PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Ser mãe é padecer na internet

Opinião|A pergunta de um milhão de dólares: qual o impacto do nosso casamento (bom ou ruim) na vida dos filhos?

Atualização:

Esses dias resolvi tocar em um assunto espinhoso com uma amiga de infância com quem convivi muito. Como foi assistir às brigas constantes dos pais? Eu, que só era uma amiga da família e muito criança, sentia o clima pesado e presenciei várias confrontos entre eles. Se os pais não poupavam nem as visitas, imagina o que ela e o irmão mais novo não teriam passado? Como ela digeriu esse exemplo de casamento ruim ? As brigas dos pais influenciaram seus relacionamentos amorosos? Ela pensou muito e disse que, por coincidência, estava analisando o assunto desde a morte do pai, uma semana antes. E disse ter chegado a algumas conclusões. Começou classificando o pai como "omisso" e a mãe como "submissa". Mas se apressou em explicar que entendia perfeitamente o contexto no qual sua mãe tinha casado:"Era uma outra geração e naquela época não havia outra opção além de casar e ter filhos". As brigas estão muito claras em sua memória: "Era sempre muito ruim ficar ouvindo briga. E como meus pais não estavam em 'comunhão' no ato de criar filhos eu queria mesmo que eles se separassem". Não ser poupada das discussões fez com que ela não se surpreendesse quando eles decidiram se separar quando ela completou 20 anos. Não foi um baque, "ao contrário de quando a criança é posta em certa distância disso e depois se frustra ou choca ao saber da separação, e sofre", completa.

PUBLICIDADE

Pergunto se casar e ter filhos é um sonho. Ela tem a minha idade, 37 anos. "Não tenho intenção de casar no sentido tradicional e gosto de ter minha liberdade e independência". Vou mais longe e quero saber se essa escolha tem a ver com o casamento ruim dos pais. Ela não sabe. "Difícil dizer. Acho incrível ter família grande e muitos primos, mas nunca aconteceu de eu formar minha família, talvez porque no fundo eu não queira. Sei que vejo amigas que se casaram e têm filhos e apesar do amor que elas têm pelos filhos vejo também frustração no casamento e na individualidade. Não significa que não queira ter alguém, claro que não, mas não consigo me inserir no modelo tradicional", completa.

Toda essa curiosidade veio à tona porque fui convidada para uma palestra interessantíssima que vai rolar aqui em São Paulo, semana que vem. "O que nossos filhos lembram e levam para a vida sobre nosso casamento?", encabeçada pelo psicoterapeuta Luiz Alberto Hanns. Adoro discutir educação e infância e embora tenha um casamento feliz na maioria do tempo, preocupo-me muito com o exemplo de relacionamento que vamos passar para o nosso filho. Luiz Alberto Hanns aceitou me dar uma entrevista por e-mail, antecipando algumas questões que serão abordadas.

1.De que forma o casamento influencia o desenvolvimento das crianças?Claro que casamentos com conflitos abertos e violentos assustam as crianças, as deixam inseguras e eventualmente traumatizadas e talvez com uma visão distorcida sobre relacionamentos e comportamentos entre homem e mulher. Mas a maioria dos casais não expõe as crianças à tais cenas. Só que mesmo casamentos arrastados, com pequenas rusgas, cujos problemas são escondidos das crianças as afetam. Elas percebem a atmosfera da casa e os padrões de relacionamento, ainda que não saibam explicar. Casais frios e distantes, com um cônjuge dominado pelo outro ou que fazem críticas constantes ao sexo oposto são percebidos. As crianças não terão necessariamente problemas psicológicos por isso, mas podem desenvolver padrões de relacionamento inadequados como repetir exatamente o padrão que conheceram como "normal". O contrário também pode acontecer: filhos de um cônjuge implicante podem querer evitar a qualquer custo o conflito e se tornarem demasiado cordatos e complacentes e não se importarem com agressões e aceitarem desaforos que não deviam. Talvez não ousem dar limites nem ao cônjuge e nem aos futuros filhos.

2.Casamentos em crise causam problemas para a personalidade delas? Dependendo da idade da criança e de sua personalidade tais casamentos podem ou não causar alguns problemas psicológicos transitórios ou crônicos. Imagine um dos pais sendo alcoólatra e deprimido envolvendo a criança em seus problemas conjugais, fazendo confidências e pedindo para a criança ajudá-la a "segurar" o cônjuge. Dependendo da criança esse tipo de atitude pode ser devastadora, torná-la ansiosa e insegura em relação à confiabilidade do mundo e das pessoas em geral. Outras crianças podem tirar uma lição diferente do episódio: aprendem a superar situações difíceis e entram na vida mais preparadas e menos ingênuas. Claro que grandes cenas de brigas abertas e intensas quase sempre traumatizam os filhos. Mas, de modo geral e independentemente dos problemas conjugais, o mais importante é transmitir à criança segurança e tranquilidade de que você, como adulto, irá lidar com a situação e que ela pode seguir a vida dela com seu apoio.

Publicidade

3.É possível poupar as crianças de uma crise no casamento ou elas necessariamente sentem? Em geral casais com bom autocontrole conseguem por um tempo poupar os filhos da percepção de grandes problemas, embora, como mencionado acima, percebam eles sempre percebam o estilo de relação dos pais.

4.Quando o casal decide se separar isso terá influência na personalidade das crianças? Se o casal souber transmitir a notícia e conversar com a criança sobre seus temores e construir com ela um caminho tranquilizador, raramente ela será afetada de modo negativo, ainda que possa passar por um período difícil.

5.Filhos de pais com casamentos felizes terão necessariamente uma vida amorosa mais saudável? Filhos de casamentos infelizes terão necessariamente uma vida amorosa com problemas? Não necessariamente. Tudo depende da personalidade da criança, da idade, da intensidade do conflito dos pais e sobretudo do modo como os adultos asseguram à criança de que ela continuará a ser bem cuidada e que eles saberão lidar com a situação.

6.As crianças se sentem divididas quando os pais se separam?

Em geral sim, por isso é preciso que os pais saibam separar o eventual conflito entre eles e a missão de serem pais unidos na educação e criação dos filhos. Em geral pessoas cientes da importância de cuidar dos filhos acabam por se esforçar em preservar o cônjuge no papel de mãe ou de pai, ou seja, não falam mal do outro e atuam unidos na educação deles. Pais que estejam demasiado desestruturados emocionalmente devem procurar a ajuda de um psicólogo para se unir ao menos na criação dos filhos.

Publicidade

Inscrições e informações: www.danielakohl.wix.com/petit- danielakohl@uol.com.br - (011)99986-9617

Opinião por ritalisauskas
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.