Cuidado: nem todos estão aptos a ajudar pessoas com problemas de saúde mental

Motivados pelo Setembro Amarelo, muitos se voluntariaram nas redes sociais para ouvir quem precisa de ajuda, mas o trabalho não é tão simples assim

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Por Anita Efraim
Atualização:
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Apesar da intenção inicial dela ser divulgar a importância de procurar um profissional de saúde mental ou voluntários preparados, algo saiu errado no caminho: usuários das redes sociais passaram a compartilhar como uma maneira de se disponibilizarem a ouvir pessoas que precisassem de ajuda. 

Mas será que qualquer um está apto a ouvir pessoas com depressão, síndrome do pânico ou até potenciais suicidas? 

A psicóloga do Núcleo Paradigma, Joana Singer, explica que até para profissionais da saúde mental esse tipo de tratamento já é desafiador. “Não é qualquer profissional de saúde mental que se dispõe a trabalhar com pacientes que têm potencial suicida. Manejar um risco de suicídio já envolve para o profissional habilidades muito específicas”, afirma. 

Se voluntariar para ajudar sem nenhum preparo pode ser arriscado, de acordo com a psicóloga. “O que falamos para ela pode mudar o rumo de tudo”, explica. “Isso não quer dizer que ela vá se matar por causa do que o voluntário disser, mas esse voluntário pode acabar alimentando o comportamento de falar sobre isso, ameaçar, e não procurar soluções”. 

Há três fortes tendências quando um leigo no assunto conversa com um potencial suicida: o primeiro é “o abraço do afogado”, quando o voluntário, mesmo querendo ajudar, entra em desespero. A outra é quando a pessoa tenta transmitir uma mensagem positiva, o que causa uma sensação de solidão em quem tem um problema, e a ideia de que não foi compreendido. A terceira possível consequência é tentar analisar a situação, explorá-la e, o que alimenta o padrão autodestrutivo. 

O caminho correto é procurar um especialista em saúde mental. Além disso, é preciso que alguém da família acompanhe o tratamento. É o que explica Joana: “Nesse manejo de suicídio é importante ter um familiar ou uma pessoa muito próxima ciente de que existe esse risco. Essa pessoa precisa ser orientada a fazer uma monitoria positiva, que é monitorar, mas sem criar um supercontrole, uma supervigilância”. Se a situação se intensificar, é aconselhável procurar um psiquiatra.

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“Essas pessoas que se dispõe a ajudar potenciais suicidas, a recomendação que eu daria seria procurar centros de voluntários qualificados, porque eles ensinam o que você pode falar, até onde você pode ir se você não é profissional. Se você realmente está afim, além das redes sociais, vai procurar um treinamento”, aconselha Joana. 

Um desses espaços é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que precisa de novos voluntários para suprir todas as ligações que recebem. O objetivo do centro é dar apoio emocional e fazer prevenção do suicídio, e isso é feito com voluntários, que atendem 24 horas por dia. 

A diferença do CVV é que não basta só interesse: os voluntários passam por um processo de seleção e capacitação. Carlos Corrêa é voluntário e explica que é um procedimento delicado, pois o primeiro passo é a pessoa aprender a olhar para dentro de si mesma e se entender melhor. 

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“Esse voluntários tem que ter essa disponibilidade interior até de revisar esse preconceito, essa maneira de abordar os outros”, explica. Além disso, ele reforça que o papel de alguém que faz parte do CVV não é aconselhar os que ligam. “Se eu te der um conselho eu estou tirando a sua oportunidade de resolver a sua própria vida pela minha ótica. Nunca vai ser a melhor solução, a melhor solução vem da própria pessoa.”

Um dos princípios do centro é não julgar as pessoas que ligar. É importante ter atitudes respeitosas e de compreensão. “Nós oferecemos um momento de abertura para que a pessoa possa se abrir e falar das coisas mais íntimas que estão dentro dela. 

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