São alguns dias
Tão longos
Tão curtos
E indecentes
Alguns dias para esquecer
Brevemente:
A presidência/os três poderes/os privilégios/e a demência
Instalados no país
Que nesses dias,
-apesar de tudo-
Canta e dança
E é feliz.
Cinco dias nos quais
A gente entorta
O que há de mau
E o que há de bom
Entorta até
Convite triste
e Drummond.
Meu amigo,
Vamos beber
(Mas é carnaval)
Vamos beber
Tentar não sofrer
E definitivamente
Não ler jornal
Vamos rir, amigo
Vamos persistir na alegria
De quem tem
Esperança
E migalhas
de democracia.
Vamos rir
Dessa página infeliz
Da nossa história
Dançar pelo dia
Em ela que seja
Passagem desbotada
Da memória
Das nossas novas gerações
Vamos, amigo
Vamos fingir
Não ter tantas aflições
E vamos fingir
Que beber e vomitar
São o grande sacrilégio
E não a concessão
De tantos podres privilégios
Frente à nossa triste
Submissão
Vamos, amigo
Vamos ser foliões
E dançar por essa pátria mãe
Subtraída
Em tenebrosas transações
Vamos nos fantasiar de mulher
Sem vergonha
E sem mistério
Ou melhor
Vamos nos fantasiar
De mulher
Ocupando ministério
Porque é carnaval
E sonhar assim ~tão alto~
Nesses dias não faz mal
Vamos, beber amigo
Vamos fazer folia
Vamos acreditar
Que ainda há soberania
E vamos terminar
o feriado na latrina
Sem lembrar
do senado
do supremo
da sabatina
Vamos amigo,
Vamos gritar
Marchinhas embriagadas
Inofensivas e desgastadas
Vamos ver a banda passar
Cantando coisas de amor
Vamos ver sim
Vamos ver amor
Sobrando
Na avenida
E vamos cicatrizar
Essas nossas feridas
E vamos dançar
Que dançar alivia
Gritando bem alto
Para todos eles
Que apesar deles
Amanhã há de ser outro dia