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Divulgação de lipo LAD com permutas no Instagram é prejudicial

Promoção do procedimento estético por influenciadoras digitais é arriscado, principalmente, para autoestima de adolescentes

Por Bárbara Correa
Atualização:
A procura pela Lipo HD aumentou devido às divulgações nas redes sociais Foto: Pixabay/ jarmoluk

Dados da última pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS) revelaram que o Brasil é o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo. O silicone é o procedimento mais feito, seguido da lipoaspiração

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A procura pela segunda disparou nos últimos meses. No Google, a busca pelo termo lipo HD aumentou cerca de 350% de agosto até novembro de 2020 e, no Instagram, principal plataforma de divulgação da cirurgia, a hashtag #lipoHD possui quase 90 mil posts. 

O procedimento, também conhecido como lipo LAD, tem como diferencial criar “gominhos” na barriga. Porém, o cirurgião membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Luiz Haroldo Pereira, explica que toda lipoaspiração procura definir o contorno corporal. “No abdômen retiramos o excesso de gordura e evidenciamos os músculos abdominais. Ou seja, fazemos isso há muitos anos (...) Trata-se de um nome fantasia, como foi a ‘lipo light’ e ‘hidrolipo’”. 

Segundo o cirurgião plástico, o aumento na procura pela cirurgia pode ser atribuído às constantes publicações de personalidades conhecidas na internet que realizam o procedimento em troca de divulgação. Porém, além do aparelho utilizado no procedimento, o Vaser, não ser validado pela Anvisa, esse trabalho de promoção é proibido pelo Conselho Federal de Medicina

Impactos das permutas de lipo LAD

As permutas feitas por personalidades envolvendo a lipo HD também são tema de debate nas redes sociais. A influenciadora, ativista e fundadora do Movimento Corpo Livre, Alexandra Gurgel publicou um vídeo sobre isso, em outubro, que viralizou nas redes sociais, com mais de 750 mil visualizações. 

'Estão enaltecendo dor e sofrimento em prol de um corpo perfeito', diz a influenciadora Alexandra Gurgel Foto: Arquivo pessoal

As críticas giram em torno da falta de informação sobre os riscos e complicações da cirurgia nestas divulgações. Em entrevista ao Estadão, Alexandra contou que “os posts não foram só de blogueiras, cantoras famosas e ex-BBBs, mas também de páginas de fofoca que fizeram uma cobertura da lipo LAD, fazendo com que todo mundo quisesse fazer”. 

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Mas, afinal, qual é o problema de despertar esse desejo? A psicanalista e coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da Puc Rio, Joana Novaes, explica: “Essas ações individuais podem ser nocivas para o todo social. Quando não mencionam todas as informação, os riscos são banalizados. Cada vez mais cedo, vão surgir intervenções no corpo, sobretudo em adolescentes, para se sentirem aceitos e terem validação”. 

“Essa superexposição cria nos jovens um incômodo com o próprio corpo que, muitas vezes não tinham antes. Se não tivesse aquele modelo de barriga recorrente, talvez o adolescente estaria satisfeito com a sua. Incitar isso em um grupo que já têm questões muito comprometidas com a própria imagem corporal é muito prejudicial para a autoestima”, acrescenta ela. 

Alexandra explica que não se trata de proibir as influenciadoras de fazerem a cirurgia, mas sim de terem responsabilidade com o conteúdo compartilhado. “É uma faca de dois gumes, a pessoa quer ser real, desabafar sobre suas insatisfações e não quer esconder que fez uma lipo, mas é preciso questionar ‘até que ponto eu compartilhar minhas insatisfações não vai acabar gerando novas insatisfações pros meus seguidores?’”.

“Algumas pessoas até divulgam o ‘lado difícil’, o pós operatório, mas é tudo glamourizado, voltado para um ar de superação. Infelizmente, estão encapsulando aceitação em lipo LAD, envelopando cirurgia plástica em um discurso de autocuidado, enaltecendo dor e sofrimento em prol de um corpo perfeito”, afirma a influenciadora. 

Cuidados com a lipo LAD e riscos

Além dos impactos na autoestima, Luiz Haroldo reforça que a divulgação “exagerada”, sem informações sobre os riscos da cirurgia e dificuldades do pós-operatório, pode causar graves complicações. 

“Tem médicos retirando toda a gordura e surgindo graves consequências como necrose extensa da pele do abdômen e flancos. As complicações mais graves são necrose ampla de pele e até infecções graves ou septicemia. A cirurgia tem que ser feita em hospital, jamais em consultório”, afirma. 

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“O pós operatório envolve uso de cintas, drenagem linfática, recuperação em uma semana para trabalho, atividades físicas depois de 15 dias e o bom resultado só depois de 4 meses", explica

Rede social e autoestima

Para uma melhor relação dos usuários com as redes sociais, Joana recomenda acompanhar perfis diversos e “que te mostrem que você tem várias possibilidades de ser e estar no mundo, mais democráticas e inclusivas. Tudo na sociedade de consumo deve ser pensado através do consumo. Como espelhar uma ideologia? A partir das marcas que quero consumir e influenciadores que quero seguir. É assim que podemos atuar politicamente em um mundo digitalizado”. 

*Estagiária sob supervisão de Charlise Morais

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