Claro que ele não sabe, mas ele embalou coisas muito mais importantes e grandiosas da vida de muita gente. Não é incomum a criançada adorar "Leãozinho", adolescentes que - cheios de ímpetos de transgressão - trocam Sepultura por "É proibido proibir". É ele que está ali SEMPRE com a música certa para o momento certo. É ou não é?Em diversas festinhas de apartamentos pequenos - com gente querendo ser anos 70 ouvindo "Transa""Alegria, Alegria" e discutindo Maiakóvski. Em pistas de casamento, cantando em alto e bom som sua "Meia Lua Inteira". Em quase todos os Réveillons fazendo dançar com "Tieta". Acredito que o Caetano também está sempre pronto para qualquer"pé na bunda", trazendo um pouquinho de melancolia e muito consolo com o seu "O quereres". E, claro, ele não falta a um comecinho de amor com suas inúmeras palavras. O Caetano está no parto das filhas das minhas amigas, nas noites com o namorado, nas despedidas de gente importante, nas separações. Ele está lá no som. Velando, fazendo chorar, namorando e protegendo a gente da "nhaca". Então, eu nem sei. Acho que o Caetano é como alguém da família mesmo. Tem horas que a gente se enche dele, que enjoa, que temos raiva. Mas daí descobrimos alguma gravação/canção que nem sonhávamos que existia e essa música abre um clarão na vida. Pelo menos por um tempo. Por essas e outras é que, na hora de agradecer, eu vou agradecer ao Caetano. Vou colocá-lo na oferenda do fim de ano para Iemanjá, na vela da igreja, vou pensar nele na hora da mega-sena, vou colocar na hashtag #obrigadacaetano.
E foi assim - naquele fim tarde --, subitamente e desavisada, que o Caetano salvou meu dia ruim. Com apenas uma música, tudo ficou maior do que a chatice cotidiana. Durou bem pouco porque, na rádio, em plena Marginal,começou A Voz do Brasil e a realidade bateu "toc toc" na porta.
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