Aprenda a identificar e higienizar alimentos com excesso de agrotóxico

Consumidor deve preferir produtos da estação, evitar produtos com aspecto muito bonito e aguardar alguns dias antes de comer

PUBLICIDADE

Por Marcel Hartmann
Atualização:
Morango é uma das frutas que mais contém agrotóxicos, junto com o tomate. Foto: Reprodução/Pixabay

Na 'Olimpíada' dos países que mais consomem agrotóxico, o Brasil é ouro desde 2009. E, segundo dados de um relatório de 2015 do Instituto Nacional do Câncer (INCA), cerca de 70% dos alimentos consumidos no País tem aditivos químicos. Por ano, bebemos um galão de 5,2 litros deles. Evitá-los por completo é uma tarefa difícil. Contudo, você pode identificar sinais da presença excessiva dessas substâncias prejudiciais e retirá-las da camada mais externa da fruta, legume ou verdura adquiridos no supermercado. 

PUBLICIDADE

Antes de mais nada, saiba que chamamos de 'agrotóxico' uma miríade de venenos contra pragas, muitos com usos bastante distintos. Há tipos jogados apenas no solo, incorporados à parte interna do hortifruti ao longo de seu crescimento, enquanto outros são pulverizados por cima das frutas, o que torna a casca a parte mais vulnerável (mas não livra por completo a polpa). Portanto, as dicas a seguir servem para muitos casos, mas há, é claro, exceções. De toda forma, vamos lá: 

Preste atenção à cor do pedúnculo, o cabinho da fruta Procure no cabinho da fruta uma substância mais clara, como se fosse um pozinho branco. Se você encontrá-la, é sinal da presença de agrotóxico em excesso na região, explica Renato Tratch, professor de agronomia da PUC-PR. "É algo fácil de identificar no mamão e na banana. Por isso, o ideal é sempre tirar o pedúnculo", diz.

Prefira produtos da estação A safra é o período no qual a plantação tem todas as condições favoráveis para crescer. Com isso, agricultores podem 'aliviar' na hora de adicionar substâncias químicas às lavouras, já que o produto não precisa de tanta ajuda para se desenvolver. No entanto, fora da safra, a planta precisa de empurrõezinhos para sobreviver ao ambiente mais inóspito, o que exige a presença de uma maior quantidade de substâncias químicas."Se o produto está grande mesmo fora da safra, é porque foi usado muito agrotóxico", afirma a professora de nutrição da Faculdade Santa Marcelina (FASM), de São Paulo, Márcia Xavier Santos. 

Também para dar uma ajuda à plantação, agricultores plantam hortifrutis geneticamente modificados, mais resistentes aos obstáculos da mãe natureza. No entanto, transgênicos são conhecidos por receberem maior quantidade de agrotóxicos, segundo o INCA. 

Perfeição não existe Desconfie do belo. O agrotóxico é um veneno que protege contra o ataque de pragas. Portanto, um alimento todo bonitinho, sem manchas ou buracos com certeza está cheio de químico, explica a nutricionista Márcia Xavier Santos. 

"Em geral, são alimentos maiores e mais bonitos, enquanto que os orgânicos costumam ser menores". Ela também ressalta que o sabor não denuncia a presença de químico. "O que é comercializado hoje [com o nível de agrotóxico dentro da lei] não tem gosto diferenciado, tem o gosto da fruta." 

Publicidade

HIGIENE

Vegetais podem ser colocados de molho em água e vinagre para reduziro excesso de agrotóxicos e matar bactérias. Foto: Reprodução/Pixabay

Além de lavar o hortifruti em água corrente, há algumas dicas mais eficazes para retirar o excesso de agrotóxicos e matar bactérias presentes. Confira:

Coloque o produto de molho em vinagre, cloro ou água sanitária Esta dica é boa também para matar bactérias presentes na parte externa do alimento. No entanto, o hábito não limpa a polpa do produto e serve apenas para alguns tipos de agrotóxicos. 

Coloque o hortifruti de molho, de 15 a 20 minutos, em uma mistura de 1 litro de água e uma colher de cloro ou de água sanitária. Para verduras, o agrônomo Renato Tratch, professor da PUC-PR, aconselha colocar de 50 ml a 100 ml de vinagre na água. Espere alguns dias antes comer  Após comprar o produto, aguarde cerca de dois dias antes de ingeri-lo. É o tempo para assegurar que o consumidor não compre um hortifruti com aditivos químicos recém-aplicados, explica o agrônomo Renato Tratch. Chamado de 'intervalo de segurança', o período vai da aplicação do agrotóxico na colheita, para que o produto ganhe mais tempo de prateleira, à venda no supermercado. "O morango, por exemplo, é colhido a cada três dias, no máximo, mas às vezes o intervalo não é respeitado e a fruta vai para o supermercado antes do que deveria", afirma o professor da PUC-PR. 

PUBLICIDADE

Além disso, outro conselho é ingerir o alimento quando ele começa a enrugar ou ficar machucado, sinal de que o agrotóxico está perdendo efeito. "Quando a banana começa a pintar, é bom para comer", diz Tratch.

Prefira cozinhar, ferver ou assar  Altas temperaturas quebram as moléculas dos aditivos químicos e reduzem seu potencial danoso, explica Renato Tratch, da PUC-PR. Esta é a melhor opção para reduzir a atuação de agrotóxicos, sobretudo em alimentos que têm o químico também na parte interna. 

Devo comer a casca? Aqui, reside uma polêmica: a casca tem muitos nutrientes importantes, mas também apresenta uma grande quantidade de agrotóxicos. "De forma geral, recomenda-se retirar a casca", diz Renato Tratch, da PUC-PR. 

Publicidade

No entanto, a nutricionista Márcia Xavier Santos, professora de nutrição da Faculdade Santa Marcelina, afirma que o veneno, muitas vezes, alcança também a parte interna, então retirar a pele não faz tanta diferença. "A casca da maçã é rica em fibras, importantes para o funcionamento do intestino e para o controle do colesterol. Tirar a casca não evita o consumo de agrotóxico", afirma.

Bônus: cera na maçã

Por lei, maçã brasileira não recebe cera comercial. Foto: Reprodução/Pixabay

Você talvez tenha visto na timeline um vídeo no qual uma maçã recebe água quente e começa a soltar uma camada branca de cera, supostamente cancerígena. Pode ficar tranquilo. Maçãs brasileiras não recebem nenhuma aplicação desse tipo, explica Lucimara Antoniolli, engenheira agrônoma e pesquisadora em tecnologia pós-colheita na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

"O Ministério não permite. Tanto é que as empresas não têm um sistema de aplicação de cera na sua linha de produção, já que é preciso tecnologias para isso", afirma. 

A cera vista no vídeo ajuda a reter a perda de água, o que conserva o alimento por mais tempo. No Brasil, essa camada extra de proteção costuma ser colocada apenas em produtos cítricos, como laranja ou limão (por isso eles costumam ser brilhosos). No entanto, eles não são prejudiciais. "As ceras são comestíveis. Até o detergente usado para limpar as frutas, na hora da lavagem, é próprio para consumo humano, não é como um detergente de cozinha", ressalta Lucimara, da Embrapa. 

Todas as frutas produzem naturalmente uma cera - veja a camada brilhosa da uva escura, por exemplo. No caso da que é aplicada comercialmente em frutas cítricas, a base costuma ser de carnaúba, uma palmeira típica do nordeste, ou cera de abelha mesmo. Portanto, fique tranquilo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.