Reumatismo: diagnóstico tardio compromete o tratamento

Mitos e desinformação acerca da doença podem mascarar sintomas e acarretar danos à saúde

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Por Marcela Braz
Atualização:

Apesar da fama, o reumatismo está longe de ser uma doença restrita a idosos. As mais de cem enfermidades abrangidas pelo termo não têm faixa etária, nem público-alvo; podem acometer tanto recém-nascidos como quem assinala o box “60 anos ou mais” nos formulários.

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Sim, são centenas de doenças que desmistificam outra reputação: reumatismo é dor nas juntas. Na verdade, ele compromete ossos, músculos, cartilagens, estruturas localizadas próximas às articulações, como tendões e ligamentos, e pode até afetar órgãos vitais e o sistema nervoso central.

“Todas as doenças envolvem o aparelho locomotor de uma forma ou de outra, outros mais intensamente e outros menos”, explica César Emile Baaklini, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). Ou seja, o componente comum a essas centenas de males é a mobilidade do corpo, não apenas as articulações.

Mas os mitos não existem à toa. Segundo Baaklini, a osteoartrite é dos casos predominantes entre as doenças reumáticas, também conhecida como artrose. Ela afeta principalmente as juntas, e os sintomas são dor, crepitação e deformidades - ligadas ou não à limitação de movimentos. O quadro acompanha inflamação e, se não for tratado adequadamente, pode deteriorar completamente a articulação.

A osteoporose, enfraquecimento progressivo dos ossos, e o reumatismo de partes moles (tendinites, bursites e entesites) também entram no rol das enfermidades reumáticas consideradas mais comumente encontradas pelo especialista. Estas últimas são inflamações temporárias ou crônicas dos ossos, músculos, tendões, articulações e ligamentos, por alguma lesão ou vício postural ou ocupacional - como digitar em excesso, por exemplo.

Nilton Salles, reumatologista do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho, destaca artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico como as enfermidades mais frequentes entre mulheres. A primeira se trata da inflamação das articulações, principalmente das mãos e dos punhos, geralmente a partir dos 30 ou 40 anos, e a incidência aumenta com a idade. Dor, inchaço, rigidez matinal, febre, emagrecimento são alguns dos sintomas.

O lúpus, por outro lado, incide num público mais jovem, entre 20 e 45 anos e tem origem autoimune, o que significa que o sistema de defesa do organismo ataca células do próprio corpo. Um tipo se manifesta com manchas na pele, o outro afeta órgãos internos, como rins, coração e membranas do pulmão. Febre, fraqueza, desânimo, emagrecimento e perda de apetite são sinais gerais da doença.

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Salles observa nos homens outro padrão. Os males mais comuns são gota e espondilite anquilosante. A gota inflama as articulações quando a taxa de ácido úrico no sangue está alta. Já a espondilite afeta principalmente coluna, quadris, joelhos e ombros. “Ela inflama a coluna, e o paciente fica com ela dura, como se grudassem as vértebras. Ele tem dor e vai perdendo os movimentos”, descreve o reumatologista.

Embora não exista prevenção para as doenças autoimunes, as atividades físicas ajudam a melhorar a musculatura e retardar a progressão da artrose, por exemplo Foto: Matt Olsen/Creative commons

Prevenção. A resposta de ambos os profissionais para amenizar as doenças reumáticas é a prática de exercícios físicos, especialmente para frear manifestações no aparelho locomotor. “Mas é necessário que haja orientação correta para não agredir as articulações ou lesionar outros órgãos”, enfatiza Baaklini.

Salles lembra que não existe prevenção para as doenças autoimunes, mas diz que as atividades físicas melhoram a musculatura e retardam a progressão da artrose, por exemplo. O alongamento faz bem aos que desenvolvem espondilite, porque ajuda a pessoa a ficar menos limitada e travada. E, no caso da artrite reumatoide, os fumantes sofrem consequências mais graves com a doença. Quando há histórico da enfermidade na família, o conselho é não fumar.

“O exercício físico em si não previne. Controla colesterol, o peso, então ajuda. Mas alimentação, ingestão de bebida alcoólica, perfil metabólico, hipertensão e diabetes também interferem. A pessoa tem que estar toda controlada e em perfeito funcionamento para uma coisa não afetar a outra”, explica.

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Desinformação. Salles salienta ser comum o diagnóstico tardio do reumatismo, o que pode comprometer o tratamento. Entre os problemas estão o próprio nome da doença e os mitos ligados a ele. “Reumatismo é um termo que não explica nada, e todo mundo acha que é coisa de velho. O pessoal associa reumatismo a dor. E quem tem mais dor? As pessoas de mais idade”, esclarece.

Além disso, os sintomas comumente levam as pessoas a procurar um ortopedista, notam os especialistas. Mas Baaklini dá a dica para saber quando o é caso de ir ao ortopedista: “de uma maneira geral, eles são traumatologistas, tratam pacientes que tiveram traumas, fraturas ou lesões”.

Tanto ele como o presidente da SBR batem na tecla da informação como forma de favorecer a análise precoce do quadro, fundamental para o processo de cura. “Apopulação tem que saber que, quando sentir determinados sintomas, deve procurar profissionais preparados. Quanto mais precocemente você iniciar o tratamento correto, maiores as chances de cura e controle da doença”, diz Baaklini.

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