Doenças do coração são as principais causadoras de mortes no mundo

Sociedade Brasileira de Cardiologia estima que uma morte ocorra a cada 40 segundos por este motivo

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Por Marcel Hartmann
Atualização:
Uma morte ocorre a cada 40 segundos ocorre por doença do coração, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Foto: Reprodução/Pixabay

No tempo que você leva para ligar o computador e abrir a caixa de entrada do e-mail, pelo menos cinco brasileiros morreram de uma doença do coração, como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC). É que uma morte ocorre a cada 40 segundos por esse motivo, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Doenças cardiovasculares lideram o número de óbitos no mundo. A incidência é o dobro em relação a todos os tipos de câncer ou mortes por violência.

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Para alertar sobre a importância dos cuidados com o coração, diversas campanhas de conscientização foram realizadas em todo o mundo no mês de setembro. No Brasil, algumas delas foram a ‘Setembro do Coração’, promovida pela SBC, e a ‘Setembro Vermelho’, lançada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida. 

Doenças do coração são uma verdadeira pedra no sapato para qualquer governo. No mundo, elas são responsáveis por 17,3 milhões de mortes anualmente, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para ter uma ideia, as mortes por malária, Aids e tuberculose chegam a 3,86 milhões a cada ano - ou seja, cerca de quatro vezes menos. Apenas no Brasil, a estimativa é de que quase 350 mil pessoas morreram dessa causa em 2015, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia.

“Há toda uma comoção acerca de outras causas de morte, mas as doenças do coração matam muito mais do que câncer, violência ou doenças infectocontagiosas”, diz Marcus Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Origens conhecidas. Apesar de ser uma grande dor de cabeça para médicos e o poder público, infarto, AVC e outras doenças cardíacas têm causas mais do que conhecidas pela ciência. Praticamente ninguém desenvolve uma enfermidade sem saber. Com a exceção de quem já nasce com problemas no órgão, os afetados por doenças cardíacas descuidaram de um dos principais fatores de risco: sedentarismo, obesidade, tabagismo, excesso de consumo de álcool, estresse ou má-alimentação.

A questão, portanto, não é encontrar um remédio maravilhoso, mas mudar o estilo de vida da população. “A saúde não bate à sua porta, ela se conquista”, resume Marcelo Sampaio, cardiologista do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida, responsável pelo ‘Setembro Vermelho’.

Engana-se quem pensa que só país rico sofre de problemas no coração. Isso era realidade décadas atrás, quando infecções matavam parte da população devido a problemas básicos no acesso a saneamento básico, comida, medicamentos e vacinas. No entanto, com o gradual desenvolvimento dos países, hoje muitas dessas barreiras foram vencidas. “Se no passado morríamos de desnutrição, hoje morremos de sobrepeso”, diz Marcelo Sampaio, também diretor do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, ao citar o crescimento nos índices de obesidade no Brasil. Aos poucos, a expectativa de vida mundial cresce, o que aumenta também as chances do surgimento de uma doença do coração.

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O Brasil, aliás, está entre os dez países com maior incidência, segundo a Organização Mundial da Saúde. Até 2040, deve haver um aumento de 250% dos casos, contra 200% na China e 180% na Índia. Em outras palavras, em algumas décadas vamos liderar um ranking nada agradável.

Quem mais sofre é a população de baixa renda. “É essa faixa que tem maior dificuldade de realizar atividades físicas, que trabalha excessivamente e que prefere uma alimentação gordurosa, já que a boa alimentação é, em geral, custosa e trabalhosa”, diz o cardiologista Marcelo Sampaio.

Mudar a dieta é um dos principais objetivos dos médicos. Alimentos industrializados, por exemplo, contêm muito colesterol, responsável por formar placas de gordura no sangue, o que dificulta o fluxo sanguíneo e eleva a pressão arterial. É por isso que crianças devem evitar esse tipo de comida, rica em sal e gorduras saturadas. Aliás, uma em cada 10 crianças no mundo está acima do peso, segundo a OMS, o que é um fator de risco para doenças cardíacas. A solução? Ingerir mais frutas, legumes e vegetais, além de evitar gorduras e preferir comidas naturais. Lidar com um obstáculo que é, por anos, assintomático, consiste no desafio. “Temos que tratar doenças que não têm sintomas e que as pessoas não dão tanto valor. É preciso mudar a mentalidade do brasileiro, no sentido de modificar o estilo de vida”, resume Marcus Bolívar Malachias, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.