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Respirando a paz

Em visita a São Paulo, pacifista dá dicas para administrar melhor o tempo e alcançar a paz interior

Por RODOLFO ALMEIDA
Atualização:

 

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No dia a dia das grandes cidades, uma impressão é quase certeira: o nível de estresse é diretamente proporcional à falta de tempo. Para a ativista humanitária e líder pacifista Rajshree Patel, o segredo para solucionar esse problema é simples e, curiosamente, o mesmo da tão sonhada paz mundial: a meditação.

Nascida na Uganda e criada na Índia, Rajshree teve uma carreira exigente e estressante como promotora de justiça em Los Angeles, até conhecer o guru e líder espiritual indiano Sri Sri Ravi Shankar. A partir daí, iniciou sua jornada de paz interior e passou a viajar o mundo com a Fundação Arte de Viver, uma ONG fundada por Shankar e dedicada ao ensino e disseminação da meditação como caminho para a paz.

Pacifista dá dicas para administrar melhor o tempo e alcançar a paz interior Foto: Divulgação

O segredo para a paz mundial é a meditação. Como funciona isso?

Esse é o próprio fundamento da Arte de Viver, a redução da violência. Se conseguirmos reduzir nosso próprio estresse em uma esfera individual, nos tornaremos mais felizes e viveremos mais o presente. Naturalmente, isso criará um impacto em nossa família, depois em nossa comunidade e, eventualmente, no mundo. Uma sociedade sem estresse é uma sociedade sem violência.

São Paulo é uma cidade muito estressada em comparação a outras metrópoles?

Acredito que o estresse é um fator comum da vida em qualquer lugar. Claro que ele é mais presente quando temos de lidar com trânsito frequente ou com longos trajetos até o trabalho, como é o caso de uma cidade grande como São Paulo. Isso nos estressa porque faz com que tenhamos cada vez menos tempo para família e para outras coisas que desejamos fazer. Mas em todos os lugares em que já estive, o estresse é um estado mental geral, não tem a ver com um lugar ou uma situação.

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Em uma entrevista você disse que um dos maiores problemas dos relacionamentos é a comunicação. Por quê?

A comunicação pode se tornar desafiadora em qualquer relacionamento, seja entre amigos, irmãos ou parceiros. Isso porque ficamos sempre obcecados por ter a palavra final: queremos sempre estar certos, e não nos focamos na harmonia, paz e companheirismo da vida a dois. Nos esquecemos do objetivo principal de estar em um relacionamento, que é estar junto, criar uma comunhão voltada a segurança, harmonia, amor. Quando você quer se provar certo, mesmo sem querer, você quer provar que a outra pessoa está errada. E ninguém gosta de estar errado. Isso cria um ciclo vicioso em que um tenta provar que está mais certo do que o outro.

E qual a dica para resolver isso?

Um exemplo cotidiano é a maneira de apertar o tubo de pasta de dente. Algumas pessoas são da religião que aperta o tubo no meio. Outras creem que devem apertar na ponta. A dica é: chegue em um acordo e aperte sua pasta de dente da maneira que preferir, mas quando surgir um impasse, lembre-se sempre de que a felicidade deve ser seu objetivo principal, e não a palavra final.

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Você ministra muitos workshops voltados para o desenvolvimento de líderes. Existe uma cobrança excessiva por liderança no trabalho?

Eu acredito que todos são líderes. Como pais ou mães, temos a responsabilidade de liderar uma família. Como irmãos, talvez lideremos nossos irmãos mais novos. O que nos impede de liderar é a falta de percepção da capacidade que temos. Se realizamos algo que sabemos que conseguimos fazer, isso tem um valor. Mas se realizamos algo que ainda não sabíamos que podíamos fazer, isso tem um valor ainda maior e nos traz mais satisfação. Quando nos concentramos no passado como um indicativo do que somos capazes, nos fechamos em nossa zona de conforto. Precisamos compreender que nossa capacidade é muito maior do que acreditamos.

E o que fazer com as cobranças do dia a dia?

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Quando você estiver no trabalho e o mundo parecer se mover muito rapidamente, com grandes exigências de liderança e iniciativa, acredite que é capaz e você poderá descobrir um potencial que desconhecia em si mesmo. Peça a qualquer pessoa hoje em dia para fazer algo e ela responderá: 'eu não tenho tempo para isso'. Então essa pessoa se casa e arranja tempo para seu parceiro. Peça algo novamente e ela dirá que 'chega, não aguenta mais pressão'. E então ela de repente tem um filho, e arranja tempo para o filho. Ou seja, temos muito mais capacidade do que imaginamos, só temos de nos dar uma chance para descobrir isso.

Então não há uma cultura de competitividade excessiva?

A competição faz parte da vida. Ela sempre estará lá e é saudável quando te permite crescer. Mas quando a competição faz com que as pessoas meçam a si mesmas a partir de outras, ela pode se tornar danosa. E é aí que ferramentas como meditação e atenção a respiração se tornam valiosas. A pressão é um fenômeno interno. Se conseguirmos reduzi-la, então nossa capacidade de fazer cada vez mais ganha espaço. Isso porque, se o tempo é nosso maior problema, a meditação é uma maneira de ganharmos tempo para nós mesmos. Ela faz com que sejamos mais eficientes, produtivos e torna nossa mente mais clara e precisa.

Alguma dica básica de meditação?

Uma dica simples que costumo dar às pessoas é: feche os olhos. Alguns minutos por dia, encontre um tempo para fechar os olhos e ficar consigo mesmo. Ou então, quando for se deitar, faça respirações longas e profundas. Acalme seu estado de espírito e diga a si mesmo: amanhã é um novo dia, poderei fazer novas escolhas e ter um novo começo. E apenas se entregue. Não se atenha ao que aconteceu no passado. A meditação é uma técnica efetiva porque pode ser usada pelo resto da vida, mas exige um tempo de aprendizado. O que é muito simples e todos podem fazer a qualquer momento é se conectar a si mesmo, buscar um tempo para si.

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