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Retratos e relatos do cotidiano

O melhor do amor

Será que precisamos de muito?

Por Ruth Manus
Atualização:

Há quem diga que o melhor do amor são as grandes surpresas, as reconciliações depois de brigas duras, as declarações de amor profundas e as emoções avassaladoras.

Não sei. Quando se fala em paixão, até acho que essa dinâmica pode fazer algum sentido... Excessos, sustos, pancadas, hematomas na alma, curas efusivas.

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Mas chega uma hora em que essas turbulências da paixão nos cansam e o que queremos mesmo é o aconchego, a cumplicidade, o olhar sereno e a solidez da certeza.

A isso, acredito que se denomina amor.

E quando se fala de amor, eu ainda acho que seu melhor está espalhado no dia a dia em formato de bobagens. Coisas pequenas às quais, por vezes, nem damos valor. Mas coisas que, se prestarmos atenção, acabam por ser algumas das maiores delícias da vida.

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Ainda acho que bom mesmo é chegar no banheiro e encontrar sua escova de dente já com pasta.

(e é colocar pasta de dente na escova do outro na manhã seguinte para agradecer, sem precisar dizer nada)

Bom mesmo é gritar do chuveiro para saber se o outro quer entrar direto para não ter que temperar a água outra vez.

(e também é bom criticar a temperatura do banho alheio, às vezes)

Bom mesmo é ajudar o outro a procurar um pé de meia perdido naquele quarto que parece o Triângulo das Bermudas.

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(e acabar achando um par de havaianas que você sequer lembrava que tinha, embaixo da cama)

Bom mesmo é ter alguém que saiba, sem titubear, se seu café da manhã é com café, com leite ou com café com leite.

(e é saber através do humor do outro quantas fatias de pão ele comerá nessa manhã)

Bom mesmo é ter alguém que ache que tem passe livre na sua bolsa e que jogue carteira, celular, cobras e lagartos dentro dela sem pedir.

(e poder resmungar que a bolsa só está pesada por causa das coisas do outro- mesmo que seja uma mentira deslavada)

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Bom mesmo é guardar duas entradas de cinema no bolsinho lateral dessa bolsa cheia.

(e na hora da entrada poder falar "ficaram comigo???" )

Bom mesmo é falar daquela "sua camiseta bege feia pra caramba".

(e tentar não ficar com muita raiva da crítica que virá em contrapartida)

Bom mesmo é reclamar que o outro ronca, quando na verdade isso nem incomoda.

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(e ouvi-lo afirmar categoricamente que nunca roncou na vida)

Bom mesmo é ficar com o braço formigando por causa de um abraço desajeitado no meio da noite.

(e dar só uma viradinha de leve, com muito cuidado, para o outro não te "desabraçar")

Bom mesmo é acabar de se arrumar com pressa por saber que o outro já está te esperando pra sair há 15 longos minutos

(e mesmo assim demorar horrores e ouvir todo aquele tradicional mimimi sobre horários e compromissos, sem nem tentar rebater)

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Bom mesmo é ouvir "lembrou de tomar seu remédio"?

(e ligar da farmácia para saber se o outro precisa de alguma coisa)

Bom mesmo é abrir sua gaveta e encontrar uma peça de roupa do outro perdida por lá.

(e cheirá-la antes de devolver- se é que vai haver devolução)

Bom mesmo é perder o ticket do estacionamento

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(e "ficou com você!"; "imagina, nem encostei nele!"; "claro que ficou, tá maluco...")

Bom mesmo é confundir as toalhas de banho

(e, no fim das contas, não faz diferença nenhuma)

Bom mesmo é rir de piada interna

(e não adianta tentar explicar para um terceiro, a graça também é interna)

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Bom mesmo é andar de mãos dadas

(e, nos dias frios, o da mão quente aguentar do da mão gelada, e nos dias quentes, o da mão gelada aturar a mão suada do da mão quente, com prazer)

Bom mesmo é beijo na testa

(e não existe beijo na testa que não seja seguido por sorriso sincero)

Bom mesmo é desvendar quem se ama com o olhar

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(e não precisar nada além de um olhar de volta para que ambos se sintam abraçados)

 

Bom mesmo é ter um daqueles amores que não precisa de espetáculo pirotécnico para fazer sentido.

É saber reconhecer a felicidade na miudagem, é saber se dar diariamente e saber valorizar coisas cujo valor é muito grande, mas que cabem nos gestos pequenos, que preenchem a alma com mais eficácia do que muita coisa grandiosa por aí.

Bom mesmo é saber reconhecer que o melhor do amor está aí, todo dia, e saber ser grato à vida e a quem se ama por tanta sorte.

 

 

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