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Retratos e relatos do cotidiano

O que eu posso te oferecer

Não é grande coisa, mas talvez te sirva.

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Por Ruth Manus
Atualização:

Não posso te oferecer um milhão de certezas. Porque, sabe como é, todo dia é uma novidade. Plutão era planeta, deixou de ser planeta, virou planeta anão. Descobriram até um planetinha que chamaram de Makemake. Se Makemake virou nome de planeta a gente pode virar cada coisa que a gente nem imagina. Acho que a gente nem precisa de tantas certezas. Mas uma eu te dou: eu nunca vou deixar que astrônomo nenhum mude seu nome, porque eu gosto de dizer seu nome em voz alta e lembrar que tenho você.

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Te oferecer o maior amor do mundo também acho que não consigo. Porque realmente não sei se te amo mais do que um italiano ama a primeira garfada do seu spaghetti. Nem sei se te amo mais do que uma ave ama aquela parte do voo em que ela pára de bater asas e desliza no ar como as escovas deslizam nos cabelos das japonesas. Mas posso te oferecer um amor leve como o voo dos pássaros e bom como spaghetti quente em noite fria. Isso eu garanto.

Presentes incríveis, eu bem que tentaria te oferecer. Mas não sei se daria muito certo. Dizem que a Angelina Jolie deu ao Brad Pitt uma árvore de R$30 mil. E que a Katy Perry deu a um namorado uma viagem ao espaço de R$400 mil. Eu não tenho esse dinheiro. E se tivesse, desculpe a sinceridade, mas não gastaria com um negócio desses pra você. Meus parentes tão cheios de dívidas e eu queria trocar de carro. Mas te ofereço de presente as minhas noites de sexta, minhas tardes de sábado e manhãs de domingo. São meus grandes tesouros.

Não posso te oferecer uma visão divinal. Nunca tive medidas para mandar book para agências de modelo. Não acordo com cabelos parecidos com os que fui dormir- que já não são grande coisa. E gosto muito de pijamas de algodão. Desculpe. Mas te ofereço minha cara lavada depois de sairmos do mar no final de semana, com os olhos apertadinhos por causa da luz do sol e um beijo salgado antes de deitarmos de novo na canga.

Todo meu tempo também não tenho como te dar. Tô com uns relatórios atrasados, prometi à minha tia que almoçaríamos essa semana e queria terminar aquele livro que tá na minha mesa de cabeceira, faltam só 162 páginas. E a esteira da academia também anda me solicitando muito. E o pior é que ela e meu quadril cismaram de ser amigos, se eu não dou atenção a ela, meu quadril se revolta contra mim. Mas te ofereço muitos minutos das minhas horas, nos quais você invade meus pensamentos, me fazendo perder pedacinhos das conversas que me cercam quando você não está, simplesmente porque pensar em você já faz parte de mim.

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E não sei se consigo te oferecer o melhor de mim. Acho que porque nunca consegui situar muito bem o que é isso. Minha mãe sempre disse que eu tenho olhos lindos, mas eles são assim, meio castanhos, com alguns cílios, sei lá, não me parece grande coisa. Também não sei se o melhor de mim é minha habilidade de fazer trocadilhos e piadas ruins, mas algumas pessoas acham graça. Não sei.

Mas te ofereço, sim, o melhor que posso ser. Minha capacidade de tentar te resgatar quando você está baixo astral. Cafunés em diversas horas do dia. Minha habilidade de deixar para lá alguns emails do trabalho quando te ouço chegar. O cheiro do meu cabelo depois do banho. O carregador do meu celular, mesmo que o meu não tenha chegado a 90%. Meus óculos emprestados, se um dia você também tiver astigmatismo.

Não te ofereço muito. Mas te ofereço meu tempo, o melhor do meu humor, minha vontade imensa de ser feliz na vida e de caminhar ao seu lado todo santo dia. Pode ser?

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