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Retratos e relatos do cotidiano

Não aprendi a dizer adeus

Nossa eterna incapacidade de aceitar que as despedidas fazem parte da vida.

Por Ruth Manus
Atualização:

Finalmente, dezembro vem chegando. Com ele, algum alívio, algum sossego e uma bela meia dúzia de alegrias. Mas com o fim do ano, para muitos, também chega alguma perspectiva de despedida.

Só ontem, nessa minha alegre e turbulenta vida de professora, foram duas turmas que me disseram seus adeus. Quase cem rostos, cem nomes, cem histórias, cem abraços marejando meus olhos.

Não tem jeito, não aprendi a dizer adeus.

E será que algum de nós aprendeu?

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Seja por longo ou curto prazo, para longe ou para perto, para o bem ou para o mal, será que sabemos gerir e digerir despedidas?

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Interessante o fato de que todos sabemos que a vida é permeada por caminhos que seguem direções opostas... E nem por isso conseguimos encarar separações como algo natural.

Eu não nasci com olhos claros. É uma realidade com a qual me conformei. Não me lamento a cada vez que me olho no espelho e vejo esses dois círculos escuros no meio do meu rosto. No Brasil não neva. E não nos chateamos a cada inverno por causa disso. Mulheres não fazem xixi em pé. E nem por isso fazemos um drama a cada vez que vamos ao banheiro.

E pessoas vão embora.

É uma realidade mais do que sabida. E aceitamos sem relutar? Sem barganhar, mendigar, suplicar? Não. Simplesmente não conseguimos admitir isso como uma verdade com a qual temos que conviver.

E nem sempre conseguimos materializar o porquê da tristeza na despedida. O porquê do nó que se instala em nossos peitos ao pensar no portão de embarque dos aeroportos ou nos veículos que, aos poucos, vamos perdendo de vista.

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Às vezes é por prenúncio de saudade. Outras é por medo de perda. Outras por dependência. Apego. Posse. E muitas vezes é por mera consciência de que a vida é incerta, os caminhos independentes e o reencontro, uma mera hipótese.

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Na verdade, quase sempre que não é um mero "até amanhã", é ruim. Sobretudo com pessoas que, num dado momento, já foram o nosso "todo dia". Pais, irmãos, amigos de escola, de faculdade, de trabalho.

Marisa Monte com seu "por isso não vá embora, por isso não me deixe nunca, nunca mais"; Bruno Mars com seu "don't you say goodbye"; Piaf ou Jacques Brel com "ne me quitte pas"; Laura Pausini com seu "tu non lasciarmi mai"; Paralamas com seu "não me abandone jamais". É uma angústia universal...

É um dos poucos momentos da vida em que adultos se permitem lapsos de irresignação e, sejamos sinceros, um certo egoísmo. Mas dentre tantas coisas lindas já escritas sobre despedidas por poetas e escritores célebres, na simplicidade das palavras que se tornaram célebres nas vozes de Leandro e Leonardo é possível encontrarmos a tão batalhada e necessária generosidade para lidar com as partidas.

"Não aprendi dizer adeus Mas tenho que aceitar Que amores vêm e vão São aves de verão Se tens que me deixar, que seja então feliz Não aprendi dizer adeus Mas deixo você ir Sem lágrimas no olhar Se o adeus me machucar O inverno vai passar E apaga a cicatriz."

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Não tem jeito. Vai ser um eterno aprendizado para todos nós. Uma eterna tentativa de entender e aceitar que os rumos da vida simplesmente não estão nas nossas mãos. Que nossos planos e vontades não têm o condão de controlar a vida daqueles que nos cercam. Por vezes, nem mesmo de controlar a nossa.

E que no fundo, talvez seja exatamente essa fluidez dos caminhos, os encontros, desencontros e reencontros que tornem a vida inevitavelmente dolorosa, mas tão encantadoramente imprevisível.

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(aos meus alunos, aos quais neguei um discurso ontem, já com choro embargado, só digo: voem, passarinhos! Tenho orgulho de ter ajudado a criar essas asas...  Vou estar sempre olhando por vocês de longe e de braços abertos se um dia precisarem voltar para o ninho ?)

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