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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

Rainha da procrastinação

Juro que eu tento. O primeiro pensamento do dia é "ir ao banco". O segundo é "pagar as multas", o terceiro é "marcar aquele exame". Mas é como se um força maior nos puxasse para qualquer outro lugar do mundo - que não fosse o campo do resolver as coisas chatas. Ninguém procrastina coisas legais. Alguém aí deixa para depois uma viagem para Nova york? Não, mas vamos deixando para a última hora a renovação do visto. Cartórios, passaportes, impostos, Detran, Delboni... são palavras que provocam arrepio e insônia.

Por Marilia Neustein
Atualização:

Parece não ter fim, não é? Quando você renova a carta de motorista - e sente aquele bem estar de quem tirou uma missão chata da frente - seu cartão perde a validade, a multa expira, a lâmpada queima, a NET cancela seu pacote de canais e vocêtem que comprar produtos de limpeza no hipermercado longe pacas porque é mais barato. Além daquele freela que já está atrasado alguns dias. A lista de coisas "procrastináveis" só cresce. E, se bobear, acabamos em uma casa sem tv, sem máquina de lavar, sem síndico e com tudo atrasado. Mas a procastinação é um hábito que faz sofrer especialmente aqueles que fazem tudo certinho. Sim, porque tem gente que vive bem com isso. Nunca paga nada em dia, some, atrasa e liga 8 meses depois como se nada tivesse acontecendo. Mas para quemtenta - com muito esforço-ser o mais correto possível, procrastinar é algo profundamente angustiante. Poderia ser interpretada como uma grande trangressão no mundo de hoje: deixar para depois o que você pode fazer hoje. Mas e se você não é uma pessoa transgressora por natureza e, mesmo assim, sofre desse mal?

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Afortunadamente, amigos, para tudo há uma solução. E, recentemente, li um livro de um professor emérito de filosofia da universidade de Stanford, John Perry, chamado "A arte de procrastinar - como realizar tarefas deixando-as para depois". Gente, aquilo me deu um alívio. Porque, pensem comigo, se ele é um procrastinador e ainda assim é professor de Stanford, significa que todos nós temos jeito na vida e que a procrastinação não faz de nós - procrastinadores - seres tão detestáveis. "UFA!" foi o meu maior pensamento. O que o professor Perry faz é, simplesmente,dar um grande alento a todos nós com uma única conclusão: "fique tranquilo. Enquanto você nãofaz o que precisa fazer é porque está fazendo alguma outra coisa". O próprio livro, ele conta, é uma desculpa para não cumprir coisas que ele precisava. "Todos os procrastinadores têm excelentes habilidades para o autoengano", ele diz. Não é maravilhoso? Quem nunca se autoenganou, inventando para si mesmo que não foi trocar o óleo do caro porque tinha que fazer a unha primeiro,ou que não ia se inscrever naquela bolsa para estudar fora porque tinha que aprender a falar inglês direito, ou que deixaria para ir no dentista depois de viajar? Um verdadeiro procrastinador nunca assume totalmente que está procrastinando.

Então, eu só queria agradecer o professor Perry. Saber que o mundo inteiro - até ele, lá em Stanford - está procrastinando, me faz sentir um pouco menos mal. E agora, dá uma licencinha que tenho que terminar, porque tem uma pilha de contas para pagar e um regime para começar.

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