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A cor ressurge com força

Não há um tom dominante, mas sim um colorido difuso, de base étnica. Aqui e ali, excessos de bege-marrom e do previsível preto e branco. E, em todos os ambientes, a natureza como referência

Por Marcelo Lima
Atualização:

Uma vila residencial. Sobre o tema - referência na memória afetiva da cidade -, a Casa Cor, a mais expressiva mostra de decoração do País, revisita o espaço do Jockey paulistano. Favorecidos pela privilegiada vegetação do local - com árvores igualmente tombadas -, 88 dos mais renomados arquitetos e decoradores brasileiros apresentam suas propostas para a montagem de um condomínio horizontal, com 69 ambientes, entre casas, estúdios e unidades autônomas. Presente em todos os ambientes - não raras vezes de forma literal -, a natureza é, sem dúvida, a referência que se faz sentir com mais força na Casa Cor 2008, onde aparece empregada com maior ou menor propriedade. Situação de todo esperada em uma evento que tem na diversidade um dos seus principais trunfos. Mas que ainda assim, em seus melhores e não tão brilhantes momentos, apresenta pontos de convergência na forma de abordagem dos projetos. Como acontece com tudo na eclética vila implantada no Jockey paulistano, pecar pelo excesso continua sendo o principal desacerto de parte dos decoradores. Profissionais talentosos, mas que seguramente poderiam alcançar melhores resultados com maior atenção aos detalhes - mesmo em se tratando de mostra comercial - e menos à profusão de revestimentos, móveis e acessórios. Nesse sentido, nem a atual onda verde fugiu à regra. Em nome da legítima vontade de se estar em contato com a natureza vale a pena incorporar, por exemplo, toda e qualquer árvore a uma sala? Abrir mão do equilíbrio interno dos espaços apenas para franquear a visão do meio externo? Entre a intenção e o projeto, a questão da integração com a paisagem produziu versões de toda ordem na Casa Cor 2008. Com resultados, como era de se esperar, diretamente proporcionais às características de cada locação. Elemento preponderante, a ênfase na transparência por vezes produziu efeitos adversos. Repleto de vidros e espelhos - e sem a devida atenção ao potencial de interação com a luz -, um brilho exagerado, ofuscante mesmo, chega a tornar incômoda a permanência em determinados ambientes. Pior: imprime ares de shopping center a céu aberto a uma implantação imaginada para reproduzir, ao contrário, o cotidiano de uma bucólica vila. Entre as boas notícias, a cor, como elemento simbólico e evocativo de códigos afetivos, ressurge com força entre os decoradores. Não como tonalidade dominante, mas sim sob a forma de um colorido difuso, de base étnica, acrescentando vibração indistintamente a sofás, paredes ou pisos. Territórios ainda excessivamente dominados, aqui e ali, por toda a sobriedade da dupla bege-marrom ou pela previsibilidade do preto e branco. Nos interiores, confirma-se, guardadas honrosas exceções, o panorama geral: a preocupação com a natureza marca presença, mas não o critério na hora da escolha. Mais do que bem-vinda, a idéia de sustentabilidade parece ter atingido a imaginação dos decoradores, mas também a do apelo ecológico fácil. Ao contrário do demonstrado este ano em Milão - assumido referencial de estilo para muitos profissionais -, o uso de materiais ecologicamente corretos não exclui, necessariamente, a existência de bom design. Em sintonia com os últimos lançamentos, o móvel de autor, porém, aparece bem representado: um catálogo atualizado - de sofás à luminárias, passando por acessórios - ganha destaque na maioria dos ambientes, onde surge em todas as suas dimensões: como signo de individualização, de distinção ou, em alguns casos, de flagrante ironia. Pronto para desempenhar funções, e também desenhar o espaço. Em contraposição ao discurso das "tendências", a ênfase no artesanal e no uso das fibras nacionais merece ser olhada com atenção - principalmente entre os profissionais iniciantes, que, ao valorizar o aspecto tátil de móveis e revestimentos, produzem ambientes que crescem em tamanho. E conteúdo. (marcelo.lima.antena@estadao.com.br)

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