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Retratos e relatos do cotidiano

Gays, perdoai-lhes, eles não sabem o que dizem

Keep calm e continuem divando.

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Por Ruth Manus
Atualização:

Não é a primeira vez, nem será a última em que sentirei vergonha alheia por discursos tão feios e tão equivocados que circulam por aí quando o assunto é homossexualidade.

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Na verdade, eu ainda me surpreendo que isso seja tema para debate. Pode ou não pode? Deve ou não deve? É normal ou não é? Meu Deus. Tanta coisa séria para a gente debater e o povo insiste em querer julgar o amor alheio através de regras sem cabimento.

Quando ouço ou leio determinados tipos de coisas (que não podem ser chamadas de opiniões) minha primeira reação é a raiva. Porque sinto que a inconsequência dessas pessoas puxa o mundo todo para trás, enquanto tantos de nós se esforçam todos os dias para que a mentalidade mude, para que certos dogmas sejam abandonados e para que esse tema evolua na mente das pessoas.

Então, minha primeira vontade é xingar, agredir. É chamar de ignorante, de babaca. É mostrar minhas garras e meu grito, porque a cada vez que agridem um gay hipotético, agridem cada um dos gays que eu tanto amo- amigos, parentes, vizinhos- e despertam em mim o instinto de felino de proteger, de abraçar, de atacar quem ataca os meus.

Mas eu não vou fazer isso. Porque sei que isso não vai resolver. Porque sei que ignorância não se resolve com ignorância. E, acima de tudo, porque sei que os gays da minha vida- cada um do seu jeito, cada um na sua individualidade- sabem ser muito mais do que querem que eles sejam.

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Enquanto os homofóbicos, os conservadores e os desinformados tentam taxar os gays de malucos, depravados, que enfiam a cara no glitter e saem loucamente fazendo sexo sem proteção com qualquer um, os gays do mundo real estão trabalhando, dirigindo empresas, fazendo pós graduação, cuidando dos pais idosos, dos irmão doentes, estão amando, desamando, sendo amados, adotando crianças, entregando relatórios, tocando piano.

Os gays do mundo real estão olhando para essas agressões com muito cansaço, sem dúvida nenhuma. Mas com muito mais maturidade do que os ignorantes esperam. Eles frequentemente dispensam o berro: eles suspiram, argumentam, explicam, mesmo sabendo que é quase como conversar com a parede. Mas eles tentam educar, ao invés de tentar destruir.

E eu queria agradecer. Agradecer por vocês aguentarem firme. Por respirarem fundo, balançarem a cabeça e seguirem nos orgulhando. Por seguirem acreditando que vale a pena amar enquanto o mundo encara o amor de vocês com tanto ódio e tanto erro. Agradeço por me acalmarem e por me mostrarem diariamente o quão superiores vocês são a essa gente miserável.

E eu peço desculpas em nome dos héteros, por tanta merda que vocês têm que ouvir. Gays, perdoai-lhes, eles não sabem o que dizem. Continuem perdoando e educando quando puderem. Mas quando precisarem gritar, gritem.  Vocês não são bichas histéricas, vocês são vozes. São discursos. São argumentos. E têm todo direito de se alterar quando for preciso. Perdoem, se puderem. Se não puderem, sigam a caminhada. Apenas mantenham-se longe do ódio dessa gente.

Keep calm e continuem divando, meus queridos.

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