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Suplementos anti-idade prometem retardar o envelhecimento; mas eles realmente funcionam?

Especialistas questionam sua eficácia e apontam riscos do consumo excessivo

Por Pedro Prata
Atualização:
Você já pensou em consumir suplementos anti-idade? Foto: @WerbeFabrik/ Pixabay

Não se iluda: muitos exploradores do passado tentaram e nenhum foi capaz de encontrar a fonte da juventude. A lenda serve de metáfora para pessoas que se valem de produtos de suplementação alimentar para retardar os efeitos do envelhecimento, os chamados suplementos anti-idade. O E+ conversou com especialistas para saber qual é a ação no organismo de algumas substâncias encontradas nesses produtos e se eles proporcionam os efeitos que as pessoas desejam.

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A professora Ligiana Pires Corona, do Laboratório de Epidemiologia Nutricional da Universidade Estadual de Campinas, informa que a maioria desses suplementos são constituídos de nutrientes com ação antioxidante. Isso quer dizer que, entre outras coisas, combatem o excesso de radicais livres no organismo, responsáveis pelo envelhecimento precoce das células. É o caso, por exemplo, da coenzima Q-10, do selênio e da glutationa.

“Esse envelhecimento precoce ocorre não somente na pele, que é o que vemos, mas também em outras células no corpo como, por exemplo, músculos e células imunológicas. Então, os suplementos à base de nutrientes antioxidantes poderiam auxiliar a combater esse envelhecimento celular”, explica Ligiana.

No entanto, ela ressalta que a ingestão de suplementos é apenas uma medida auxiliar na busca por envelhecimento mais saudável e só surte efeito acompanhada de alimentação saudável e atividade física. “O mercado de suplementos busca sempre vender saúde e beleza ao alcance de uma ‘pílula mágica’, e sabemos que isso não é possível”.

Outros especialistas são ainda mais enfáticos. É o caso do doutor Nelson Lucif Jr., médico nutrólogo responsável pelo departamento de geriatria da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Ao se referir ao termo anti-idade, ele brinca que “tem gente procurando milagre e tem gente ‘vendendo’ milagre”. Ele também explica que a base para atenuar os efeitos do envelhecimento é a prática de atividade física e alimentação balanceada.

Atividade física é fundamental para envelhecimento saudável Foto: Werther Santana/ Estadão

“Você precisa saber o que você quer, qual o objetivo que você quer atingir e a base de tudo é alimentação e atividade física. Aí você pode pôr algumas substâncias para auxiliar nessa ou naquela função. Isso é o que existe com lógica e com alguma ciência em si”, disse.

O consenso entre todos os especialistas com os quais o E+ conversou é que os suplementos deveriam ser usados para aquilo que o seu nome já diz: uma complementação na dieta diária. Membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Marcelo Broenstein ressalta que suplementação alimentar só deve ser indicada por médicos a pacientes que não conseguem obter todos os nutrientes diários de uma dieta saudável.

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“Isso tem sempre que ser orientado por um médico ou nutricionista, não pode ser algo assim de ir na farmácia e tomar por conta própria. E é preciso tomar muito cuidado com médicos mal-intencionados que dizem que suplementos e hormônios podem rejuvenescer, isso não existe”, defendeu Marcelo. Ele ainda falou que pessoas da terceira idade geralmente são mais suscetíveis a deficiências em sua dieta diária, por isso é comumente prescrito suplementação a elas.

Associações científicas e agências reguladoras estabelecem uma quantidade diária ideal de consumo de tais nutrientes e os suplementos só são recomendados para quem apresenta ingestão abaixo da quantidade diária ideal. Por isso é fundamental que, antes de comprar este tipo de produto, é fundamental que se consulte um médico especialista.

Todos os nutrientes de que precisamos se encontram em uma alimentação balanceada Foto: RitaE/ Pixabay

Doutor Nelson Lucif Jr. argumenta que experiências científicas comprovam que o organismo elimina o excesso de vitaminas do tipo hidrossolúveis através da urina. Dessa forma, suplementos constituídos desses nutrientes podem simplesmente não fazer efeito algum. Já no caso de vitaminas do tipo lipossolúveis, o excesso pode se depositar no organismo e, dependendo de qual vitamina se está falando, causar intoxicação.

O médico nutrólogo do departamento de gastroenterologia da Universidade de São Paulo, professor Joel Faintuch cita os efeitos colaterais que a ingestão em excesso de alguns nutrientes encontrados em suplementos anti-idade pode causar: “Para alguns minerais já existem efeitos bem caracterizados. Por exemplo, a arginina pode dar diarreia e baixar a pressão arterial; a vitamina A pode causar dor de cabeça e hipertensão intracraniana; vitamina C pode levar a pedra nos rins; coenzima Q-10 pode levar a intolerâncias gastrointestinais”.

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Joel aponta que muitos suplementos anti-idade têm enfoque na pele, uma vez que é o aspecto mais visível do envelhecimento. Ele aponta que esses suplementos podem melhorar a aparência da pele enquanto forem consumidos, mas isso não quer dizer que a pele ficará mais jovem. E ainda há um problema: faltam estudos que garantam que a ingestão desses suplementos não cause danos colaterais a longo prazo.

“Ainda não existem estudos sobre o consumo por tempo maior do que seis meses, mas as pessoas querem tomar para sempre e isso não há como garantir que seja saudável. E é aí que a ciência fica com o pé atrás”, disse o médico.

No caso da pele, o médico nutrólogo ressalta um campo de estudo do qual ele faz parte: o microbioma humano, comunidade de microorganismos que vivem no nosso organismo. Ele afirma que o microbioma intestinal, isto é, que vive dentro do nosso intestino, tem influência em muitas funções do corpo. Entre elas, o controle da quantidade de fenol, substância presente em nosso sangue que prejudica as células da pele.

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Joel afirma que é possível ingerir prebióticos, simples nutrientes que vão servir de alimento para os microorganismos benéficos dentro do nosso intestino e que vão ser responsáveis por diminuir a quantidade de fenol no sangue. O doutor diz que esse tipo de conhecimento é antigo e não apresenta riscos a longo prazo para a saúde humana como pode apresentar a ingestão excessiva de nutrientes de suplementação alimentar.

O cerne da questão é: suplementos anti-idade são compostos de vitaminas e nutrientes que nosso corpo utiliza para suas funções, por isso eles podem, sim, ter algum efeito benéfico no organismo. Porém, nenhum suplemento fará mágica e trará seu corpo jovem de volta. Além de ser impossível, pode ser perigoso pois excesso de nutrientes pode fazer mal à saúde. Não adianta fugir, somente alimentação balanceada e prática cotidiana de atividade física retardam as marcas do envelhecimento.

*Estagiário sob supervisão de Charlise Morais

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