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Retratos e relatos do cotidiano

O Brasil e a banalização do absurdo

Já estamos anestesiados?

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Por Ruth Manus
Atualização:

 

Dentre as muitas características que se pode atribuir a um país

Nós,

No Brasil,

Podemos dizer que somos especialistas no absurdo

Todo tipo de absurdo

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Para o bem e para o mal

Recheamos a borda da pizza com salsicha

Transformamos Beethoven na música do caminhão de gás

E depois transformamos a música do gás em hit do carnaval

A sandália gladiadora fez um imenso sucesso.

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Acreditamos na grávida de Taubaté

E o Louro José se tornou nosso amigo de infância

Até aí tudo bem

Absurdos pontuais, quase esporádicos

Ocorre que, para além da capacidade de criar cenas caóticas,

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Criamos a noção de que o absurdo pode ser banal

E era aí que morava o perigo

Quando o absurdo já deixa de ser absurdo

E parece apenas corriqueiro

Instituímos bancadas religiosas no congresso

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Elegemos o Tiririca

E recheamos o pastel com bife à parmegiana

Começamos a achar que, enfim,

O absurdo já era o natural

E que, tudo bem, poderíamos seguir em frente,

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Como se tudo estivesse caminhando normalmente

Elegemos o Bolsonaro

Descobrimos um,

Dois,

Três,

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Trezentos

Casos graves de corrupção

Fizemos memes

E criamos o sushi de fandangos

Percebemos que o país degringolou

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E fomos dançando,

Fazendo coreografia

Até a beira do abismo.

Esfiha de sonho de valsa

Dollynho

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Inês Brasil

Janaína Paschoal

Perdemos a noção certo e errado

O neto da Elis Regina

É filho da cantora da música dos Dedinhos

Colocamos leite em pó no açaí

Perdoamos o pó nos helicópteros

E condenamos por porte de Pinho-Sol

Pedimos ajuda a Deus

Enquanto o padre mais famoso do país

Pede sugestões de suplemento alimentar

Para o Lucas Lucco

Eu já não entendo bem

Mas, enfim,

Institucionalizamos o absurdo

E tudo vai parecendo um pouco normal

Até mesmo o dia de hoje

E todos os perigos que nos rondam

Era mesmo para ser assim?

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