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‘Agosto Dourado’: a importância de apoio para uma amamentação e o vínculo mãe-bebê mais forte

A amamentação é uma fase muito importante para o bebê, entretanto, especialistas alertam que é preciso ter atenção à saúde mental das mães e estabelecer uma rede de auxílio com amigos e familiares próximos

Por Jéssica Lopez
Atualização:
A engenheira eletricista Verônica Marin-Kramer amamentando a pequena Anastasia, com três meses. Foto: Arquivo Pessoal

Uma das fases mais importantes da vida de uma criança é a amamentação. Além de ser cientificamente comprovado que o leite materno é o melhor alimento para bebês de até dois anos de idade, deve ser a nutrição exclusiva até os seis meses. Em virtude da riqueza de nutrientes que se tem no leite materno, a Organização Mundial da Saúde (OMS), designou a cor dourada no mês de agosto para incentivar o aleitamento, que está relacionada ao padrão ouro de qualidade que o leite vindo das mães possui. 

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Como a chegada do bebê, a amamentação também é uma fase muito esperada pela maioria das gestantes. Durante o processo que antecede o parto há uma preocupação com a alimentação, condições físicas da mãe e as melhores preparações para receber o bebê. Entre tantas mudanças e atenções antes direcionadas à mãe, após dar à luz, esses cuidados são direcionados à criança, que agora precisa de acolhimento. Entretanto, é necessário pensar na saúde mental dessa nova mãe, que sofre com mudanças físicas e também psicológicas. 

Segundo a psicóloga Myriam Albers, terapeuta na Clínica Maia e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, os cuidados antes da gestação são determinantes para uma gravidez tranquila e um processo de amamentação que aconteça dentro da normalidade. "O que nós acompanhamos, principalmente em questão de atendimento clínico, é que muitas vezes não há um preparo emocional para isso. Se a gestante não tem nenhum problema quanto a saúde mental, leva a gestação de uma maneira mais tranquila. Por consequência, a amamentação acontece de uma maneira mais natural”, ressaltou Myriam. 

A psicóloga continua dizendo que é preciso pensar nas formas que a gestante está conduzindo a gestação, porque nessa fase já é possível ter uma avaliação de como será a amamentação. 

O ato de amamentar além de ser uma forma de criar vínculos entre a mãe e o bebê, também é benéfica para que todo o equilíbrio químico do corpo da mulher volte aos padrões pré gestação e consequentemente sintomas como estresse e cansaço sejam atenuados, conforme comenta a nutricionista Fabiana Guimarães, mestre em saúde da mulher pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "A amamentação é algo fisiológico, que ocorre de forma natural na gestação. A mãe produz o leite, amamenta e esse processo ajuda muito na regulação do organismo, para que a mulher volte ao peso pré gestacional e libere os hormônios do relaxamento, de bem-estar. Consequentemente diminui o estresse que está aumentado nesse período”, pontua Fabiana. 

A nutricionista continua dizendo que além de todos esses benefícios, amamentar proporciona que todos os órgãos da mulher funcionem de forma íntegra. Interromper esse processo tomando algum medicamento é mais uma substância que é jogada dentro do corpo da mulher, num organismo já em mudança intensa. 

Manter uma saúde mental equilibrada, no entanto, requer alguns cuidados a serem tomados pela recém mamãe. Zelar pela tranquilidade antes do parto é o primeiro deles que pode mitigar uma série de acontecimentos, principalmente em mulheres que tiveram gestações não planejadas ou sofreram em algum ponto da vida com transtornos como ansiedade, depressão e outras doenças, segundo Myriam. “A gestante que não teve acesso a cuidados antes da gravidez pode abrir um quadro ansioso e até chegar à depressão pós parto, que pode vir ou não com sintomas psicóticos e interfere tanto na qualidade de vida da mãe, quanto na do bebê”, continua a psicóloga. 

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Uma ajuda que vale ouro, tanto quanto o leite, é estabelecer uma rede de apoio com amigos, parentes e o parceiro por perto, dividindo as tarefas de assistir ao bebê e descansando sempre que for possível. Segundo Myriam, a ajuda de pessoas próximas a essa nova mãe pode auxiliar na identificação de sintomas e comportamentos que não são normais no período de amamentação e ao detectar sinais agudos, o indicado é consultar um profissional.  “O ideal é perceber que qualquer alteração de humor durante a gravidez, e, perante qualquer desconforto emocional, procure ajuda”, ressalta a psicóloga. 

Verônica com a pequena Anastasia Foto: Arquivo Pessoal

A engenheira eletricista Verônica Marin-Kramer, mãe da pequena Anastasia, de 3 meses, conta que sempre quis amamentar e que a ajuda da mãe e de outras mulheres da família foi determinante para ter paciência durante todo o processo. “Eu sempre quis amamentar, acredito que a amamentação gera um lindo vínculo entre mãe e filho, e fico muito orgulhosa de poder produzir um líquido tão rico para a alimentação dela. Eu perguntei o máximo que pude para minha própria mãe e outras mulheres da família que amamentaram. Fisicamente, eu confiei que meu corpo iria fazer o seu papel, mas fiquei feliz quando, ao fim da gravidez, comecei a perceber algumas gotinhas de colostro, sabia que estava no caminho”, comenta Verônica. 

A nutricionista Fabiana Guimarães, no entanto, ressalta que ter uma boa nutrição também contribui para que a amamentação flua de forma saudável. “Antes da gente pensar em alimentos específicos, o ideal é que a alimentação dessa mãe seja comida de verdade. Então, que a base da dieta sejam frutas, verduras, carboidratos integrais que moram na natureza, proteínas magras, ovos, lácteos. Diminuir a ingestão de alimentos minimamente processados, açúcares, adoçantes e emulsificantes que acarretam um prejuízo para o bebê", ressalta Fabiana. A nutricionista salienta que quando se nutre o corpo da mulher de forma correta sintomas como fadiga, cansaço e exaustão mental são atenuados. 

O médico Gustavo Moreira, pediatra do Instituto do sono, diz que é importante a divulgação de campanhas publicitárias para o estímulo ao aleitamento materno e que através desse conteúdo, muitas mulheres podem ser ajudadas no processo de adaptação com a nova rotina. “Muitas vezes a dificuldade está presente, com isso, pode acontecer uma pressão muito grande, principalmente na mãe nova. Ficam naquela: 'têm de dar de mamar, tem de dar de mamar’ e isso acaba tendo o efeito negativo, acaba gerando mais estresse”, pontua o pediatra. 

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Gustavo ainda diz que ter um ambiente calmo e tranquilo é o ideal e, sempre que for possível, a mãe deve dormir junto com os períodos de sono do bebê. A sincronia  de repouso é imprescindível para a mulher produzir leite. “O importante nesse período é estabelecer uma rotina. Ter horários para dormir e acordar, tomar bastante líquido, evitar afazeres domésticos, não ficar saindo e aproveitar os ciclos de sono do bebê para descansar”, ensina Gustavo Moreira.

Entender que essa é uma fase que exige resiliência também é muito importante. Verônica conta que ser mãe de primeira viagem é um desafio, mas vivendo pacientemente e aprendendo com a pequena Anastasia, uma nova forma de conhecimento está acontecendo. “Ter um nenê recém nascido, ainda mais sendo mãe de primeira viagem, é com certeza estressante. Amamentar foi complicado nas primeiras semanas, é um processo dolorido e não apenas eu estava aprendendo, ela também estava. Demoramos algumas semanas para nos adaptar, ela perdeu peso, o que, apesar de ser normal, gera uma preocupação.” 

A engenheira conclui dizendo que Anastasia está crescendo dentro das curvas esperadas para sua idade e que amamentar já se tornou parte natural o dia a dia. 

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