A minha hora favorita para fazer nada é o fim da tarde. Quando a luz de um sol cansado, pronto pra dormir, pinta a vida de amarelo cor de aconchego, de quem cumpriu a labuta com orgulho e se prepara para descansar. Gosto de parar um instante e sentir a tarde cair, escorrer de fininho por mim. Eu posso estar feliz. Posso estar triste, desesperada, aos prantos. Posso estar na expectativa de um grande momento, nos cacos de uma dor. O fim da tarde sempre irá chegar, e partir. Mesmo que as nuvens encubram o sol e minha doce luz amarela. Mesmo que chova ou vente forte. Mesmo que eu não queira. Ou já não esteja aqui. O dia irá amanhecer. Será longo e gordo. E o fim da tarde virá de mansinho, anunciando uma noite longa e gorda, e um novo dia virá. Somos nós que corremos. Os dias são sempre iguais. As horas não mudam o caminhar.
Tirar alguns minutos para fazer nada ajuda a perceber isso. A nossa insignificância diante da vida como um todo. Da natureza e do universo. Somos apenas uma parte mínima de uma enorme e complexa engrenagem. E justamente por isso, é nosso dever viver da melhor forma possível. Dar o melhor de nós para nós mesmos e para os que estão à nossa volta, porque para eles não somos insignificantes, somos muito. Devemos agradecer e fazer valer cada instante por aqui. Viver por inteiro. Que é infinitamente melhor do que viver pela metade. Porque mais um fim de tarde está por vir. Mais uma noite. Outro dia. Outra tarde. E sempre será assim.