Mesmo antes de a Paralimpíada do Rio de Janeiro começar, a belga Marieke Vervoort, que pratica corrida de cadeira de rodas, já chamou atenção. A atleta declarou ao jornal Le Parisien que, após o encerramento dos jogos, pediria a eutanásia. A justificativa da atleta são as dores insuportáveis, provocadas por uma doença degenerativa.
A oncologista Dalva Yukie Matsumoto, especialista em Cuidados Paliativos, explica que, muitas vezes, quando um paciente expressa a vontade de morrer, é por que ele sente dor total. Isso significa que as dores físicas do paciente são agravadas por questões de ordem emocional.
“A dor física dá para tratar. A maioria das vezes, esses casos de grande limitação física geram sofrimento da alma, uma crise existencial”, diz a médica, que também é diretora do Instituto Paliar.
Dalva relata que, em casos que já atendeu, pacientes jovens com câncer ou doenças degenerativas, que têm grande dependência física, passam por perda da identidade, o que pode os levar a querer morrer.
Em sua opinião, o que leva uma pessoa a optar pela eutanásia é não conseguir ver graça na vida, ou não conseguir suportar mais sofrer. “Na minha experiência pessoal como oncologista e com cuidados paliativos, quando uma pessoa expressa o desejo de morrer, muitas vezes não é a morte física, mas o fim do sofrimento”, diz Dalva.
Questionada sobre o direito de escolha de um paciente pela eutanásia, a oncologista diz que é a favor da autonomia, que as pessoas deveriam ter o direito de escolher, “mas isso não significa que vou burlar a lei”, afirma, se referindo ao artigo 226 da Constituição Federal, que considera a eutanásia e a interrupção voluntária da gravidez crimes hediondos.
A médica faz questão de distinguir sua especialidade, os cuidados paliativos, da eutanásia. Por definição, a área de atuação dela tem como objetivo aumentar a qualidade de vida do paciente e cuidar dos sintomas: “cuidados paliativos deixam a vida da pessoa mais digna”. A eutanásia, por outro lado, é quando algo é feito, ou deixa de ser feito, visando eliminar a vida.
A próxima minissérie da Globo, Justiça, que estreia no dia 22, mostrou em seu teaser que o personagem de Cauã Reymond é preso depois de dar uma injeção letal na namorada, interpretada por Marjorie Estiano, a pedido dela, que ficou tetraplégica.
Para Dalva, tratar o assunto é muito importante. “Eu acho que todos os temas polêmicos e difíceis devem ser levados à população. Acho muito válido a TV aberta levar [o tema], claro que vai ter muita polêmica, mas isso serve para gerar debate”, opina.