34ª edição da Casacor São Paulo tem recorde de novos nomes da arquitetura

Dos 58 ambientes espalhados pelo Parque Mirante, 28 participam, pela primeira vez, do evento paulista

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Por Ana Lourenço
Atualização:
Ambiente de Gabriela de Matos é inspirado nas arquiteturas afro-brasileiras e ameríndias Foto: Paulo Pereira/teiadocumenta

Em todo planejamento de decoração ou design de interiores existe um cliente por trás. As referências e particularidades dos moradores são espelhados em cada canto da casa. No entanto, durante as mostras de decoração é possível observar exatamente o estilo daquele profissional sem nenhum outro ruído; é a interpretação dele por ele. A 34ª edição da Casacor, que começa nesta terça, 21, é a que mais tem com nomes novos - dos 58 ambientes, 28 foram feitos por estrantes.

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“A Casacor tem essa característica de ter novos nomes, novas apostas. Nesse ano temos profissionais realmente muito talentosos e promissores que fazem a leitura da Casa Original (tema do evento neste ano) das mais distintas formas”, coloca Lívia Pedreira, curadora e superintendente da Casacor. O segredo, em todos eles, é apostar na sua história.

A arquiteta Gabriela de Matos, por exemplo, sempre gostou de observar o rio na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Hoje, com 35 anos, ela estreia na Casacor São Paulo levando exatamente essa visão em formato de cadeira. “Esse banco foi produzido com uma técnica ancestral, da taipa de pilão, que consiste em colocar terra em camadas na taipa e ir socando com o pilão. Então se você olhar de frente, fica esse desenho interessante. E coloquei o nome do banco de Margem de Rio porque me lembra a minha infância e adolescência em Minas”, conta.

A técnica foi muito usada durante o período colonial do Brasil para construções de casas. “A minha ideia foi referenciar a técnica no ambiente, mas trazer para um outro formato, que foi o design de mobiliário”, diz ela, que também passou resina de mamona no móvel para que o visitante pudesse sentar.

Gabriela abre a mostra com o ambiente Agô, que no idioma iorubá significa "entrar e pedir licença". Sua ideia, como estreante, é trazer sua vivência como arquiteta negra com um vasto campo de pesquisa na cultura afro-brasileira e ameríndia. “Eu entendo que essa originalidade tem que estar desde o pensamento, na distribuição do ambiente, até a escolha do material, para mostrar que a gente pode construir, mostrar nas nossas moradias com outras perspectivas também, sabe? É mais um convite para pensar diferente”, explica.

“A Casacor tem um papel muito importante na promoção do design de interiores e de arquitetura. Então trazer arquitetos e arquitetas jovens, trazer mais diversidade de profissionais, como é o meu caso, por ser uma arquiteta negra, eu acho que é incrível e me sinto animada com o que isso vai representar daqui pra frente no campo da arquitetura como um todo. Acredito que aí sim começaremos a produzir num outro lugar, um lugar que seja mais ligado a essas raízes diversas da cultura brasileira”, diz Gabriela. 

Ousadia e alegria

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Contraste entre divertido e sério comtemplam o espaço de Pedro Luiz Foto: Denilson Machado

O ousar está presente em todos os ambientes estreantes. Alguns ousam em sentimento, como é o caso de Gabriela, mas outros abusam das cores, móveis e texturas, como fez Pedro Luiz De Marqui, de 30 anos. Em seu ambiente, destaca-se o contraste. “Minha inspiração foi trazer o passado com o presente, o tradicional com algo contemporâneo”, coloca ele. “Eu gosto muito desse estilo que traz a coisa artística, que ousa e quebra barreiras. Então uma coisa brincalhona ser uma coisa respeitada também, por exemplo”, diz Pedro, citando o tapete de ovo da marca italiana Seletti e a luminária de Ingo Maurer construída com uma luva de látex azul.

Como destaque, o ambiente tem uma instalação artística feita de vidros e cabo de aço pelo arquiteto em parceria com o designer Lucas Recchia. Ela serve como uma espécie de divisor de ambientes, seguindo a ideia de espaços fluídos.

No andar acima, Ana Weege, de 35 anos, também estreante, tem um espaço que conversa diretamente com o de Pedro. Para ela, chegou a hora de trazer elementos lúdicos para quebrar a seriedade dos tempos atuais. “Eu acho que os espaços que a gente vive podem ser mais divertidos. É o que eu sempre falo também sobre obra de arte, de você se perguntar: essa obra vai me fazer feliz todos os dias que eu olhar para ela pendurada na parede? Então é com esse viés que eu penso para os objetos que a gente vai escolher para nossa casa também”, diz. 

Para seu espaço, cada peça foi escolhida a dedo - independente dos obstáculos. As intervenções do piso, realizadas pelo artista Gian Luca Ewback, foram feitas com materiais trazidos na mala dopai dela, que mora em Portugal. Já as bebidas do bar foram escolhidas pelos rótulos e histórias que Ana teve com os amigos. “É sobre ter esse carinho com os objetos, explorando essa nostalgia e sentimentos”, diz ela, que se inspira no icônico arquiteto Sig Bergamin para fazer o “garimpão”.

Ana Weege deseja limpar os visitantes dos outros ambientes já vistos para garantir a surpresa do seu Foto: Evelyn Muller

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A explosão de cores é antecipada por um jardim zen com o nome do seu ambiente, “Perspectiva”. “Numa mostra, o visitante chega no seu ambiente depois de passar por tantos outros. Então a ideia do Jardim é que ele traga essa limpeza, essa transição para que quando a pessoa entrasse no meu espaço fosse mais impactante ainda”, conta . Para isso, Ana se inspirou nos elementos naturais: água, areia rastelada em formato circular para o fluxo da energia, fio de juta e quartzo hematoide, a pedra da cura.

Casa Tempo

As traduções da origem, seguindo o tema da edição de 2021, estão presentes em todos os ambientes. Em alguns até, ela é traduzida como tempo. “A minha inspiração foi o céu, por isso trouxe um pano de vidro logo na entrada do espaço e proponho uma reflexão profunda sobre o que é verdadeiramente importante em nossa casa e em nossa vida”, diz a arquiteta Ticiane Lima. Apesar de estar participando pela terceira vez do evento, faz, pela primeira vez, uma construção completa. Seu “ambiente”, presente no rooftop do espaço, é uma Tiny House suspensa em um espelho d'água, que acompanha a luz solar e mostra fluidez dos espaços com arquitetura minimalista.

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O sentimento de tranquilidade e pausa é tamanha que o espaço foi apelidado de Casa Tempo. Foi esse também o intuito de Beatriz Quinelato, 40 anos, estreante na Casacor. “Depois de tudo que a gente viveu nesses dois últimos anos, trazer o projeto para uma coisa mais afetiva, mais sentimental, eu acho que é o caminho pra mim”, diz.

Beatriz Quinelato aposta em tons terrosos e muito verde em seu Estúdio Terra Foto: Renato Navarro

A grande tendência do espaço é destacar os tons terrosos e valorizar a arte e o design brasileiro. “O Estúdio Terra traz o resgate ao essencial, é ter essa sensação de pé no chão. E trazer essa simplicidade não significa ser uma coisa rústica. Mas sim com estilo, sofisticação e exclusividade”, explica. Segundo Beatriz, o segredo é usar os materiais de forma repaginada. Como o piso do ambiente que traz tijolinhos - mais comum nas paredes. 

Em muitos dos ambientes, é possível ver árvores e plantas. Uma, em específico, chama a atenção, a Jasmim Manga. Totalmente sem folhas ou flores, ela fica lá, mostrando sua beleza, mas pronta para se transformar e florir até o fim da mostra. 

CasaCor 34ª edição - A Casa Original

De 21 de setembro a 15 de novembro Funcionamento de terça a domingo, das 12h às 22h Ingresso: R$ 80 (inteira), de terça a quinta; R$ 100 nos fins de semana e feriados Rua Padre Antônio Tomás, 72www.casacor.byinti.com

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