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Opinião|Primeiro pai que ganhou direito à guarda compartilhada no Acre fica sem o filho

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Atualização:

O médico Marcelus Motta Negreiros, 42 anos, comemorava há uma semana uma vitória inédita na justiça do Acre: foi o primeiro pai do estado a conseguir a guarda compartilhada do filho desde que entrou em vigor a lei 13.058, que estabelece que pai e mãe têm direito ao mesmo tempo de custódia física dos filhos e de se revezar de forma igual nos seus cuidados e responsabilidades. No último domingo, 28/06, dia de buscar P., 7 anos, para a primeira semana debaixo do mesmo teto depois de um ano e meio de separação, a surpresa: o menino não estava na casa da mãe.

 Foto: Estadão

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"Quando cheguei o porteiro falou que eles tinham saído. Minha ex-mulher não atende os meus telefonemas e nem me dá uma satisfação sobre o paradeiro do nosso filho", conta. Marcelus e sua advogada recorreram ao plantão judicial e, em companhia de um oficial de justiça, foram tentar encontrar a criança na casa dos avós maternos. "O avô de P. confirmou que a filha tinha sumido com o garoto e afirmou que estava tentando localizá-la" afirma a advogada de Marcelus, Cláudia Marçal. O caminho foi fazer um boletim de ocorrência por descumprimento de ordem judicial e por cárcere privado de menor e pedir a busca e apreensão da criança - solicitação ainda não apreciada pela justiça.

Marcelus conta que desde que se separou da ex-mulher, a também médica Márcia de Vasconcelos, não conseguiu passar um dia sequer sozinho com o filho. "Vejo P. em caráter prisional, sempre na área comum do prédio da mãe,  por quatro insípidas horas por semana e em sábados alternados por insuficientes três horas. Ela só me deixa vê-lo acompanhado de uma "babá-vigia", escolhida por ela.  Não sou um marginal", afirma. Marcelus confessa que tem medo que a justiça demore a tomar uma providência que garanta que seu direito de cuidar do filho seja respeitado.

O blog telefonou para a casa de Márcia em Rio Branco, no Acre, lugar marcado para que Marcelus buscasse o filho no último domingo, e assim que se identificou recebeu como reposta um lacônico "não falo da minha vida particular." Quando pedi para que desse sua versão para o caso e perguntei se iria acatar a decisão judicial da guarda compartilhada, Márcia respondeu com um "boa noite" e desligou o telefone. A advogada dela, Orieta Santiago, não atendeu à reportagem ou retornou os telefonemas. Marcelus procurou P. na escola e foi informado que o menino não tinha ido à aula. A ex-mulher, coordenadora médica do SAMU, o Serviço Médico de Urgência do Acre, também não teria ido trabalhar na última segunda, 29/06, segundo o ex-marido.

"Eu acredito que ela tem plena certeza da impunidade por ser filha de um desembargador aposentado" afirma a advogada do pai, Cláudia Marçal. "Se fosse uma lavadora ou uma empregada doméstica que estivesse descumprido uma decisão judicial algo já teria sido feito", completa.

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Dados do IBGE mostram que antes da lei, a guarda compartilhada quase não era concedida aos casais divorciados. Segundo estatísticas dos registros civis de 2012 apenas 6,82% dos 224.451 casais separados dividiam a guarda da criança. Após o divórcio, 85,72 das mães tinham a guarda dos filhos e apenas 5,62% dos homens gozavam do mesmo privilégio. Ainda não há dados que apontem uma mudança nesse quadro desde a mudança na lei.

A advogada Cláudia Marçal lamenta que a primeira decisão judicial do estado determinando a guarda compartilhada obrigatória tenha sido desrespeitada dessa forma. "É um retrocesso", afirma. "A maior vítima da alienação parental, da proibição do contato com o pai é o P.", completa. Já o fundador da Associação Brasileira pela Igualdade Parental, o administrador de empresas Roosevelt Abbad, afirma que, infelizmente, a alienação parental ainda não é punida exemplarmente. "Fugir ou mudar de cidade é um artíficio sempre usado para tentar impedir o compartilhamento da criação dos filhos", garante.

Em sua página no Facebook, o médico Marcelus Motta Negreiros publicou a foto do filho e um desabafo: "P. precisa de pai e mãe. E não abrirei mão do direito que ele tem a essa convivência. Estou enfraquecido em poucas partes, fortalecido em muitas outras, mas com a certeza de que só vou parar na morte."

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Opinião por Rita Lisauskas

Jornalista, apresentadora e escritora. Autora do livro 'Mãe sem Manual'

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