Quase 30% dos brasileiros pode ter doença do refluxo e não saber
Ludimila Honorato - O Estado de S.Paulo
11/04/2019, 07:03
Pessoas têm sintomas, mas não os associam à enfermidade, adiando uma consulta com especialista
Omeprazol é o medicamento mais utilizado no tratamento da doença do refluxo, mas deve ser usado segundo orientação médica, quando necessário. Foto: Sergio Castro/AE
O refluxo gástrico é, muitas vezes, tido apenas como um sintoma, mas, na verdade, trata-se de uma doença. Poucas pessoas fazem essa associação e a consulta com um especialista é adiada. Enquanto isso, a automedicação e o agravamento do problema comprometem ainda mais a qualidade de vida.
Uma pesquisa sobre o conhecimento e a incidência da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) no Brasil, conduzida pela GFK e encomendada pela farmacêutica Takeda, revelou esse perfil. Das 1.773 pessoas entrevistadas, 28% disseram que sentem algum sintoma da enfermidade, mas não o associam à doença.
A taxa aumenta quando a amostra se concentra nos 48% dos entrevistados que tiveram algum indicativo de DRGE nos últimos seis meses. Desses, 58% não relaciona o sintoma com a doença. Além disso, 60% dos brasileiros desconhecem a enfermidade.
O doutor em gastroenterologia clínica Décio Chinzon diz que, se não tratada, a doença do refluxo tem chance maior de se tornar um câncer de esofâgo, embora a incidência seja baixa. "Pode causar inflamação do esôfago, leve, moderada ou mais intensa. Essas inflamações intensas podem levar à diminuição do calibre do esôfago", explica o médico.
O que é a doença do refluxo?
A DRGE é uma doença crônica e caracteriza-se pelo retorno de parte do conteúdo do estômago para o esôfago. Esse conteúdo pode ser também o ácido gástrico, que dá a sensação de queimação e pode causar lesões nos tecidos do órgão. Além do refluxo em si, outros sintomas são azia, regurgitação, dor no peito, pigarro e tosse.
Os motivos para que o refluxo gastroesofágico ocorra são variados, mas se baseiam no mau fechamento de uma válvula, chamada de esfíncter esofágico inferior, que separa o estômago do esôfago. Se essa barreira não se fechar bem, o conteúdo estomacal volta no sentido contrário. Isso pode ocorrer devido ao enfraquecimento das fibras musculares do esfíncter, aumento da secreção gástrica ou estômago muito cheio por tempo prolongado.
"Se a frequência dos sintomas é semanal, se a pessoa acorda à noite com refluxo, queimação, tem dificuldade para engolir e sente dor com frequência, já deve procurar o médico", orienta Chinzon.
Alimentos gordurosos são um risco para quem sofre de refluxo. Foto: Unsplash/@robinstickel
Busca por tratamento do refluxo gástrico
A pesquisa mostrou que um terço das pessoas que sentem o incômodo não toma qualquer atitude e deixa a crise passar sozinha. Quando fazem algo, a primeira medida é tomar um remédio que já têm em casa ou chá natural. Ir ao pronto-socorro ou consultar um especialista raramente é o primeiro passo na busca pelo tratamento. Quando é, ocorre, geralmente, seis dias após os sintomas.
Aqui, destaca-se que 60% da amostra é atendida pelo Sistema Único de Saúde e isso dificulta o acesso direto a um profissional que cuida só de casos relacionados ao sistema digestivo. Tanto que 75% de quem busca atendimento médico consulta-se primeiro com um clínico geral.
O executivo Rodrigo dos Santos, de 40 anos, convive com a doença do refluxo gastroesofágico há cerca de dez anos. No entanto, faz apenas cinco que ele a controla com medicação. Mudar alguns hábitos para evitar os episódios também foi outra medida adotada. Mas, antes disso, ele passou um bom tempo ignorando os sintomas e tomando omeprazol.
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Conheça os benefícios dos diferentes tipos de chá
Tomar chá, por prazer ou para tratar doenças, é um hábito milenar. Os princípios ativos presentes nas plantas e ervas de chá são fitoterápicos, isto é, são uma forma de tratamento médico natural. As vantagens que a bebida pode trazer vão do combate a dores de cabeça à prevenção da diabetes. É importante lembrar que os chás não devem ser consumidos após 24 horas após sua preparação e também não devem ser reaquecidos. Dito isso, saiba quais são alguns dos benefícios produzidos pelos chás.
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Infusão, maceração e decocção
Os chás podem ser preparados por infusão, maceração ou decocção. De acordo com o Guia Prático de Plantas Medicinais (2015), da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, a infusão é feita com água fervente, colocada sobre as flores e folhas de uma planta. O recipiente é abafado por 10 a 15 minutos. A maceração consiste em amassar ou picar a planta, colocando-a em contato direto com água em temperatura fria ou ambiente, de 10 a 24 horas, dependendo da parte utilizada. O processo de decocção consiste em colocar a planta para ferver juntamente com a água, por até 20 minutos. Após todos os procedimentos, o líquido deve ser coado.
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Diferentes tipos de chá
Os chás diferem na forma de colheita e de processamento. Os chás branco, vermelho e verde são feitos a partir das folhas da planta Camellia sinensis. Famoso, o chá verde é rico em antioxidantes e está relacionado ao tratamento de obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes e câncer. O chá preto passa por um processo de fermentação, o que causa um escurecimento nas folhas. Ele tem alto nível de cafeína, atua como anti-inflamatório e auxilia em processos intestinais.
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Camomila
Segundo Lara Natacci, nutricionista da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), o chá de camomila é conhecido por dois efeitos principais. “O primeiro é a ação calmante que a camomila tem, ela afeta o sistema nervoso central e ajuda a induzir o sono”. A outra é a melhora do movimento intestinal. De acordo com a nutricionista, alguns estudos também mostram que a camomila tem efeito antioxidante no organismo.
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Boldo
De acordo com a nutricionista Roseli Rossi, da Clínica Equilíbrio Nutricional, o chá de boldo facilita o trabalho da vesícula biliar e contribui para a digestão de gorduras, por causa de seus princípios ativos. O boldo é indicado para combater as dores de estômago, dores de cabeça, males do fígado, diarreia e desconforto causado por gases intestinais. “O chá, porém, deve ser usado com cautela, pois, em excesso, pode provocar irritação gástrica”, aponta Roseli.
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Capim-cidreira
Lara Natacci, nutricionista da SBAN, explica que o chá de capim-cidreira atua no sistema nervoso central e tem efeito calmante, induzindo o sono. “O chá também funciona com efeito laxativo, é a erva mais indicada para quem tem intestino preso”, afirma. O capim-cidreira também tem ação analgésica e carminativa, isto é, atua contra os gases estomacais.
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Carqueja
O chá de carqueja é utilizado como diurético. Segundo a nutricionista Roseli Rossi, ele atua beneficamente em casos de anemia, cálculos biliares, diarreias e enfermidades do baço, da bexiga, do fígado e dos rins. Ele combate a má digestão, ajudando a diminuir azias, e pode ser usado para combater a má circulação do sangue, inflamações das vias urinárias, diabetes, icterícias e vermes intestinais.
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Erva-doce
A infusão de erva-doce atua principalmente no sistema digestivo. Ela tem ação antiespasmódica, isto é, diminui a formação de gases intestinais. Segundo Lara Natacci, nutricionista da SBAN, a erva-doce também pode ter ação antioxidante. A oxidação é um dos fatores que contribui para o envelhecimento e pode facilitar o surgimento de doenças como diabetes e doenças cardíacas. A infusão de erva-doce também pode ser usada contra azia, vômitos, mau-hálito e vertigem.
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Hortelã
O chá de hortelã tem ação anti-inflamatória e combate processos inflamatórios na mucosa intestinal. Ele pode ser usado no combate a náuseas, vômitos, gases e ausência de fluxo menstrual. “A hortelã possui princípios ativos utilizados para o relaxamento da musculatura lisa do trato gastrintestinal, que aumentam a produção e a secreção biliar, facilitando a digestão dos lipídios”, explica a nutricionista Roseli Rossi. O chá de hortelã também apresenta função de vermífugo, analgésico e diurético.
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Erva-Mate
A infusão de erva-mate estimula a digestão. Segundo a nutricionista Lara Natacci, da SBAN, existem estudos que afirmam que o mate ajuda a diminuir o colesterol, melhorando a circulação e diminuindo o acúmulo de gordura nas artérias. “Outras pesquisas apontam um efeito termogênico, parecido com o da cafeína e o do chá verde; Mas é preciso uma grande quantidade para fazer efeito, cerca de quatro xícaras de chá”, aponta.
Foto: Alex Silva/Estadão
"Eu tinha bastante tosse, pigarro e, com o tempo, percebi que estavam associados à alimentação e ao estresse. Fiz endoscopia e já sinalizava refluxo, mas eu fiquei de três a quatro anos adiando um exame [mais detalhado]", conta Santos.
O exame, que consiste em ficar 24 horas com uma 'câmera' observando todo o comportamento do estômago e do esôfago, constatou que o caso dele é grave e genético. O diagnóstico também o colocou como elegível para uma cirurgia que faria a válvula fechar corretamente. Porém, diante da possibilidade de a intervenção perder o efeito com o tempo, o executivo preferiu cuidar mais de si.
"Tenho cuidados básicos de não deitar logo depois de comer, usar um travesseiro que ajuda a deixar o corpo mais elevado, evitar temperos picantes e bebidas alcoólicas", conta ele. O medicamento, segundo Santos, é para a vida toda e a disciplina é primordial. "Dá para comer de tudo, mas, se comer demais, a válvula não segura. Ter conscientização alimentar é o principal."
Tratamento para doença do refluxo gástrico
Chinzon reforça o método adotado por Rodrigo Santos: o tratamento alia medidas comportamentais e farmacológicas. "As primeiras orientações para o paciente são não deitar após comer, evitar comer demais, comer de forma frequente com menos quantidade e evitar alimentos gordurosos", cita o gastroenterologista.
Os medicamentos mais utilizados são os inibidores da bomba de prótons, como o omeprazol, que têm um efeito maior e mais prolongado do que os antiácidos. Estes, embora não façam mal ao organismo e tragam alívio imediato, fazem com que a pessoa deixe de ir ao médico quando sofre constantemente com o problema.
A automedicação, segundo Décio Chinzon, é desaconselhada. "A pessoa pode ter um medicamento em casa, desde que orientado pelo médico e tome quando necessário. Mas a automedicação mascara os sintomas, o que faz a doença evoluir", diz o médico.
Confira aqui alguns mitos e verdades sobre a doença do refluxo gastroesofágico.