Toxina botulínica ajuda a tratar rigidez muscular, sequela comum do AVC

Substância age para relaxar o músculo, o que facilita o movimento e impede contrações involuntárias

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Por Ludimila Honorato
Atualização:
Toxina botulínica pode ser utilizada no tratamento de diversas condições, desde sequelas do AVC até bruxismo. Foto: Costas Baltas/Reuters

O acidente vascular cerebral (AVC) é a segunda maior causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ficando atrás da doença isquêmica cardíaca. O derrame cerebral ganha destaque neste 29 de outubro, Dia Mundial do AVC, e é provocado pelo rompimento ou obstrução de um vaso sanguíneo no cérebro. A ocorrência pode deixar algumas sequelas, entre elas a rigidez muscular, chamada pelos médicos de espasticidade. Para o tratamento, a toxina botulínica, popularmente conhecida como botox, é uma aliada junto a outros métodos.

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A espasticidade decorre de uma lesão no sistema nervoso central e pode acometer qualquer parte do corpo. Pessoas que sofreram AVC, tiveram paralisia cerebral, ficaram paraplégicas ou convivem com esclerose múltipla, por exemplo, têm risco de apresentar a condição.

"Na espasticidade, tem um aumento do tônus muscular, geralmente de maneira anormal, que prejudica o movimento. A aplicação de toxina botulínica é usada para que haja redução do tônus muscular a fim de facilitar o movimento", explica a neurologista Carla Moro, presidente do conselho fiscal e consultivo da​ Associação Brasil AVC (ABAVC​).​

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A toxina botulínica age como paralisante muscular, muito utilizada na estética para evitar linhas de expressão. Então, vai paralisar um músculo que já está rígido? Esta é a primeira dúvida que surge sobre o uso desse método.

A neurologista explica que a anormalidade muscular interfere na atividade motora e impede, por exemplo, que a pessoa estique o braço porque o músculo está tensionado. A substância, na dose adequada, vai agir para relaxar a região comprometida, uma vez que atua em um neurotransmissor para bloquear a ação de contração muscular. "A espasticidade pode não ser intensa, mas causar dor. A gente usa uma dose para reduzir a dor, vai fazer uma dose adequada para o que quer", diz.

Segundo Carla, até 40% das pessoas que sofreram AVC poderão ter alteração no tônus muscular. Destas, cerca de metade terá suas funções comprometidas. Atividades diárias como caminhar, escovar os dentes ou comer podem se tornar muito difíceis para quem fica com essa sequela.

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Sintomas da espasticidade

Carla enumera alguns sinais para se ficar atento: dor muscular, fadiga, contraturas musculares sem controle e espasmos à noite que atrapalham a qualidade do sono. A espasticidade também pode interferir na autoimagem da pessoa, uma vez que ela poderá se sentir desconfortável com movimentos incontroláveis. Isso pode levar também a quadros de depressão, segundo a especialista.

Diante desses sintomas, o médico fará uma avaliação baseada em uma escala para definir a tendência de a pessoa ter espasticidade. A detecção precoce é essencial, pois o agravamento pode acarretar, com o tempo, em encurtamento da musculatura e deformidade óssea. A neurologista explica que quanto mais jovem a pessoa for ou maior a lesão cerebral, as chances de apresentar alteração no tônus muscular também aumentam.

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Toxina botulínica para espasticidade

A neurologista afirma e estudos comprovam que quanto mais cedo se intervir com a toxina botulínica, menor serão as consequências da rigidez muscular, podendo, inclusive, se falar em prevenção. "Se eu espero a espasticidade se instalar, já terá problema biomecânico, o que dificulta o resultado", diz Carla.

Vale destacar que a toxina botulínica, embora tenha ação local, específica, é apenas uma das ferramentas para se lidar com espasticidade​. Profissionais da fisioterapia e da terapia ocupacional devem acompanhar o tratamento. Existem também medicações orais, mas, segundo a médica, agem em todo o organismo e têm efeitos colaterais.

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As aplicações de toxina botulínica para amenizar ou acabar com espasticidade têm cobertura pelos planos de saúde e são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). As injeções devem seguir intervalos de cerca de quatro meses e cada caso será avaliado para definir por quanto tempo a pessoa deve recebê-las.

O uso do produto para esse tratamento não é indicado para quem tem distrofias musculares, mulheres grávidas ou que estão amamentando, uma vez que não há estudos que avaliem a segurança para esses pacientes.

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