"Ele viu dois homens se beijando em frente à sua mulher e ao seu filho e ficou muito irritado", disse o pai do atirador de Orlando. E com a frase vem a desculpa de sempre dos que procuram justificar o ódio aos gays: "Como eu vou explicar para o meu filho dois homens se beijando?"
Para essa questão posso sugerir respostas simples, de fácil entendimento para crianças de todas as idades. (Em nenhuma delas você precisa pegar em armas para justificar seu ponto de vista, ou seja, só vejo vantagem em utilizá-las.)
Se se filho vir dois homens ou duas mulheres se beijando, tente a seguinte resposta:
"Estão beijando porque se amam, filho." E complete: "A gente pode amar quem quiser, sabia?" Aposto que seu filho vai aceitar essa justificativa e nem avançar no questionamento. Afinal beijo é sinal de carinho e estamos falando de amor. Crianças entendem amor muito bem.
Se vir uma família formada por um casal gay, tente o seguinte:
"Algumas famílias têm duas mães ou dois pais, filho. Eles se amam e formam uma família igual a nossa."
Simples. Prático. Indolor.
Aqui em casa essa conversa sempre funcionou muito bem. Tanto com o meu pequeno, quanto com os meus enteados. Sempre apresentei o namorado de um amigo como o namorado de um amigo. Sem subterfúgios. Sem piadinhas. As crianças entendem respeito muito bem.
Podemos trilhar o caminho do amor para contar aos nossos filhos que há famílias formadas apenas por uma mãe ou um pai. Que há famílias formadas apenas pelos avós. Que existem crianças com necessidades especiais. Que há pessoas de todas as cores, que há gente que acredita em um Deus diferente do nosso. Que há quem não acredite em Deus. Mas como explicar aos nossos filhos que há pessoas que matam porque não respeitam a escolha do outro?
Esse homem matou todas essas pessoas, mamãe? Por quê?
Porque ele não gostava de gays, filho. Gays são aqueles meninos que gostam de meninos e meninas que gostam de meninas que a mamãe já tinha te explicado, lembra?
Nossa, mãe. Ele matou todo mundo com um revólver?
Sim, filho. Ele tinha muito ódio no coração.
Eu não quero mais conversar sobre essa coisa de matar pessoas, tá? Isso é muito triste e eu sei que vou ter pesadelos.
Tá bom, filho.
As crianças não entendem violência muito bem. E nós também não deveríamos entender. Nem aceitar.
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