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Produção artística que vive à margem da indústria cultural

Reflexões poéticas sobre sarau, política, Previdência, Virada Cultural, ócio, trabalho e o escambau

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Por Arnaldo Afonso
Atualização:

Natal chinfrim chegando, 2016 enfim findando e as reflexions of my life ecoando on my mind mind mind... Sem querer (querendo) provocar ninguém, cada qual com sua miopia e zuzo bem. Mas você já tá caolho de saber que este blogueiro festeiro é da sinistra, criado politicamente em meio a geniais, generosas e amorosas figuras do velho Partidão (Noé Gertel, Genivaldo Matias, meu querido 'comandante' Candinho - e, nunca esquecerei, tive a honra de conhecer o grande Gregório Bezerra). Mas 'o mundo anda tão complicado', como cantarolou o Russo (não o Lenin, o Renato), que eu tô evitando 'politicar' nos meus textos. Nada a ver com ser apolítico, o que alguns conhecidos meus dizem ser (e servem a direita, sem o saber). Mas é que eu preferia falar de sarau, ou da estética caótica da nova ótica poética, ou da música silenciosa, só intuída, que antecede a vibração do som, ou... mas não dá, né? Por exemplo: como ignorar a Reforma da Previdência ora em processo, que visa aumentar ainda mais nossos anos de trabalho e contribuição obrigatória, sob a alegação de que hoje as pessoas estão 'vivendo mais'? Viver mais para trabalhar mais, essa é a lógica deles (para a 'nossa' vida, claro). Lembro que, no começo dos anos 1990, se supunha que, com o avanço da ciência e das tecnologias utilizadas na produção de bens, o homem do futuro teria uma carga horária de trabalho cada vez menor. Como diria aquele humorista: 'E eu acreditei!'

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"Devia ter complicado menos trabalhado menos ter visto o sol se pôr Devia ter me importado menos com problemas pequenos Ter morrido de amor"

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 Foto: Estadão

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Lembro que quando li 'O Ócio Criativo', do Domenico de Masi (e mais algumas orelhinhas de outros livros), a ideia do Estado pagar aos trabalhadores para que eles trabalhassem menos fez todo o sentido na minha mente de vagabundo vermelho anacrônico (e crônico!). Todos teriam mais tempo para namorar, brincar com os filhos, se divertir com os amigos, ler, passear, ir a museus, aproveitar a vida... Ou até, tentar criar soluções mais produtivas para gerar felicidade e riqueza (de todo o tipo) para o bem comum, como retrata essa música do meu xará, o visionário e grande poeta Arnaldo Antunes.

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"Acabou a hora do trabalho

começou o tempo do lazer

você vai ganhar o seu salário

pra fazer o que quiser fazer

o que você gosta e gostaria

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de estar fazendo noite e dia

ler, andar, ir ao cinema, brincar com seu neném

e até mesmo trabalhar também Quando quiser, se assim quiser..."

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Mas que viagem, hein? Nós, artistas, esquerdistas e humanistas, temos cada ideia absurda, né? 'Bota essa cambada pra trabalhar mais e contribuir mais. Bota esses folgados para usufruir menos e ganhar menos'. Essa é a lei da selva, do lucro (deles), dos que não precisam se aposentar. E dos workaholics, do estranho mundo onde as pessoas se viciam em trabalho (trabalho bem remunerado, claro. Não há registro da existência de workaholics em minas de carvão ou linhas de montagem). Sobre isso, vi uma tira genial do ilustrador Adão Iturrusgarai, na Folha. Chega a ser ridículo de tão engraçado, mas não sei se é pra rir muito, não...

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 Foto: Estadão

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Sem concluir e pulando pra outro tema afim (pois isso aqui não é um tratado sobre nada), não posso deixar de dizer que o secretário municipal da cultura que o prefeito eleito escolheu, já trocou os pés pelas mãos, voltou atrás (como afirmei há duas semanas) e deixou evidente que só falou as besteiras que falou sobre a Virada, para defender aquela 'gente de bem', 'diferenciada', aquela mesma que o Alckmin agradou ao suspender as obras do metrô Higienópolis. Eles não querem ocupações, aglomerações, multidões, rolezinhos ou pobres perto deles. Por trás de suas propostas ocas e reducionistas, o que eles tentam esconder, mas fica óbvio e vergonhoso, é que todo o esforço da nova administração vai ser no sentido de 'higienizar' e 'compartimentar' a cidade. Nada de mistura, nada de convivência, nada de troca, nada de afirmação ou valorização da diversidade. Caetano, nessa canção também dos anos 1990, fala 'que é chegada a hora da reeducação de alguém'... De quem? E destila ironia em sua polifônica poesia:

"É chegada a hora da reeducação de alguém

Do Pai do Filho do Espírito Santo amém

O certo é louco tomar eletrochoque

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O certo é saber que o certo é certo

O macho adulto branco sempre no comando

E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo

Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita

Riscar os índios, nada esperar dos pretos"

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Pra terminar: o 'fla-flu político' é uma coisa. Mas, nesse caso, não se trata de optar por um ou outro modelo ou lado. Não é uma opção, nem questão de 'preferir' isso ou aquilo. De gostar ou não gostar de gay, de pobre, de preto, de vermelho ou de mulher independente. Pode odiar, se quiser, mas vai ter que aprender a aceitar e respeitar. Engolir o preconceito e o rancor, pra conseguir conviver. Você que me lê, pode até ser de direita, defender teorias econômicas liberais (essa que a guinada direitista mundo afora apregoa no momento, por exemplo). Mas sabe bem que não há mais espaço para a defesa de um mundo caduco, separatista e opressor, que já foi enterrado pelos ofendidos através de suas atitudes e posturas, e mesmo de suas práticas cotidianas mais prosaicas. O gay gosta de ser quem é, o negro é lindo e a mulher é livre. E não levam desaforo pra casa. Ninguém aceita mais o mundo patriarcal, machista, racista, separatista, homofóbico, dos privilegiados de outrora e de agora. É o fim do 'pacato cidadão', pois o que 'não for para todos, não será para ninguém'.

"Ô pacato cidadão, eu te chamei a atenção Não foi à toa, não C'est fini la utopia mas a guerra, todo dia dia-a-dia, não E tracei a vida inteira planos tão incríveis Tramo à luz do sol Apoiado em poesia e em tecnologia Agora à luz do sol... ... Se abolir a escravidão do caboclo brasileiro Numa mão educação na outra dinheiro"

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A equação muito simples dos conflitos atuais se resume aqui: 'diversidade' é a palavra-chave. Quem luta por ela, defende a democracia. Quem a ignora, quer oprimir. Saibamos distinguir entre artistas, políticos ou amigos, aquele que está a favor e o que está contra a diversidade. Mesmo que não assuma. Toda intenção política, por mais dissimulada, transparece nas atitudes (como na fala do secretário ou nos itens da reforma da Previdência). E quando você se diz apolítico, ou diz não gostar ou nem se interessar por política ('porque ela é suja, viciada e não muda nunca'), saiba que alguém que se interessa muito por ela, estará no poder gargalhando de você e aumentando em uma década a sua jornada de trabalho e extirpando a convivência feliz que você poderia um dia usufruir com sua família e amigos, mas jamais gozará. Tome partido, lute sempre, comece já. A poesia e a música também podem nos ajudar.

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"Como você pode ser um artista e não refletir seu tempo?"

Com essa mensagem da maravilhosa Nina Simone, desejo um Feliz Natal a todos os amigos e artistas que me leem, dão a maior força e aos que me parabenizaram pelo niver de um ano do blog. Obrigado! Vamos juntos.

 

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SÁBADO E DOMINGO, POR AÍ...

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 Foto: Estadão
 Foto: Estadão
 Foto: Estadão
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 Foto: Estadão

FANCA>>> Sábado fui assistir ao show do meu querido e talentoso amigo Francisco Fanca, líder e vocalista da ótima banda InRollando Stones, cover dos famosos linguarudos Mick, Keith, Charlie e Ron. O Fanca preparou um festão com a presença de parceiros e amigos, de suas bandas atuais e antigas: a lendária Sombra do Vento (dos festivais de escola), a Dreams (que acabou virando US Top), a Rollando Rocks (nova formação, só para tocar pérolas dos anos 1970) e o fecho-de-ouro com todo mundo cantando e requebrando ao som dos grandes clássicos dos 'Stones'. E ainda teve Talking Heads, Peter Frampton, Creedence, América, Ira! e até Raul, claro. Quem foi ao Santa Sede, tradicional reduto de roqueiros na ZN, ficou feliz da vida. Eu e minha mulher saímos às 2h da manhã, caminhamos numa boa até a estação Tucuruvi e não esperamos nem 15 minutos pra pegar nosso busão 'noturno' (espero que não me reduza também o fluxo do 'noturno', hein, sr. secretário?).

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 Foto: Estadão
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 Foto: Estadão

KLEBER>>> No domingo, dei uma passada pela Mooca e fui ao quintal onde o cantor e compositor Kleber Albuquerque tem aberto espaço aos novos compositores, realizando shows (aos sábados) e rodas autorais (aos domingos). Passaram por lá, ao longo desse ano, Carlos Careqa, Bedurê & Aline, Thiago K, Bruno Batista, Isabela Moraes, Adolar Marin, Sonekka, Léo Nogueira, Edu Franco, Susie Matias e tanta gente boa que fica até difícil listar. Era o último encontro do ano e eu não queria faltar: só cheguei no fim, mas a tempo de ouvir algumas belas canções e poemas, abraçar velhos amigos, fazer alguns novos e desejar boas festas e um 2017 superlegal a todos.

 

 

 

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UM POETA, UM POEMA: ... ... ... ... ... ... ...

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Esta seção abre espaço aos muitos ótimos poetas que ouço por aí, pelos bares e saraus do movimento cultural. Ou os que conheço da net ou dos vários livros comprados, doados, roubados, recebidos, aparecidos (livro é um bicho vivo...). Hoje, alguns poemas de Paula Valéria Andrade.

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MIRAR MIRÓ

Barcelona, estou na lona dos teus cantantes pneus de llúvia, tantos chicos, chicas, guapas cariátides de Cleópatra beleza.

E eu aqui à mesa, miro o modernismo de Miró.

(Não estou mais só).

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NATIONAL GALLERY

Cristo loiro alemano,

Cristo ruivo judeu. Cristo moreno romano. Em quantas cores

fazem o Cristo, em mundano?

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... DO FIM AO FIM

O que contorna enrola o que tá dentro. Picasso tirou o contorno para ver o centro. O centro é o que vem de dentro para fora. O centro é uma bola de fogo do mundo que rola. O miolo é recheio do centro. O miolo do pão se não se come agora, passa da hora. As minhocas são como o miolo que cai no rio. As minhocas substituem o miolo e ficam no fio. O fio divide o começo e o fim. O fim é o lado do fio que não diz sim. O fim é quando acaba o pão. O fim é o que se vai embora. O fim é o lado de lá do fio que diz sim ao não. O fim quando chega não tem hora.

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 Foto: Estadão

Paula Valéria, além de poeta, escritora e tradutora, é diretora de arte e trabalha com cenografia e figurinos para TV, filmes e teatro. Premiada no Brasil e no exterior, lançou recentemente seu livro de poemas 'ÍriS digiTal' (Ed. Escrituras) e participa da antologia 'Mulheres Obscenas' (Ed. Benfazeja).

 

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AGENDA

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 Foto: Estadão

Quinta-feira - 22 de dezembro - 18h30 ... Cláudia Luz - Show Estados Unidos do Brasil ... Cantora apresenta músicas de seu primeiro álbum (composições próprias em português e inglês), acompanhada dos músicos Meyson Vieira (guitarra), Wace Bass (baixo) e Thiago Campos (bateria), com participação de Dom Buya e Flow Enja. Entrada franca. No Bosque Maia, à av. Paulo Faccini, 1650, em Guarulhos.

 

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Quinta-feira - 22 de dezembro - 21h ... LIVE - Daniella Alcarpe e Tiê Alves - ensaio aberto ... Cantora (que acaba de lançar cd - ouça AQUI) e músico apresentam canções com transmissão ao vivo pelo facebook.

 

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Sexta-feira - 23 de dezembro - 23h ... Z (te) Mostra Juliano Gauche e Gustavo Galo ... Sempre numa sexta-feira, uma vez ao mês, projeto apresenta duas bandas ou artistas, da cena jovem e autoral brasileira. Nesta edição, Juliano Gauche e Gustavo Galo, com discotecagem de Tatá Aeroplano. Ingressos R$15. No ? Carniceria, à av. Brigadeiro Faria Lima, 724, em Pinheiros.

 

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Sexta-feira - 23 de dezembro - 23h ... Especial CAETANO - Transa - banda Golonka toca Caetano na NossaCasa ... Releituras do famoso álbum e outros clássicos desse ícone da mpb, numa festa 'transante e sacolejante'. A banda é formada por Pedro Keiner (violão e voz), Wagner Barbosa (guitarra, baixo e voz) e Thiago Gomes (bateria). Com a dj Marina Caires e o dj 10zanu tocando músicas da Tropicália e outras brasilidades. Pra quem quiser, ainda tem a pintura neon psicodélica tropical de Claudio Harumitsu Kamura. Entrada R$20. Na Nossacasa Confraria das Ideias, à rua Mourato Coelho, 1032, na Vila Madalena.

 

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BOM NATAL, AMIGOS... QUINTA-FEIRA QUE VEM TEM MAIS. ATÉ LÁ!

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