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Retratos e relatos do cotidiano

Eu e o bacon, o bacon e eu

A história de um amor proibido

Por Ruth Manus
Atualização:

 

Shakespeare escreveu sobre o amor proibido entre Romeu e Julieta. Jane Austen também navegou pelo tema em "Orgulho e Preconceito". Ang Lee escancarou o amor proibido em "O Segredo de Brokeback Mountain".

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E hoje eu peço licença para repetir o tema falando sobre um romance talvez não tão lindo, mas talvez ainda mais proibido: nós e o bacon.

Eu bem que queria ser uma daquelas pessoas que adora cenoura. Juro que queria, acho chiquérrimo abrir um tupperware com mini cenouras às 16:40 no escritório. Mas não. Eu gosto mesmo é de bacon.

Friso que sou uma mulher esclarecida do século XXI. Como arroz integral, tapioca, vegetais orgânicos, papaia com farinha de linhaça. Eu faço suco com couve, hortelã, gengibre e água de côco. Não sou nenhuma inconsequente, não quero enfartar aos 40.

Mas CARA, EU GOSTO DE BACON. Eu sou feliz comendo bacon. E eu não quero ter que me achar uma doente por isso.

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Há alguns dias saiu uma pesquisa sobre os malefícios do bacon. Não duvido, aquilo é gordura pura. A informação é importante e deve ser divulgada, mas eu realmente não quero ser refém das estatísticas. E, cá entre nós, acredito que a maioria das pessoas, assim como eu, nunca comeu bacon imaginando estar fazendo cafuné no próprio organismo.

Li um texto outro dia que falava que estamos vivendo uma era de terrorismo nutricional. É bem por aí. Muitas vezes a gente não sabe nem o que comer. E quase sempre a gente acha que não pode comer nada. E quando achamos que está tudo bem, sempre aparece alguém para questionar a nossa escolha.

A verdade é que eu só queria poder comer bacon puro. Porque a sensação que tenho hoje é de que tudo o que a gente come já vem temperado com um monte de culpa, por mais que você não queira. Além da culpa, por vezes, também temperam nossos pratos com fantasmas e outros traumas, subtraindo todo o prazer que havia naquela refeição.

Fiquem tranquilos, nós não comeremos bacon todo dia. Talvez nem toda semana. Mas na hora em que formos comer nosso bacon não queremos ninguém nos mostrando tabela nutricional, pesquisa de Harvard, nem diretrizes da OMS.

As pessoas resolveram ser delegadas da saúde alheia. Recriminam o açúcar, o álcool, a gordura trans, a cafeína, mimimi. E eu realmente não quero ter que me explicar, me constranger ou me sentir vexada por meus prazeres esporádicos, nem por minhas eventuais farras gastronômicas.

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Eu só quero poder comer sem culpa, nada além disso.

Eu assumo os riscos, eu sou adulta e eu saberei dosar meus excessos. Mas simplesmente parem de invadir meu prato e de despejar sobre ele informações que eu não pedi. Eu agradeço a preocupação, mas, sinceramente, eu prefiro bacon.

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