Fisioterapia ajuda na reabilitação motora de mulheres após mastectomia

Universidade em São Paulo oferece aulas gratuitas e alia dança ao processo; inscrições vão até o fim do mês

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Por Ludimila Honorato
Atualização:
Mastectomia compromete movimentação dos braços; fisioterapia é aliada na recuperação. Foto: nattanan23/Pixabay

A prática de atividade física após a cirurgia decorrente do câncer de mama é fundamental para restabelecer os movimentos. A fisioterapia se mostra como o principal meio, mas é importante que os exercícios sejam feitos após liberação médica e sob orientação de um profissional. Na capital paulista, a Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) oferece aulas gratuitas para mulheres entre 18 e 65 anos e este ano, pela primeira vez, aliou a dança ao processo.

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O projeto de pesquisa é realizado na instituição desde 2010 e conta com a participação de alunos do último ano da graduação em fisioterapia. A professora Maria Elisabete Salina Saldanha, coordenadora da proposta, afirma que as técnicas de dança aliadas à fisioterapia visam trabalhar também a imagem corporal e a qualidade de vida dessas mulheres.

"Pensando em práticas integrativas, muito discutidas hoje na saúde, nós pensamos no trabalho com a dança porque poderia motivá-las de forma diferente, trabalhar essa parte funcional de forma mais lúdica, descontraída. Mas permanece os objetivos funcionais e a preocupação com a movimentação", explica a docente.

A fisioterapia é indicação recorrente para as mulheres que passam pela cirurgia de retirada do tumor na mama. A prática é ainda mais importante quando o procedimento retira toda a mama (mastectomia) e parte da região axilar. Mesmo quando a intervenção cirúrgica é menor, médicos recomendam fazer a reabilitação.

"Para uma paciente em quem a cirurgia foi pequena, a sequela pode ser maior dependendo de como ficou depois, se recebeu quimioterapia ou radioterapia, do processo de cicatrização. Tudo isso pode interferir na funcionalidade motora", explica o oncologista Daniel Gimenes, do Grupo Oncoclínicas. "Quando o tratamento é radical, que mexe no músculo peitoral e de forma profunda na axila, atrapalha a dinâmica do ombro, a força do braço e, aliado a isso, tem recomendação de não pegar peso", descreve.

Outra possível sequela da cirurgia é o inchaço do braço relativo ao lado que foi operado. O problema também pode ser amenizado com os exercícios. Segundo Maria Elisabete, todas essas consequências podem surgir anos após a intervenção cirúrgica.

Lucilene Mendes Pereira, de 51 anos, passou por 16 sessões de quimioterapia e mastectomia. Depois disso, foram mais 25 sessões de radioterapia, tudo ao longo de 2017. Ela conta que, "por relaxo", começou a fazer fisioterapia seis meses após a cirurgia. "Tentei fazer minhas coisas, voltar à rotina, mas percebi que eu não tinha meu braço normal do jeito que sempre tive", relata.

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No ano passado, ela fez várias sessões de fisioterapia no hospital onde se tratou, mas teve de interromper para realizar a reconstrução mamária em fevereiro deste ano. "Tudo que ganhei com a fisioterapia antes perdi agora."Ela se prepara para retornar aos exercícios e está na expectativa para as aulas oferecidas pela Unicid. "Me interessei porque tudo que agrega ao tratamento é bom. Acho que vai ser bem legal", diz Lucilene, que conheceu o projeto por meio de uma amiga e incentiva a prática até mesmo para melhorar o aspecto emocional.

O oncologista Gimenes também recomenda as atividades, mas o tempo entre a cirurgia e o início delas varia de uma mulher para outra. "Depende do tipo de cirurgia, da recuperação. Em geral, dois meses depois já pode, mas é o cirurgião quem libera", diz. Ele destaca que os exercícios físicos também ajudam durante a quimioterapia. Ele reconhece que incorporar movimentação em um momento como esse é difícil, mas pode colaborar com o tratamento e evitar perda de condicionamento.

Maria Elisabete pontua que o trabalho de fisioterapia com dança também visa melhorar a autoimagem das mulheres. Em uma pesquisa realizada com as participantes do projeto no ano passado, a dificuldade de aceitação devido à mudança da imagem corporal foi uma queixa comum entre elas. "Muitas relataram que o momento da fisioterapia é um momento só delas. Isso foi um dos maiores motivadores para trabalhar uma coisa diferente", diz a professora.

As vagas para participar do projeto, que vão até outubro, são limitadas e a participação é gratuita. Interessadas em se inscrever devem entrar em contato com a instituição pelo telefone (11) 2178-1240. As aulas ocorrem todas as quartas-feiras, das 12h às 13h20, na Unicid, localizada na Rua Cesário Galeno, 475, no Tatuapé, próximo à estação Carrão do Metrô.

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