Acupuntura é eficaz para amenizar todos os tipos de estresse
Em casos mais graves, tratamento alivia tensões ao integrar acompanhamento psicoterapêutico

A acupuntura faz parte da medicina tradicional chinesa, que busca compreender cada indivíduo em sua totalidade. Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Seria difícil encontrar alguém que nunca tenha sofrido de estresse. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ele afeta 90% das pessoas no mundo, mas é preciso diferenciar uma reação rotineira comum do estresse de verdade. Este, que se apresenta em quatro fases, pode ser tratado, integral ou parcialmente, com acupuntura.
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"Hoje, as pessoas estão tão estressados que, quando vão ao médico, começam a tomar um monte de medicamentos. Vejo que a própria população está descontente com isso e quer buscar uma solução não medicamentosa", avalia o acupunturista André Tsai, presidente do Colégio Médico de Acupuntura de São Paulo. Ele pondera que a técnica chinesa "não vai tratar tudo", mas melhora o estado da pessoa, ainda mais quando unida à medicina ocidental.
Terapia complementar disponível no Sistema Único de Saúde, a acupuntura faz parte da medicina tradicional chinesa, que busca compreender cada indivíduo em sua totalidade. Segundo essa vertente, as doenças são causadas por desequilíbrios entre o yin e o yang, cujos fatores são climáticos, emocionais e de estilo de vida, explica Tsai.
Uma vez que o estresse desencadeia sintomas como insônia, dor de estômago, falta de concentração e fadiga crônica, por exemplo, o acupunturista vai analisar cada indivíduo e aplicar um tratamento específico. Aqui, entram os pontos energéticos em que serão aplicadas as finas agulhas.
Nas primeiras abordagens, Tsai afirma que pode-se usar pontos genéricos que servem para todos os tipos de estresse. Chamado de 'abertura dos quatro portões', o protocolo foca em quatro pontos bilaterais, nas mãos e nos pés, que vão se ligar ao intestino grosso e ao fígado. Além desses, coloca-se uma agulha em um ponto extra, no meio das sobrancelhas, que engloba cabeça e pescoço.
Conforme o tratamento for avançando, há pontos específicos para pessoas que sofrem com baixa concentração, problemas gástricos ou dores musculares. "A acupuntura trata estresse, ansiedade, distúrbios do sono, mas é um tratamento que tem de resgatar a causa da desarmonia entre yin e yang, é preciso identificar o causador do desequilíbrio", diz Tsai.

As finas agulhas são inseridas em pontos energéticos específicos que se conectam com alguma parte ou órgão do corpo. Foto: Unsplash/@antonikachanel
Para chegar a esse equilíbrio, a técnica chinesa atua na redução dos níveis de cortisol no organismo, hormônio que eleva o estresse. Junto a isso, há liberação de serotonina no cérebro, que dá sensação de bem-estar e relaxamento.
Tsai explica que alguns casos de estresse precisam de intervenção psicológica ou psiquiátrica. "O paciente pode ter quadro de pânico em que a abordagem medicamentosa é necessária. Não podemos ser cegos e não ter essa conversa com a medicina moderna", afirma.
A psicóloga Marilda Lipp diz que a acupuntura é muito utilizada no Instituto de Psicologia e Controle do Stress (IPCS), do qual é diretora. Ela também avalia que o efeito é limitado. "[A acupuntura] resolve sintomas, mas no psicológico entra o tratamento psicoterapêutico."
Fases do estresse
Marilda Lipp explica que há quatro fases do estresse e, para todas elas, a acupuntura ajuda no equilíbrio do organismo. Confira a seguir cada uma delas:
1ª fase - alerta: ocorre quando a pessoa se depara com algum enfrentamento que exige esforço mental, seja um momento difícil ou um acidente. "Não é nociva, na verdade ajuda a gente", diz Marilda. Os sintomas dessa fase são tensão muscular, coração acelerado, irritabilidade, mais intolerância. Um sintoma sutil que poucos percebem é a respiração superficial, que ocorre apenas na parte de cima dos pulmões. "Isso não oxigena o cérebro e vem a irritabilidade. Se as pessoas soubessem identificar, poderiam respirar profundamente e neutralizar."
2ª fase - resistência: aqui, as pessoas começam a resistir ao que está acontecendo ao redor. Os dois sintomas mais frequentes são acordar de manhã cansado e dificuldade com memória imediata. "Nessa fase, as pessoas normalmente conseguem se recuperar e não têm problema. Se o fator estressor continuar, entra em fase patológica", explica Marilda.
3ª fase - quase exaustão: "Você começa a ter dificuldade com sono, ter desânimo, não tem vontade de fazer as coisas", detalha a psicóloga. Nesse estágio, o organismo fica enfraquecido e torna-se mais fácil ficar resfriado, por exemplo.
4ª fase - exaustão: segundo Marilda, "é a pior fase que existe", pois o organismo está debilitado. Normalmente, os casos de depressão estão associados, bem como outras doenças às quais as pessoas são suscetíveis podem se desenvolver, como pressão alta, vitiligo e psoríase.
"Todo mundo passa pela duas primeiras fases. Sempre terão desafios para enfrentar, às vezes até coisa boa", afirma a especialista. Ela explica que o estresse positivo ocorre na primeira fase, em que se produz adrenalina e há ânimo. Como exemplo, ela cita o nascimento de um filho, que pode ser um momento maravilhoso, mas frustrante e que exige muito esforço do organismo para se adaptar.
Marilda reforça a importância de entender essas fases para que a pessoa tente administrar os enfrentamentos de forma afirmativa. "Às vezes, ela tem uma vida tranquila, mas se não tem estratégia, fica prejudicada quando o evento ocorre. É sempre bom aprender o enfrentamento, é uma forma de prevenção", afirma.