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Reflexões sobre histórias e clichês femininos

O tema das princesas

Semana passada, um vídeo no Youtube chamou a atenção de muitas mulheres na Argentina. Trata-se de um depoimento de Miranda, uma garota de 7 anos, destruindo as princesas da Disney. Elas, diz nossa heroína, são "boludas", que quer dizer "tontas", "burras". Em sua descrição, Miranda constrói um pensamento que faz todo o sentido: diz que as princesas são tontas, porque, quando são presas, com exceção da chinesa Mulán, não fazem nada para sair do "cativeiro": "Mulán é muito forte, mas as outras dizem 'resgate-me! resgate-me'", fazendo caras e bocas das princesas. Conclui, ainda, que os príncipes de verdade não querem mulheres burras, mas gostam das lutadoras e inteligentes. Veja o vídeo aqui.

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Por Marilia Neustein
Atualização:

Show, Miranda. Você deu um show. A maioria das mulheres é educada com o desejo de ser princesa e, olha, em alguns casos, esse sentimento não passa nem na idade adulta. O pacote "princesa" não vem só acompanhado da passividade de esperar um príncipe encantado, mas, também, dos conceitos de recato, delicadeza (própria das princesas) e tudo que circunscreve esse universo. As princesas falam baixinho, comem pouco - uma maçã, talvez - choram muito, são inofensivas, protetoras dos animais, politicamente corretas. Até aí, ok. Acho a delicadeza uma das maiores virtudes humanas - só que para mulheres e homens. Não existe nada mais desagradável do que gente grossa. Mas voltemos à nossa Miranda: em seus statement, Miranda afirma que uma princesa deve tentar, tentar e tentar(sair da torre). E não simplesmente esperar por um resgate. Diz, nossa argentininha projeto de Beatriz Sarlo, que esse engajamento é que trará um príncipe (inteligente, é claro) para sua vida.

Quero fazer, aqui, uma pausa e uma provocação: também não seria esse outro estereótipo que inunda a vida de uma menina - normalmente já adolescente -, a "mulher lutadora?" Que deve ser muito batalhadora, alcançar objetivos ambiciosos e tudo que exige a modernidade? Vamos pensar em um exemplo. Angelina Jolie. Eu, particularmente, não me identifico em nada com a moça, mas digamos que ela representa uma "princesa moderna": além de atriz de Hollywood, é embaixadora da ONU, tem filhos adotados, biológicos, é linda, bem-sucedida, prevenida de doenças graves e angariou - por ser "tãããão" lutadora - o príncipe Brad Pitt. Pensando nisso, lembrei-me de outro vídeo, uma propaganda da Disney sobre princesas. O anúncio (lindo, como a publicidade sabe fazer), todo em primeira pessoa, diz "sou uma princesa. Às vezes, sou forte e, às vezes, tenho medo. Às vezes, sou forte até quando tenho medo. Acredito em lealdade e confiança. Acredito que compaixão me faz mais forte e que delicadeza é poder" e por aí vai, em um discurso que, além da princesa tradicional, incorpora toda princesa moderna. Veja abaixo:

Ou seja, é preciso ser tudo. Delicada, lutadora, leal, altruísta, forte, sensível...Ufa! Então, Miranda, se tenho um conselho para te dar é para ser um pouco mais leve. Nem muito princesa, porque, sim, elas são boludas. Mas nem tão dura. Esperar um pouco nem sempre é ruim; lutar até cair para chamar atenção de seu príncipe tampouco vale a pena. O importante, minha amiga mirim, é bancar suas escolhas, sempre. Se eu tivesse uma fada madrinha, pediria um pouco de leveza para todas nós.

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