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Opinião|Adolescentes receberam bem polêmicas de 13 Reasons Why, aponta pesquisa

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A cena da morte de Hannah. Reprodução: Netflix Foto: Estadão

Há quase um ano, uma série lançada pela Netflix se tornou uma de suas mais polêmicas e e mais discutidas de 2017: 13 Reasons Why. Em vez daquelas intrigas clássicas dos seriados adolescentes, com jovens se apaixonando e se separando por ciúmes, amizades terminando por traição, o conteúdo dos 13 episódios era muito mais pesado e, por isso, muito real: cyberbullying, assédio sexual, uso de drogas, depressão, estupro e, por fim, suicídio.

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As redes sociais vieram abaixo. Uma enxurrada de elogios pela coragem de abordar abertamente temas que são minimizados ou então que simplesmente não são discutidos entre os jovens, como o suicídio, na mesma proporção da avalanche de críticas que condenava a produção por tratar de temas tão complexos e pesados sem alertar a audiência mais sensível. Segundo os críticos, a atração teria o potencial de estimular o suicídio e contrariaria recomendações da OMS quanto à forma que o assunto deve ser tratado pela mídia.

Às vésperas do lançamento da segunda temporada, a Netflix realizou um evento em Nova York para apresentar um estudo feito pela Northwestern University que mensurou o impacto da série na audiência de cinco regiões: Austrália/Nova Zelândia, Brasil, Reino Unido e Estados Unidos - lugares onde 13 Reasons Why gerou mais interações, principalmente nas redes sociais.


Coletiva da Netflix em NY. Da esquerda para a direita: A moderadora, Arianna Davis. O VP de séries originais, Brian Wright. Dra. Ellen Wartella, da Northwestern University. Brian Yorkey, produtor-executivo de 13 Reasons Why é o quinto na sequência. Foto: Estadão

Os números mostraram que a série foi muito bem recebida pelos jovens (e por seus pais) em todos os países, mas principalmente no Brasil. Segundo a Dr. Ellen Wartella, diretora do Centro de Mídia e Desenvolvimento Humano da Northwestern University, os jovens revelaram que depois de assistir à série, pensaram sobre algo que até então não tinham considerado: a depressão não tem rosto e pode acometer até aquelas pessoas que parecem que estão bem. A cena com a morte da protagonista, embora forte, foi bem recebida, segundo a pesquisa, e fez com que os adolescentes percebessem, ao vivenciar o sofrimento dos pais de Hannah, que o suicídio pode trazer consequências devastadoras também para aqueles que ficam.

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Mesmo comprovando que 13 Reasons Why fez muito mais bem do mal, é possível perceber que a Netflix vai ter uma abordagem mais cuidadosa com a audiência a partir do lançamento da segunda temporada, já pronta, mas ainda sem data oficial de estreia. Um vídeo que conta a participação dos principais atores da série  aconselhando os jovens a procurar ajuda se estiverem com problemas será exibido "colado" no primeiro episódio. A Netflix também colou no ar um site, o 13reasonwhy.info, com telefones de unidades de prevenção do suicídio em todos os países onde a série será exibida, além de um guia que promove uma discussão sobre os pontos mais sensíveis da série. "Fizemos algo poderoso e estimulamos uma conversa global. Mas a responsabilidade vem junto a isso. É por isso que estamos tomando essas medidas", explica Brian Wright, vice-presidente de Séries Originais da Netflix.

Já o produtor da série, Brian Yorker, afirma que o roteiro da segunda temporada pensou apenas no futuro dos personagens. "Nós estávamos cientes das críticas que foram feitas a partir da exibição da primeira temporada, mas não filmamos a segunda como uma resposta a elas. O que fizemos foi dar seguimento às histórias desses personagens da forma mais honesta e verídica possível, para mostrar para onde a vida deles caminhou. Somos contadores de histórias, não temos a pretensão que os personagens façam as melhores escolhas para as suas vidas, o que não significa que aprovemos suas atitudes. Os personagens são pessoas comuns, e pessoas comuns nem sempre fazem as melhores escolhas para elas mesmas", afirmou. Yorker contou ainda em uma entrevista ao blog que a segunda temporada pretende abrir discussões tão profundas quanto os episódios da primeira.

O blog viajou a Nova York para a entrevista coletiva a convite da Netflix.

Leia mais: ‘Precisamos criar meninos emocionalmente saudáveis e que não sejam estupradores’, afirma produtor-executivo da série 13 Reasons Why

Opinião por Rita Lisauskas

Jornalista, apresentadora e escritora. Autora do livro 'Mãe sem Manual'

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