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Ser mãe é padecer na internet

Opinião|'Eu sei o quanto eu errei e o quanto eu precisei errar para aprender', diz Felipe Neto

Em entrevista ao blog, ele fala sobre mudanças em seu canal e sobre seus posicionamentos políticos

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Atualização:

Foto: Reprodução Instagram

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Há algumas semanas recebi uma mensagem de um telefone que eu não tinha registrado entre os meus contatos. Era de Felipe Neto, 32 anos, 39 milhões de seguidores no YouTube. Ele tinha meu número pois fazemos parte de um grupo de Whats app que discute o noticiário, os rumos do país e que se apoia sempre que necessário. Felipe queria mostrar para mim e para a minha audiência suas preocupações, comprometimentos e o quanto tenta, a todo custo, que o discurso de ódio, xingamento, ofensas de qualquer estilo não permeiem o conteúdo do seu canal.

Sua principal motivação era fazer com que eu revisse as críticas que fiz a ele em um texto publicado aqui nesta coluna em 2018 (escrevi uma nova coluna sobre ele também hoje, e é essa que eu gostaria que fosse lida e compartilhada, já que a antiga envelheceu mal graças ao próprio Felipe). "Mesmo com toda a raiva que o texto me causou, mesmo achando muito injusto grande parte do que você escreveu, considero hoje que aquela foi a sua interpretação e, mulher inteligente e culta que é, sua má interpretação ao meu respeito não pode ser creditada a uma incapacidade de compreensão, mas sim na minha falha em comunicação. Eu permiti que aquela fosse sua interpretação ao meu respeito, então cabe a mim tentar fazer com que você enxergue que eu sou bem mais do que aquilo" - as aspas foram retiradas dessa mensagem enviada por ele pelo Whats app.

Nos encontramos virtualmente pelo Zoom no dia 15 de julho, às 14h30 da tarde. Por coincidência, o youtuber estava nos Trending Topics - naquela manhã, um vídeo de Felipe Neto tinha sido publicado em um dos espaços de opinião mais importantes do mundo, o do norte-americano The New York Times. Em um inglês capaz de fazer inveja a maioria de nós, Felipe Neto denunciou a crise sanitária brasileira, então o segundo país do mundo com mais casos de coronavírus, e o deboche e o descaso com que Jair Bolsonaro lidava com as mortes e a pandemia por aqui. Conversamos por mais de uma hora e os melhores trechos desse papo estão publicados aqui.

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 Foto: print da minha conversa com Felipe Neto pelo Zoom em 15 de julho

Blog: Na época em que escrevi a coluna sobre você no início de 2018, você disse algumas vezes pelas redes sociais e pela imprensa que eu tinha sido injusta no meu texto. Por quê?

Felipe Neto: Quando você escreveu eu estava em um período de transição, eu já tinha feito a transição, e quando você pegou para analisar você acabou pegando uns vídeos mais antigos meus, de 2017 e de 2016.  Talvez se você tivesse me procurado, a gente tivesse conversado, talvez você tivesse descoberto um outro Felipe. Para o Felipe pessoa, foi muito devastador esse texto, me deixou muito triste na época, muito mal. Para o Felipe comunicador, para o youtuber, eu acho que (a coluna) tocou em pontos importantes que o Felipe de 2017, 2016, precisava mesmo pensar. O problema é que em 2018 eu já estava pensando. Algumas coisas ali já não falavam com aquilo que eu era em 2018. Palavrão, por exemplo, eu já tinha abolido do canal, não tinha mais. Então era uma coisa que eu queria ter gritado quando você escreveu aquele texto era 'eu não falo mais palavrão!' A parte muito precisa é quando você fala 'o Felipe Neto grita', isso é uma coisa que não tem jeito, principalmente quando eu gravo conteúdo de games.

Blog: Mas esses vídeos, mesmo sendo mais antigos, continuavam no ar, né? A partir do momento que eu procurei vídeos seus o algoritmo me trouxe três. Se 'não era mais o Felipe Neto', ainda era um Felipe Neto que estava no ar, né?

Felipe Neto: Na verdade a gente estava vivendo esse momento transicional, eu coloquei esses vídeos com classificação indicativa e eu tenho um certo orgulho disso porque eu fui o primeiro youtuber no mundo a tomar essa iniciativa de colocar a idade no título, que é uma coisa que youtubers não fazem. Então se hoje você for lá você encontra o '+13' ou '+18' nos vídeos antigos. E eu fui deletando vídeos também, apagando vídeos.

Blog: Você apagou vídeos?

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Felipe Neto: Muitos vídeos.

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Blog: Quantos?

Felipe Neto: Foram muitos vídeos. (Felipe Neto fez as contas e no dia seguinte à entrevista me procurou para dizer que, no total, 278 vídeos foram removidos do seu canal no YouTube.) E foi um trabalho de realmente olhar o que seria um conteúdo que não tinha mais nada a ver comigo e que eu não queria mais que estivesse exposto. Eu diria que pelo menos um bilhão e meio de views foram apagados. E há conteúdos que eu não queria remover porque tinha a ver com a minha história dentro da plataforma, embora achasse impróprio para um público mais jovem, então esses vídeos eu coloquei para maiores de dezoito anos, você só consegue acessar se estiver logado no You Tube e tiver mais de dezoito anos. E os de '+13' são os vídeos que podem ter palavrões, mas que não são nada demais, mas eu instrui várias vezes para que o público de menos de treze anos não assista se cair em um dos vídeos com essa indicação no título. Então eu acho que foi um texto da época, que você fala de um Felipe da época, e acho que a minha reação na época foi maior do que o texto se propunha a alertar.

 Foto: print da entrevista pelo Zoom em 15 de julho

Blog: Por que você decidiu publicar um vídeo anunciando que nunca mais irá fazer piada sobre os corpos das pessoas?

Felipe Neto: Foi algo que eu levei algum tempo para entender a importância, porque eu sempre achava que eu e o Bruno (assistente de Felipe), a gente tem uma relação tão íntima, que ele me sacaneia de 'velho' e eu sacaneio ele de 'gordo' e não tem problema porque a gente é íntimo. E eu sempre falava que você não pode zoar quem você não é íntimo. Só que depois eu passei a refletir a respeito e eu pensei  'o problema é o que eu estou falando para as pessoas que essa é uma brincadeira válida'. Eu acho que a última coisa que faltava eu corrigir de vez no meu canal eram as piadas em relação ao corpo do Bruno.

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Blog: Você disse que meu texto te fez muito mal. Mas ele também te fez pensar?

Felipe Neto: Sim, em alguns pontos. Qual foi a principal função do texto pra mim? Entender o que eu estava passando para pessoas que se identificam como você se identifica: como uma mãe, com mais idade do que eu, com uma visão mais crítica, progressista. E aquilo me deixou mal porque eu sou progressista. E eu pensei, 'caramba, estou sendo visto como um conservador alucinado que xinga e berra o tempo inteiro e essa não é minha intenção'. Então esse texto serviu para que eu entender como eu estava sendo interpretado. E foram vários fatores que me influenciaram, o texto acabou sendo um deles, o mais 'pólvora' desse barril, foi bem explosivo. Um das partes do texto que pegou é quando você fala: 'ele tenta vender produtos o tempo todo'. Eu acabei de sair de uma reunião com o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), inclusive, hoje em dia eu tenho uma proximidade muito grande com o Conar.

Blog: Essa era, inclusive, a minha próxima pergunta, porque publicidade infantil é proibida para menores de doze anos, tem a resolução sobre isso no Conanda, temos a Constituição que também trata sobre isso, o Estatuto da Criança e do Adolescente. Como esse novo Felipe Neto lida com esse assunto?

Felipe Neto: No meu canal a quantidade de crianças menores de doze anos é muito inferior do que quem assiste e tem mais de doze anos, meu público é majoritariamente acima de treze anos. Porém eu levo a sério todas as recomendações institucionais, principalmente as do Conar. Por exemplo, dia 5 de agosto eu vou lançar uma coleção nova de camisetas e toda a vez que eu vou comunicar eu sigo uma série de guidelines, entre eles: 'você não pode fazer nenhuma compra se você não é responsável pelo próprio dinheiro', 'qualquer compra você precisa de autorização se você não é o dono do dinheiro', 'você não pode ficar contra seus pais caso eles vetem algo a compra de algo relacionado ao meu canal', eu sempre reforço esses valores dentro do público que me assiste.

Blog: Mas você anuncia para a criança ou para o pai da criança? Porque faz diferença.

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Felipe Neto: Eu anuncio para o pai e para o jovem adulto que me assiste, porque o conteúdo do canal não é especificamente para criança. Então eu não vendo nada para a criança.

Blog: Então você não fala 'pede para o seu pai comprar o livro do Felipe Neto'?

Felipe Neto: De jeito nenhum. Hoje em dia de jeito nenhum. Se eu fiz isso no passado é algo do qual eu me arrependo consideravelmente. Quando eu anuncio produto eu me comunico com o público mais velho. A última coisa que eu quero são pais contra mim. A melhor coisa no mundo para mim é ter a família me assistindo. Então quanto mais eu puder levar meu conteúdo para a família inteira, mais eu vou querer.

 Foto: Reprodução do Instagram

Blog: Agora, quando você começou você não tinha essa consciência, né? Como foi crescer e amadurecer no YouTube?

Felipe Neto: Eu comecei a gravar vídeo há dez anos atrás, em 2010, eu era um menino de 22 anos. Eu tive minha formação muito dentro da igreja católica, em uma linha mais tradicional da igreja católica. Então eu cresci com alguns valores um pouco distorcidos, valores homofóbicos, machistas, estudei muito a Bíblia e de tanto estudar eu comecei a questionar algumas coisas e me desgarrar um pouco da religião. Quando eu cheguei no YouTube eu ainda tinha aqueles valores enraizados na minha cabeça, aquela homofobia institucionalizada, que sai no discurso e você nem está percebendo. Eu levei anos para enxergar isso, para ouvir as pessoas falando sobre isso. Então, quando eu começo no YouTube, eu tenho vídeo chamando o Justin Bieber de 'viadinho'. Eu vou amadurecendo, mas a partir de 2010 minha vida foi toda exposta, então todo esse processo de amadurecimento as pessoas viram acontecer, porque foi público. É difícil não ter uma estrutura. Quando eu voltei para o YouTube eu não tinha essa estrutura, eu não tinha como me blindar, era eu fazendo vídeo com uma câmera e mandando para um editor e botando no ar. E aquilo explodiu de um jeito que eu nunca podia imaginar. E não passava pela minha cabeça que palavrões e piadas sexuais seriam vistos por um público mais jovem. Então, se eu fosse uma pessoa que não tentou melhorar, que não tentou evoluir, não tentou ouvir ou aprender, eu concordaria com seu texto até hoje. Mas eu não sou essa pessoa. Eu sei o quanto eu errei e o quanto eu precisei errar para aprender, tomar porrada para consertar.

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Blog: Nem todos aceitam essa sua mudança, você é alvo de muitas críticas.

Felipe Neto: As pessoas que se identificam com aquelas raízes reacionárias me chamam de hipócrita, dizem que eu mudei por conveniência, e as pessoas que só conhecem o Felipe Neto de hoje viram oportunismo. É difícil você amadurecer em frente as telas e ter as pessoas que não acompanharam todas as fases saírem dando opinião. Eu me tornei progressista depois de muita literatura e depois de muito ouvir pessoas. Ouvir homossexuais, ouvir negros, ouvir mulheres e perguntar: por que vocês falam isso? Quando eu comecei a ouvir eu percebi que eu não tinha a mínima noção de nada, eu não entendia nada de nada sobre esses assuntos. Eu não entendia nada sobre mulher, eu não entendia nada sobre negros, eu não entendia nada sobre gay, eu sempre fui um homem branco e privilegiado, mesmo tendo nascido pobre e tendo crescido na periferia do Rio.

Blog: E a política entrou na sua vida a partir daí? Porque você agora é um cara que fala muito de política nas redes sociais, nos seus vídeos.

Felipe Neto: Eu comecei a ter esse interesse partindo de uma visão progressista de querer trazer as minorias para o debate, para terem um alcance maior, e vendo um reacionarismo crescente na política brasileira. Quando eu comecei a ver a bancada evangélica, e eu não tenho nada contra os evangélicos, mas a bancada evangélica no Congresso Nacional é uma manifestação reacionária da população brasileira, ela não representa interesses religiosos, ela representa interesses reacionários, de resgate ao século XVI. Eu comecei a ver aquela bancada crescendo, Jair Bolsonaro se tornando popular, eu comecei a me posicionar ali e a coisa foi culminando até chegar em 2018, o que coincidiu com o crescimento do meu canal de novo.

Blog: Você sempre foi muito crítico aos partidos de esquerda, principalmente ao PT. Qual sua relação com o campo progressista?

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Felipe Neto: Eu gosto muito de uma fala do Eduardo Bolsonaro, acho que foi a única fala inteligente que eu ouvi o Eduardo Bolsonaro soltar na vida, quando ele falou assim: 'para ser conservador não precisa estudar'. Na verdade ele não estava falando de (ser) conservador,  ele estava falando de (ser) reacionário, e aí realmente eu concordo com ele. Então, enquanto eu não tinha estudado, não tinha lido, não tinha ouvido, eu era um reacionário e me deixava levar por discursos muito fáceis.

Um discurso muito fácil foi o discurso antipetista, o discurso lavajatista, o discurso de ódio contra o governo do PT, que embora eu possa ter críticas, sim, ao governo do PT, eu não sou uma pessoa do PT, eu não sou de partido algum, eu percebo a quantidade de erros que eu cometi no passado, confessei isso no Roda Viva, falei o quanto eu estava errado em apoiar o golpe, o quanto me faltou visão política, o quanto me faltou estudo do que estava acontecendo no Brasil. E, naquela época, embora o meu alcance fosse relativamente pequeno porque eu estava sem produzir conteúdo para o YouTube, eu ajudei, na medida do meu alcance pequeno ou médio, a reverberar o discurso antipetista e o discurso a favor do golpe. Hoje em dia eu enxergo as coisas sob óticas completamente diferentes. Eu não gosto muito dessas determinações, mas se eu pudesse me classificar, diria que eu estou mais alinhado com a centro-esquerda e acredito, sim, que é o momento de união, é o momento de embate, é o momento de derrotar o fascismo. Os fascistas que estão no poder hoje precisam ser derrotados por uma união, uma articulação daqueles que são as vítimas do fascismo, que é todo o povo brasileiro.

Blog: Se a eleição fosse hoje, com esses candidatos que estão ali se colocando, em quem você votaria?

Felipe Neto: Difícil. Na eleição passada eu já tive alguma dificuldade.

Blog: Com todos aqueles candidatos no primeiro turno você teve dificuldade em escolher?

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Felipe Neto: Eu tive alguma. Por mais que eu seja uma pessoa que se identifica como progressista, não tem nenhum candidato que eu fale assim 'esse cara representa absolutamente tudo que eu acredito'. Quem mais se aproximou e recebeu meu voto na eleição passada foi o Ciro (Gomes). Nessas próximas eleições, seria difícil eu te cravar em quem seria o meu voto, se seria do Ciro ou de algum outro representante dessa linha política. Eu não sei nem quem seriam esses candidatos, então seria difícil cravar em quem eu votaria, eu não quero dizer 'ah, se as eleições fossem hoje eu votaria no Ciro' e me comprometer com o voto, porque eu não quero me comprometer com voto algum, acho que em 2022 a gente vai ter um cenário completamente diferente do que a gente tem agora.

Blog: Mas você é bem próximo ao Luciano Huck, não?

Felipe Neto: Eu tenho algum contato, mas não a ponto de ser uma pessoa íntima. O Luciano é um empresário do mercado de entretenimento e a vida nos colocou próximos, porque eu também sou um empresário do ramo do entretenimento. A maioria de nossas reuniões foi sobre isso, empresas, negócios, business e tudo mais. É uma pessoa para quem eu às vezes mando mensagem, ele às vezes me manda mensagem, mas não há nenhum comprometimento da minha parte em relação a plano político, ele sabe disso, inclusive. Se ele sair candidato não há absolutamente nenhuma palavra minha dada a ele de qualquer tipo de endosso ou apoio.

Blog: Nem a ele, nem a ninguém?

Felipe Neto: Absolutamente a ninguém. Eu sou bastante amigo de determinados deputados e que eu nunca endossei publicamente a ponto de pedir voto. Eu sou bastante próximo do (Marcelo) Freixo, uma amizade que eu tenho que transpõe a parte política, nós somos amigos, a gente conversa sobre tudo, mas eu nunca pedi para as pessoas votarem no Freixo e ele nunca me pediu ou me cobrou isso. Então se algum político me cobrar isso, o Freixo, o Luciano Huck ou a Manuela D´Avila, ou seja quem for, a minha resposta vai ser não. Eu não sou garoto propaganda de partido ou de político, até porque eu não quero esse compromisso para o resto da minha vida. Inclusive eu já falei até para o Luciano, 'você endossou o Aécio Neves, você sabe a consequência disso'.

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Blog: E ser candidato? Você pensa em ser candidato?

Felipe Neto: Não, eu tenho zero interesse na vida do primeiro setor. Eu tenho zero interesse hoje, não sei se isso um dia pode mudar - e eu gosto de usar o 'hoje' porque eu já mudei de ideia muitas vezes ao longo da vida. Eu vejo com remotíssimas chances, para não dizer nenhuma, mas é quase nenhuma a chance de um dia eu ter interesse no primeiro setor, eu sinto que minha vida é no terceiro setor, eu posso fazer muito mais pelas pessoas.

Blog: Sobre as fake news, atualmente você é uma das grandes vítimas dessa onda de notícia falsa. Fica difícil conter essas ondas de desinformação quando ela se espalha, né?

Felipe Neto: Eu sofro com isso o tempo inteiro. É só você ver a quantidade de vídeos fakes que fizeram contra mim me acusando de pedofilia depois do caso do PC Siqueira. O gabinete do ódio viu que tinha uma oportunidade muito boa ali, porque o PC tem umas fotos comigo feitas dez anos atrás. Dez anos atrás. E a gente não é amigo, a gente se encontrou uma vez. Pensaram, 'oportunidade perfeita', se o PC Siqueira está sendo acusado de pedofilia, 'a gente vai fazer essa associação'.  Criaram um vídeo, fizeram uma montagem, as coisas mais horríveis que você pode imaginar.

Blog: Mas a justiça foi rápida no seu caso, não?

Felipe Neto: Não muito. Sinceramente, não muito. O vídeo viraliza, segue viralizando, demorou dias para a gente conseguir derrubar o vídeo do perfil da Antônia Fontenelle, ela transformou isso num escândalo gigantesco. Mas olha como é interessante: as empresas vão sendo cobradas e pressionadas e elas começam a criar soluções. O Facebook me ofereceu uma solução: eles disseram 'a gente tem o content id, a gente vai te fornecer essa ferramenta'. Então, o que eu fiz: eu tenho um painel de controle que eu subo vídeos que ferem meus direitos autorais e que eu quero que sejam bloqueados na hora do upload. Nesse momento tem um monte de gente que está tentando postar esse vídeo me acusando de pedofilia e pressionando você consegue tecnologia para vencer. Mas o tempo que você leva para derrubar um conteúdo não é compatível com o tempo que você demora para destruir uma reputação. E quanto a isso a solução ainda é inexistente. E nem a lei atual vai ter como impedir, não tem o que fazer. E eu vou te dizer mais uma coisa: e eu não sei o que pode ser feito, porque todo o processo de 'derrubada' precisa passar por uma liturgia, caso contrário a gente abre margem para censura. Isso é complexo, porque uma decisão judicial não pode sair em dez minutos.

Blog: Hoje, dia que marcamos para conversar, acordei com você no espaço de opinião do jornal norte-americano The New York Times, e também nos Trending Topics do Twitter. Você acabou atingindo dois objetivos com esse vídeo: denunciar o descaso do governo Jair Bolsonaro com a pandemia do coronavírus no Brasil e também criticar a candidatura à reeleição de Donald Trump. Qual era a ideia inicial?

Felipe Neto: A ideia inicial veio pela Alessandra Orofino, que é diretora executiva do Instituto Nossas e diretora do Greg News. E foi um roteiro escrito a quatro mãos, eu e ela trabalhamos nesse roteiro. O nosso objetivo era mostrar para os americanos a realidade do Brasil, e não ficar só no alarmismo, ou seja, terminar com um: 'O que dá para fazer? O que efetivamente se pode fazer?' Não eleger o Trump é a forma de a gente falar para os americanos que tem algo que eles podem fazer pelo Brasil e sem qualquer arrogância de achar que a gente vai ter algum impacto na eleição americana. Nós precisamos derrubar esses caras e ponto final. A não eleição do Trump é de extrema importância para o cenário geopolítico mundial.

Leia mais: Felipe Neto mudou? A minha percepção sobre ele, sim

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Opinião por Rita Lisauskas

Jornalista, apresentadora e escritora. Autora do livro 'Mãe sem Manual'

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