A copa é nossa

Primeiro foi a copa, tradição brasileira, lá pelos anos 50; depois, as salas de almoço, uma jogada do mercado

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Por Marisa Vieira da Costa
Atualização:

A casa está em constante transformação, concordam os arquitetos. E a cozinha é o cômodo onde mais aconteceram mudanças ao longo da história, também afirmam eles. É o lugar onde não só se preparam os alimentos, mas se dão as relações de afeto e se estabelecem as de hierarquia.

 

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Nas antigas moradas paulistas, diz o arquiteto Carlos Lemos em seu livro Cozinha Etc, os senhores recebiam seus pares e viajantes no alpendre. Na cozinha ficavam mulheres e empregados. "A elite sempre comeu separada da criadagem. Isso é universal. E, no caso do Brasil, um atavismo cultural que vem da nossa colonização e da nossa herança escravocrata", afirma o arquiteto Gustavo Calazans. "Isso talvez explique nosso gosto por copa e salas de almoço", ele arrisca.

 

A cozinha como a conhecemos começou a se delinear com a invenção da torneira, em 1800, e a construção da rede de abastecimento de água em domicílio, 76 anos depois, no Rio de Janeiro. O passo seguinte foram os ladrilhos hidráulicos laváveis para o piso e até uma incipiente coleta de lixo, lançada em terras cariocas, em 1885. No início do século 20, veio o fogão a gás. E, algumas décadas depois, a geladeira e os demais eletrodomésticos.

 

A popularização desses produtos provocou uma revolução nas residências. A cozinha, que até então era quente e desconfortável, sinônimo de árduo trabalho braçal, se tornou um ambiente mais fresco e convidativo. A década de 1950 marca o surgimento da nova cozinha. Revestida de ladrilhos e azulejos e com os armários forrados de fórmica, ela era uma extensão da sala de estar. Nascia então a copa-cozinha, uma tradição tipicamente brasileira.

 

Segundo Calazans, até os anos 60, porém, na copa comiam crianças e serviçais. Mas os novos tempos mudaram costumes e ela virou lugar de reunião. Já as salas de almoço são bem mais recentes. "Vêm do fim dos anos 80. Foi uma sacada do mercado para seduzir a classe média alta", reconhece o arquiteto.

 

A também arquiteta Clélia Regina Ângelo concorda que só imóveis de alto padrão têm essa comodidade. "Neles você não encontra varanda com churrasqueira, por exemplo", ela explica. Seja copa ou sala de almoço, trata-se de mais um espaço de estilo e conforto domésticos, como se vê nos quatro projetos a seguir.

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