Dentre as muitas características que se pode atribuir a um país
Nós,
No Brasil,
Podemos dizer que somos especialistas no absurdo
Todo tipo de absurdo
Para o bem e para o mal
Recheamos a borda da pizza com salsicha
Transformamos Beethoven na música do caminhão de gás
E depois transformamos a música do gás em hit do carnaval
A sandália gladiadora fez um imenso sucesso.
Acreditamos na grávida de Taubaté
E o Louro José se tornou nosso amigo de infância
Até aí tudo bem
Absurdos pontuais, quase esporádicos
Ocorre que, para além da capacidade de criar cenas caóticas,
Criamos a noção de que o absurdo pode ser banal
E era aí que morava o perigo
Quando o absurdo já deixa de ser absurdo
E parece apenas corriqueiro
Instituímos bancadas religiosas no congresso
Elegemos o Tiririca
E recheamos o pastel com bife à parmegiana
Começamos a achar que, enfim,
O absurdo já era o natural
E que, tudo bem, poderíamos seguir em frente,
Como se tudo estivesse caminhando normalmente
Elegemos o Bolsonaro
Descobrimos um,
Dois,
Três,
Trezentos
Casos graves de corrupção
Fizemos memes
E criamos o sushi de fandangos
Percebemos que o país degringolou
E fomos dançando,
Fazendo coreografia
Até a beira do abismo.
Esfiha de sonho de valsa
Dollynho
Inês Brasil
Janaína Paschoal
Perdemos a noção certo e errado
O neto da Elis Regina
É filho da cantora da música dos Dedinhos
Colocamos leite em pó no açaí
Perdoamos o pó nos helicópteros
E condenamos por porte de Pinho-Sol
Pedimos ajuda a Deus
Enquanto o padre mais famoso do país
Pede sugestões de suplemento alimentar
Para o Lucas Lucco
Eu já não entendo bem
Mas, enfim,
Institucionalizamos o absurdo
E tudo vai parecendo um pouco normal
Até mesmo o dia de hoje
E todos os perigos que nos rondam
Era mesmo para ser assim?