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Veja os benefícios de espécies 'diferentes' dessas frutas e legumes

Maracujá roxo, laranja vermelha, abóbora de duas cores e batata-doce alaranjada são algumas variedades pouco conhecidas disponíveis nos mercados brasileiros

Por Paulo Beraldo
Atualização:
Pesquisadores e empresas têm trabalhado para tornar viável comercialmente a produção de variedades de alimentos menos conhecidas no nosso dia a dia Foto: romanov/ Pixabay

Com certeza você já passou pelos corredores de mercados e encontrou  maracujá amarelo, batata-doce roxa e abóbora verde. Mas existem muitas variedades de frutas "diferentes" das que conhecemos. Nos Estados Unidos e na Europa, por exemplo, o maracujá mais consumido é o roxo.

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Na Venezuela e na Itália, é comum encontrar laranjas com polpas vermelhas, enquanto no Peru as batatas-doces podem ser brancas, roxas ou alaranjadas. No Brasil, pesquisadores e empresas têm trabalhado para tornar viável comercialmente a produção de variedades de alimentos menos conhecidas no nosso dia a dia. 

Confira alguns desses casos abaixo:

Abóbora do hexa? 2018 pode ser um bom ano para consumir a abóbora Brasileirinha, lançada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na época da Copa do Mundo de 2006. Essa variedade foi encontrada pela primeira vez no Distrito Federal em uma plantação de abóboras verdes, comuns.

"Foi uma mutação natural, não tem nada de transgenia", diz o pesquisador Leonardo Silva Boiteux, da Embrapa Hortaliças, do DF. Quando acharam o fruto com duas cores, os pesquisadores da empresa coletaram as sementes e decidiram plantá-las para conhecer suas qualidades. 

Anos depois, além da coloração simpática, a abóbora conquistou o público por ser mais crocante e conter betacaroteno e luteína, importantes nutrientes na prevenção de doenças cardiovasculares e dos olhos. "Muitas doenças seriam evitadas com uma melhor alimentação e, nesse aspecto, as hortaliças têm papel de destaque", diz Boiteux. 

Variedade verde e amarela se adaptou a diferentesregiões do País. Foto: Leandro Lobo/Embrapa

Maracujá: verde, roxo e vermelho. Existem no mundo cerca de 500 espécies de maracujá, sendo que 70 delas são comestíveis. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lançou uma variedade de maracujá roxo, o mais consumido no exterior. "É uma fruta que atende a um nicho de mercado de pessoas que não toleram a acidez do maracujá", explica a pesquisadora Laura Maria Molina Meletti, do IAC.

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Os frutos roxos são menores e mais leves, têm mais açúcares, menos acidez e maior teor de sólidos solúveis, sendo recomendados para quem tem desconforto gástrico após ingerir alimentos ácidos. 

Maracujá roxo é mais apreciado nos mercados dos Estados Unidos e da Europa, mas também é plantado no Brasil. Foto: Laura Meletti/IAC

Na Embrapa, as pesquisas já desenvolveram dez novos maracujás desde os anos 1990. Uma das novidades foi o maracujá Pérola do Cerrado, menor, verde escuro e bem mais doce. A variedade foi desenvolvida no Distrito Federal e já é cultivada por diversos agricultores da região.

"A polpa, muito rica em antioxidantes, serve para sucos, doces, sorvetes e para fins medicinais", explica Fábio Faleiro, coordenador das pesquisas com maracujá na Embrapa. Além desse, há um maracujá quase vermelho, o Rubi do Cerrado. Segundo Faleiro, a fruta é mais resistente, tem mais vitamina C e dura mais na prateleira. "São opções para diversificar a fruticultura brasileira", diz. Há outros com fins ornamentais, que dão apenas flores e não frutas. 

Variedade lançada pela Embrapa é produzida no Distrito Federal e conquistou o mercado da região. Foto: Paulo Beraldo/Estadão

Laranja vermelha. Também na Embrapa, mas no Rio Grande do Sul, pesquisadores conseguiram tornar viável o cultivo de uma laranja com polpa vermelha originária da Venezuela. Com o nome de laranja Cara Cara, ela se espalhou para outros locais do mundo e contém o licopeno (aquele mesmo do tomate), de onde vem sua cor vermelha. A variedade não possui sementes e é, em geral, menos ácida que as normais. 

A fruta pode se cultivada em todo o Brasil, mas apenas em regiões frias terá o aspecto avermelhado, explica o pesquisador Roberto Pedroso de Oliveira, da Embrapa Clima Temperado. "Nas regiões frias, os citros geralmente têm melhor qualidade. Se cultivá-la em São Paulo, por exemplo, ela terá a polpa amarela", diz ele.

A laranja Cara Cara é produzida no Brasil na região da Campanha Gaúcha, quase na fronteira com o Uruguai. Suas vitaminas são bem parecidas com as de laranjas "normais", mas a cor chama a atenção e aumenta o consumo. 

Fruta é ótima fonte de vitamina C, potássio, fibras e não possui sementes. Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa

Melancia menor e sem semente. Após testes em campo desde 2014, a multinacional alemã Bayer lançou no mercado brasileiro uma variedade de melancia mais compacta e sem sementes, a Pingo Doce. A fruta tem casca mais escura e a polpa, além de mais doce, tem maior consistência. A variedade está sendo colhida em escala comercial pela primeira vez este ano. 

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Um dos objetivos da nova fruta é aumentar o consumo de melancia no Brasil, diz Leonardo Herzog, gerente nacional de melancias da Bayer. Ao identificar que muitas pessoas deixavam de comprar a fruta pela dificuldade de armazenamento, desenvolver uma fruta menor foi uma solução.

"Deixamos de pensar somente no agricultor para pensar também nos consumidores. Ela cabe na geladeira, é pequena e tem uma cor mais chamativa", explica. A variedade deve ser plantada nas principais regiões produtoras do Brasil: Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo. 

Plantador de melancia há mais de 40 anos, o agricultor Gilberto Rambor, de Encruzilhada do Sul (RS), apostou na variedade nesta safra para inovar. "Comecei a plantar a Pingo Doce para ter um diferencial", explica ele. Segundo o agricultor, a produção e a recepção do mercado foram positivas. "Quando as pessoas conhecer em essa fruta, dificilmente vão querer outra variedade", afirma ele, que já vendeu suas frutas para várias regiões do País. 

Melancia Pingo Doce, colhida em Encruzilhada do Sul (RS) em 2018. Foto: Foto cedida pelo agricultor Gilberto Rambor

Pêssego 'achatado'. O pêssego Mandinho, criado pela Embrapa em 2014 após mais de 10 anos de pesquisa com cruzamentos genéticos, tem polpa amarela, casca avermelhada e predomínio do sabor doce. Mas sua principal característica, que chamou atenção do mercado, é a forma achatada. 

O formato lembra uma bolacha, sendo menor que o pêssego tradicional comercializado no Brasil. Segundo a Embrapa, a fruta precisa de menos horas de frio que seus concorrentes para florescer. 

Variedade, mais doce e menos ácida, tem como foco as crianças Foto: Paulo Lanzetta/Embrapa

Batata-doce alaranjada. Apesar das batatas-doces roxas com polpa branca serem as mais comuns, há variações. Você conhece a diferença entre elas? A variedade Beauregard, de cor alaranjada, vem chamando a atenção dos consumidores brasileiros. 

Sua cor laranja vem da alta quantidade de betacaroteno, que contém vitamina A, importante para reduzir riscos de doenças cardiovasculares e catarata. Segundo a Embrapa, ela pode substituir  farinha de trigo em diversas receitas, aumentando o valor nutricional do alimento. Essa batata-doce é dos Estados Unidos e foi trazida para o Brasil através de um convênio da Embrapa com o Centro Internacional de la Papa (CIP), do Peru. 

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O lançamento faz parte de um projeto da Embrapa com outros 13 centros de pesquisa do mundo todo, o Biofort, para produzir alimentos naturais com mais qualidades nutricionais.

O consumo de50 gramas dessa batata-doce supre as necessidades diárias de vitamina A. Foto: Leandro Santos Lobo/Embrapa

Tomate 'fortificado': cápsula de licopeno. O tomate, o legume mais consumido do Brasil, ganhou uma nova variedade em 2017 com muito mais licopeno, um antioxidante capaz de prevenir doenças como o câncer, em especial o de próstata. A variedade foi lançada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). 

O novo fruto, chamado de BRS Zamir, tem em torno de 144 mg/g de licopeno, enquanto seus "concorrentes" raramente passam a casa das 30 mg/g. Ele também tem cor mais vermelha, sabor um pouco mais adocicado e sua conservação após a colheita é maior que a média: dura até 18 dias fora da geladeira. 

Segundo o pesquisador Leonardo Boiteux, da Embrapa Hortaliças, o objetivo de aumentar a quantidade de licopeno nos tomates é possibilitar que os brasileiros tenham no alimento um aliado contra doenças. "O ser humano não consegue produzir o licopeno, ele tem que vir da dieta. E o tomate, além da melancia e da goiaba, é um dos poucos alimentos com essa substância", explica Boiteux, que trabalha com melhoramento de tomates desde 1989. 

"Mas também estamos pensando no consumidor: tem que ser um tomate gostoso e crocante". O pesquisador comenta que há outras espécies com ainda mais licopeno, que devem ser lançadas nos próximos anos. "Nosso trabalho é fazer cruzamentos, pegar o pólen de um e combinar com outro, não é nada transgênico. Então, nos 'filhos' desses cruzamentos é que buscamos as qualidades desejadas". 

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