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Aumentar o tempo de exercícios na infância pouparia R$ 22 bilhões em saúde

Atividades físicas na infância evitariam que 340 mil jovens ficassem acima do peso na vida adulta

Por Marcel Hartmann
Atualização:
'Fazer as crianças se exercitarem mais pode salvar bilhões de dólares, o que é mais do que preciso para promover atividades físicas' diz Bruce Y. Lee, diretor do Centro Global de Prevenção à Obesidade do hospital John Hopkins Foto: Pixabay

Colocar seu filho para brincar com os amigos ou praticar um esporte não vai apenas deixá-lo mais calminho ao fim do dia. É, também, um investimento a longo prazo. No futuro, ele terá menos chances de desenvolver obesidade, diabete, câncer e doenças cardiovasculares. Como consequência, ele recorrerá menos ao plano de saúde ou ao Sistema ùnido de Saúde (SUS) e faltará menos no trabalho, gerando menos custos para a economia. 

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Vários estudos mostram que o sobrepeso infantil está associado a uma série de doenças na fase adulta - incluindo, aí, a obesidade e outras doenças crônicas. A explicação é o que os médicos chamam de ‘memória metabólica’ - quando nossos hábitos ensinam nosso corpo a trabalhar de uma forma e não de outra. Na prática, quando você acostuma o organismo da criança a não se exercitar e viver com sobrepeso, na fase adulta ela preservará as mesmas condições.

Essa relação foi evidenciada em um artigo publicado nesta semana na revista Health Affairs por pesquisadores da Escola Bloomberg de Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, instituição reconhecida no mundo inteiro por suas pesquisas em saúde. 

Os médicos viram que um aumento de 32% para 50% no número de crianças de oito a 11 anos fazendo 25 minutos de exercício por dia, três vezes por semana, evitaria R$ 22 bilhões de reais em custos com médicos e R$ 43 bilhões com perda de produtividade no emprego - quando o funcionário falta ou é afastado por doença e deixa de produzir riquezas para a economia. 

Além disso, essa mudança nos hábitos acarretaria em menos 340 mil jovens obesos ou acima do peso no país.

“A atividade física pode ajudar as crianças a manter um peso saudável e preveni-las contra a obesidade e o sobrepeso”, explica em entrevista ao E+ o médico líder do estudo e diretor do Centro Global de Prevenção à Obesidade, Bruce Y. Lee. “Crianças obesas ou com sobrepeso têm mais chances de continuarem assim na vida adulta. E um maior peso aumenta as chances de diabete, doenças do coração, câncer e outras condições que geram custos em saúde”, aponta. 

No estudo, os médicos usaram um programa de computador para simular as consequências financeiras do aumento da atividade física na infância. Informações de 2005 a 2013 do Serviço Nacional de Saúde dos Estados Unidos foram usadas como base para imitar condições da vida real, como expectativa de vida e incidência de doenças na população.

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O exercício na infância modula a 'memória metabólica', quando o corpo adquire um padrão de funcionamento e tem a tendência a engordar ou emagrecer pelo resto da vida, por exemplo Foto: Pixabay

Criança sedentária, adulto com sobrepeso. A memória metabólica começa antes de a criança nascer. “Alguns hábitos influenciam o comportamento de nossos genes. A grávida que é obesa e se alimenta mal tem mais chances de ter um filho obeso e que também se alimente mal”, diz Maria Edna de Melo, endocrinologista presidente da Associação Brasileira para os Estudos de Obesidade (Abeso) e coordenadora da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da USP. 

“A atividade física faz a glicose entrar mais facilmente para dentro da célula, então a gente precisa de menos insulina circulando no corpo. Sabe-se que insulina é um hormônio que estimula o crescimento, então pode estimular o crescimento de células cancerígenas”, exemplifica a médica. 

O experimento do Hospital John Hopkins é mais um a estabelecer uma relação cada vez mais investigada pela ciência: a de que nossa saúde é ‘transgeracional’ - isto é, sofre influência dos genes de nossos ancestrais, é modulada na gestação de nossa mãe e na infância, culmina na fase adulta e, em última instância, também dará as bases para a saúde de nossos filhos e netos, por meio de nossos genes. 

“O indivíduo que tiver uma vida saudável provavelmente terá também filhos com uma vida mais saudável”, aponta Marcelo Zubaran Goldani, pediatra professor de medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e médico do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. “Uma vez que eu ajude uma pessoa a sair do sedentarismo, a parar de fumar e a ter melhores condições, isso melhora a vida dela e a de suas futuras gerações”, afirma.

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Qual o melhor esporte para a criança? Bruce Y. Lee, líder do estudo do Hospital John Hopkins, esclarece que qualquer atividade física pode ser praticada, desde que faça o coração da criança bater mais rápido. Valem esportes como futebol até brincadeiras que envolvam corrida, como o querido pega-pega. 

Mas o mais importante mesmo é escolher uma prática que agrade à criança. Afinal, para fazê-la criar o hábito de se exercitar, é preciso que ela sinta prazer. 

Você pode sugerir, primeiramente, um esporte coletivo, que favorece a socialização, como futebol, vôlei, handebol ou basquete, por exemplo. Caso seu filho esteja acima do peso e sinta vergonha de fazer parte de uma equipe, Maria Edna, da Abeso, recomenda oferecer um esporte individual que ele goste. “Pode ser uma luta, por exemplo. O esporte aumenta a autoestima, e crianças nessa situação precisam disso”, diz. 

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O que os pais não podem deixar de lado é a boa alimentação, lembra Ronaldo Arkader, endocrinologista diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. “O ideal é aumentar o gasto energético e diminuir o aporte calórico. É uma questão de reeducação alimentar, de reduzir os doces e embutidos”, aconselha.

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