. Dentro do apartamento, a mais recente criação do designer: a mesa com traços secos, de madeira originária de um deck de navio. Espelho com acabamento laqueado. É criação de Carlos Alcantarino. Foto: Kitty Paranaguá/Divulgação  Na pequena rua arborizada, onde nasceram as parcerias entre Antonio Brasileiro e o Poetinha, que Elizeth Cardoso gravou no LP Canção do Amor Demais, fica, também, a alguns metros, o ateliê de Alcantarino, no térreo de um edifício de três andares. Nos fundos, um quintal coberto com jardim, há outras criações. São champanheiras, centros de mesa, castiçais. Ao observar as peças variadas, percebe-se a versatilidade de quem experimenta diferentes matérias-primas, como resina, madeira, couro, metal, vidro. O conhecimento técnico dos materiais, advindo da formação como engenheiro civil, trouxe facilidade para Alcantarino realizar seu trabalho, que vai do sóbrio a um quê de poesia. Um exemplo? "Encontrei uma pedra no chão e ela foi o ponto de partida para compor um castiçal", conta ele, mostrando o objeto em que peças de resina são presas a uma haste metálica, girando com um toque. No começo da carreira, o engenheiro chegou a trabalhar como consultor, mas logo depois abriu uma empresa de design com o antigo sócio, Paulo Mendonça. "Eu só geria o negócio", conta ele, também pós-graduado em Administração de Empresas. Com a morte de Mendonça, começou, em 1993, a fazer desenhos. A partir daí, sua lida mudou de foco. Hoje tem 40 peças comercializadas no País. Projeto no Pará Em sua opinião, hoje existe uma entressafra no design brasileiro. "À exceção dos irmãos Campana, nada vejo de espetacular", diz. Mas logo pondera: "Nós, designers, somos muito cobrados." Para ele, daí provém a influência atual dos traços clássicos reinterpretados em móveis e objetos. Aos 50 anos, Alcantarino acaba de coordenar e assinar a direção de arte do projeto Experiência Design Cabanos, na Vila de Cabanos, em Barcarena, no Pará, estado onde nasceu. Patrocinado pela Vale, a iniciativa quer alavancar a produção de uma cooperativa de artesãos da região, a Coopsai. Até então, eles faziam brinquedos educativos de madeira e sandálias de borracha com material descartado pela Albras, indústria de alumínio da região. "A idéia foi ampliar o leque de produtos, deixá-los com a cara do design atual, orientar a distribuição e até criar um site", conta ele, que contou com a participação de outros cinco escritórios de design do Rio e de São Paulo na empreitada social.

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