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Retratos e relatos do cotidiano

Vamos beber, amigo

Que apesar de tudo é carnaval

Por Ruth Manus
Atualização:

 

São alguns dias

Tão longos

Tão curtos

E indecentes

Alguns dias para esquecer

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Brevemente:

A presidência/os três poderes/os privilégios/e a demência

Instalados no país

Que nesses dias,

-apesar de tudo-

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Canta e dança

E é feliz.

 

Cinco dias nos quais

A gente entorta

O que há de mau

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E o que há de bom

Entorta até

Convite triste

e Drummond.

Meu amigo,

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Vamos beber

(Mas é carnaval)

Vamos beber

Tentar não sofrer

E definitivamente

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Não ler jornal

Vamos rir, amigo

Vamos persistir na alegria

De quem tem

Esperança

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E migalhas

de democracia.

 

Vamos rir

Dessa página infeliz

Da nossa história

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Dançar pelo dia

Em ela que seja

Passagem desbotada

Da memória

Das nossas novas gerações

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Vamos, amigo

Vamos fingir

Não ter tantas aflições

E vamos fingir

Que beber e vomitar

São o grande sacrilégio

E não a concessão

De tantos podres privilégios

Frente à nossa triste

Submissão

Vamos, amigo

Vamos ser foliões

E dançar por essa pátria mãe

Subtraída

Em tenebrosas transações

 

Vamos nos fantasiar de mulher

Sem vergonha

E sem mistério

Ou melhor

Vamos nos fantasiar

De mulher

Ocupando ministério

Porque é carnaval

E sonhar assim ~tão alto~

Nesses dias não faz mal

 

Vamos, beber amigo

Vamos fazer folia

Vamos acreditar

Que ainda há soberania

E vamos terminar

o feriado na latrina

Sem lembrar

do senado

do supremo

da sabatina

 

Vamos amigo,

Vamos gritar

Marchinhas embriagadas

Inofensivas e desgastadas

Vamos ver a banda passar

Cantando coisas de amor

Vamos ver sim

Vamos ver amor

Sobrando

Na avenida

E vamos cicatrizar

Essas nossas feridas

E vamos dançar

Que dançar alivia

Gritando bem alto

Para todos eles

Que apesar deles

Amanhã há de ser outro dia

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