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Ministério da Saúde recomenda que mãe e filho permaneçam juntos nas primeiras 24h após o parto

Especialista em obstetrícia e parto humanizado comenta os benefícios da orientação publicada nesta segunda-feira no Diário Oficial da União

Por Carolina Werneck
Atualização:

O Ministério da Saúde publicou, nesta segunda-feira, 24, a portaria 2.068, que recomenda que mãe e bebê devem ser mantidos no mesmo ambiente durante as primeiras 24 horas após o parto, desde que o bebê pese mais de 1,8 kg e seja considerado saudável. A decisão leva em conta o Estatuto da Criança e do Adolescente e recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nova portaria do Ministério da Saúde recomenda que mãe e bebê fiquem juntos nas primeiras 24 horas após o parto Foto: Pixabay

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Tayara Caminatti, de 28 anos, foi separada da pequena Alice, hoje com oito meses, assim que a bebê nasceu. Embora tenha nascido saudável, com 2,7 kg e 36 semanas de gestação - e, portanto, dentro dos limites de peso e tempo de gestação determinados pelo Ministério na portaria em questão -, Alice foi para o berçário e só chegou ao quarto em que a mãe estava várias horas depois do nascimento. "Eu gostaria que ela viesse diretamente para o meu colo e que eu pudesse amamentá-la de imediato. Gostaria que ambas sentíssemos o calor do corpo uma da outra. Esse é um momento muito marcante e eu mal a vi", relembra.

Alberto Guimarães, ginecologista, obstetra e idealizador do programa Parto sem Medo, concorda com Tayara. "Lugar de bebê saudável é no colo da mãe. Isso permite que as atenções de quem está responsável pelo cuidado do pós-parto seja voltado para a dupla e não apenas para o bebê", afirma. Ele explica que um dos maiores riscos que a mãe corre logo após o parto é o de hemorragia e que esse risco é minimizado pelo contato com o bebê, uma vez que esse contato ajuda na liberação de hormônios que têm efeito na contração uterina. Além do contato, a amamentação também é importante para estimular essa contração, de acordo com o especialista, de modo que é preciso dar à mãe a possibilidade de amamentar logo nas primeiras horas de vida da criança.

Do ponto de vista da saúde do bebê, o contato imediato com a mãe também é fundamental, uma vez que eles trocaram anticorpos e bactérias ao longo de toda a gestação, explica Guimarães. "Estar em contato com a mãe evita que a criança esteja em outra sala, em contato com as bactérias de outras pessoas contra as quais ela não tem proteção alguma. Contra as bactérias da mãe, a criança já está imunizada", diz. O bebê que é mantido próximo à mãe tem, portanto, menos chances de desenvolver infecções.

A medida do Ministério da Saúde é ainda mais significativo quando é considerada a conexão entre mãe e filho. "Quando um bebê nasce e a gente já o coloca no colo da mãe, em algum momento eles se olham e isso é sensacional de presenciar. Esse primeiro olhar entre eles vai falar muita coisa, pela vida inteira. É um momento de ouro", avalia o médico.

As lembranças das primeiras horas de maternidade sem Alice nos braços ainda incomodam Tayara. "Eu senti uma ansiedade imensa e não parava de perguntar por ela, o que acho que já prejudica, porque a orientação médica é para ficar calma devido à anestesia", afirma. Ela conta que vários familiares acabaram tendo o primeiro contato com a bebê pelo vidro do berçário. Ela lembra que mesmo o pai de Alice não conseguiu segurar a filha naquele primeiro momento. "O Jefferson não pode pegá-la em momento algum, só quando ela veio para o quarto. Nem foto com ela logo depois do parto ele tem", lamenta.

Para Guimarães, esse é um erro comum no pós-parto. "Esse é um momento em que a família pode praticar um pouco o cuidar e é possível inserir o pai na nova rotina, em vez de deixar tudo acontecer em um quarto separado e, depois, entregar a criança aos pais sem que tenha sido dada a eles a oportunidade de treinar com acompanhamento de profissionais", diz.

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A portaria divulgada pelo Ministério da Saúde é, de acordo com o médico, um avanço importante para que o país reavalie também outras questões relacionadas ao parto, uma vez que o parto natural permite que essas primeiras horas depois do nascimento sejam mais tranquilas para a mãe. "O modelo de nascimento por cesariana pressupõe que o bebê seja cuidado por alguém que não seja a mãe. Então, esse direcionamento do Ministério, agora, serve de pretexto para a gente rediscutir o parto adotado no Brasil", afirma.

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