A evolução do morar em SP

Celebrando os 140 anos do ‘Estado’, o ‘Casa’ destaca mudanças marcantes nas residências da cidade nesse período

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Por Natalia Mazzoni e Lorena Tabosa
Atualização:
Em 1917, alinha de trem ligando Santos a Jundiaí trouxe para a cidade outro jeito de morar. Para abrigar os engenheiros que trabalhavam na obra, a Vila dos Ingleses foi erguida com 28 sobrados. Foto: Arquivo/Estadão

A cozinha, que hoje tem lugar de destaque na casa, já foi desprezada pelos moradores e reservada apenas aos empregados. Os banheiros, transformados em spas particulares, nem dentro de casa ficavam. E os ambientes de estar, atualmente integrados em um só espaço, eram bem definidos, compartimentados. Na semana em que se comemoram os 140 anos do Estado, o Casa faz um passeio pela evolução do modo de morar na cidade, dos casarões e sobradinhos aos compactos apartamentos para um só morador. 

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Quando o jornal começou a circular, ainda com o nome de A Província de São Paulo, em 4 de janeiro de 1875, a arquitetura da elite paulistana mais parecia ter sido trazida de navio, importada da Europa, com influências de Portugal, França, Itália e Espanha. “A ideia de morar no século 19 estava muito associada a conceitos franceses, mais do que portugueses. Isso explica as casas com varandas, modelo que se intensificou com as imigrações italiana e espanhola”, explica Ciro Pirondi, arquiteto e diretor da Escola da Cidade.

O tamanho dos imóveis é uma das mudanças mais evidentes ao longo dos anos. Dos casarões avarandados passamos a pequenos apartamentos projetados para apenas um morador. “Hoje, não faz mais sentido um lançamento de 100 m² pensado para apenas um casal. Os imóveis diminuíram porque a cidade evoluiu e as pessoas estão usando mais o espaço público”, acredita Pirondi.

Segundo o arquiteto e pesquisador Nabil Bonduki, atualmente secretário de Cultura do município, o processo de modernização nas residências, com o advento da energia elétrica e a chegada de máquinas, mudou a conformação dos espaços. “Há 140 anos, não havia eletrodomésticos nas residências e, entre outras coisas, o encanamento era mais simples. A dedicação aos serviços domésticos era bem maior, pois se fabricavam muitos alimentos dentro de casa”, conta.

Não à toa, a cozinha é um dos ambientes que mais passaram por modificações de estrutura e utilização. De acordo com o arquiteto Francisco Zorzete, autor, com Jorge Bassani, do livro São Paulo: Cidade e Arquitetura - Um Guia, prevalecia nas casas paulistanas a cozinha pensada exclusivamente para uso dos empregados, herança dos tempos em que o Brasil usava mão de obra escrava. “Nela ocorreu a mudança mais significativa em termos de layout. A cozinha hoje, muitas vezes, está no meio da sala. E isso também é fruto da desmistificação de que só as mulheres cozinham, os homens querem ter um espaço para receber os amigos, cozinhar quando sobra um tempo, e isso fez mudar completamente a cara da casa atual”, afirma.

A partir dos anos 1930, as moradias passaram a ter influências modernistas e se tornaram mais compactas e segmentadas. “Isso mudou talvez pela preocupação com a privacidade e o afastamento do coletivo. Questão que contraria, inclusive, alguns princípios da arquitetura moderna, que queria trabalhar justamente o coletivo”, completa Bonduki. Essa segmentação deu lugar à integração dos ambientes sociais, seja nos imóveis novos ou nos projetos de reforma, que não raro privilegiam uma área única de convivência na casa.

Outra mudança radical no jeito de morar aconteceu em um ambiente que até o início do século 20 nem estava dentro de casa. “Os banheiros ficavam do lado de fora, era como se as pessoas quisessem esconder não só o cômodo, mas também o uso que faziam dele. No interior, ficavam bacias para lavar o rosto e escovar os dentes, o resto era feito do lado de fora”, explica Zorzete. Mais tarde, já nos apartamentos, era normal que todos os moradores dividissem um único banheiro. “Hoje, os banheiros deixaram de ser apenas funcionais e se tornaram salas de banho, ambientes pensados para que o morador passe um tempo considerável lá dentro.”

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