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Corpo perfeito e redes sociais: como as imagens podem atrapalhar o processo de emagrecimento?

Pinterest proibiu todos os anúncios com linguagens e fotos envolvendo produtos para perda de peso

Por Camila Tuchlinski
Atualização:
Quanto vale a busca pelo corpo perfeito? Foto: Pixabay/outsideclick

As imagens que são publicadas nas redes sociais acessam lugares misteriosos da nossa mente. Algumas podem nos motivar, outras, nos desanimar. E, ao mesmo tempo, quando o assunto é saúde, a busca pelo corpo perfeito parece encontrar alternativas que se apresentam como praticamente milagrosas nas dietas alimentares.  “A imagem corporal passa a ser o discurso propriamente dito e tudo que está atrelado a ela como estilo de vida, disposição, aceitação, beleza, felicidade e autoestima, seduz e estimula a tomada de decisão. Então, inicia-se o processo de emagrecimento, sendo ele necessário ou não, pílulas milagrosas, dietas restritivas, chás, cremes anti gordura, entre outros”, afirma a nutricionista comportamental Patrícia Cruz. O Pinterest proibiu todos os anúncios com linguagens e fotos envolvendo produtos para perda de peso, incluindo aqueles que idealizam ou depreciam certos tipos de corpos. “Divulgar fotos que estimulam o corpo perfeito não contribui para diminuir o número de pessoas que têm obesidade (IMC maior que 30kg/m2). Esse tipo de imagem apenas contribui para distúrbios da imagem corporal, que vem crescendo entre adolescentes”, ressalta a endocrinologista Lívia Marcela. O site de compartilhamento de imagens garante que não permitirá anúncios com depoimentos sobre perdas de peso ou produtos sobre emagrecimento ou que se referem ao IMC (Índice de Massa Corporal) ou índices similares. “Esta posição torna o Pinterest a única plataforma relevante que proíbe qualquer anúncio envolvendo perda de peso. É uma expansão da nossa política de anúncios que há muito tempo proíbe depreciações de formas físicas e perigosos produtos ou alegações sobre perda de peso”, afirmou comunicado oficial do Pinterest. Na avaliação de Lívia Marcela, os anúncios são apelativos e normalmente colocam casos de sucesso de perda de peso para atrair o público. “Uma pessoa ter tido sucesso não significa que você também terá. A imagem das redes sociais normalmente é pouco real, pois algumas utilizam recursos que a tornam mais "bonita". No consultório, muitas vezes eu explico que os remédios não "aceleram o metabolismo". Esses tipos de anúncios são muito comuns e estão presentes em medicamentos que não têm comprovação para perda de peso”, alerta a endocrinologista.

Patrícia Cruz trabalha com nutrição e comportamento alimentar e explica que encontra dois tipos de pacientes. “Aquele que tem obesidade, cujo objetivo é reduzir risco, isto é, alcançar um peso saudável, e também podemos ter um paciente com peso saudável, sem risco de saúde, sem nenhuma recomendação para redução de peso, que infelizmente é mais suscetível para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Uma pessoa que, ao longo do processo, desenvolveu um comer desordenado, caótico ou até mesmo uma anorexia ou bulimia nervosa”, avalia. A endocrinologista Lívia Marcela acrescenta que outra expectativa comum daqueles que buscam apoio nos anúncios milagrosos são os que almejam resultados rapidamente. “Explico que, na verdade, o processo de emagrecimento é muitas vezes lento, que não é apenas o remédio que contribui. Ele deve estar aliado à dieta saudável e exercícios físicos”, diz.  Além de sempre se basear na opinião de profissionais de saúde qualificados, como se proteger dos anúncios que prometem acabar com aquela gordurinha indesejável ou com a influência de imagens de um corpo perfeito, publicadas em redes sociais? “Sendo sincera, não vejo muita saída. Os estudos no mundo árabe são bons exemplos. A prevalência de transtornos alimentares era baixa. Atualmente, com a globalização, contato com a cultura ocidental (mídia), esse número vem subindo”, conta Patrícia Cruz.  Para a nutricionista comportamental, o desejo pela magreza e a insatisfação corporal fazem parte da sociedade. “Penso que é essencial esclarecer que o “corpo perfeito” não existe. Essa busca é cruel, incansável e a vida vai se resumir a isso. Que belo, feliz, bem sucedido, feio, triste estão dissociados da forma do corpo, liquidar de vez o ‘body shape’, a autocrítica por não se encaixar no padrão de beleza imposto”, conclui.

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