Era uma vez um reino que já havia sido feliz
Onde as pessoas riam, dançavam descalças
E diziam "vai com Deus" para todo mundo
Era um reino alegre por causa de sua gente
Que lutava- uns mais, outros menos-
Por dias melhores e por menos erros
Os que lutavam, nem sempre concordavam
Alguns, que moravam na margem esquerda do rio,
Queriam que alas do palácio real
Fossem transformadas em moradia para os camponeses
Outros, que moravam à direita do rio,
Queriam aumentar o ouro do reino
Torná-lo mais forte por causa do ouro
E, sendo mais rico, o reino seria melhor pra todos
De formas diferentes, todos queriam
O bem do reino
E todos eles bebiam cerveja juntos
No fim do dia
E riam
E dançavam
No reino havia um palácio
E no palácio havia um trono
E no trono havia uma rainha
Que às vezes acertava e às vezes errava feio
Mas que estava lá, sempre trabalhando
E era a herdeira legítima da coroa
Disso, ninguém duvidava
Diziam que havia no reino uma caverna
Muito fria e muito escura
Caverna essa, onde dormia um gigante
E ninguém o conhecia
Alguns diziam que ele era o novo herói
Outros diziam que ele era a reencarnação
De um antigo reizinho malvado
Que tomou o poder à força no século anterior
Alguns diziam que ele era a solução
Outros diziam que ele seria a desgraça
Até que o dia chegou
Ele abriu os olhos
Levantou-se
Saiu da caverna com o cenho franzido
E começou a caminhar com passos duros
Pisou nas flores
Arrancou árvores com as mãos
E começou a gritar
Gritar
Gritar
Ele não sabia conversar sem grito
Aos berros, mandava a rainha sair do trono
Dizia que ia sentar-se lá e mudar todo o reino
Ele não parava de gritar
E de pisotear
E de ameaçar
Aqueles que riam e dançavam
- tanto os que amavam o ouro
quanto os que amavam os camponeses-
Voltaram tristes para casa
O gigante gritava palavras feias
Porque não sabia conversar
O gigante mandou prender crianças
Porque não queria educá-las
O gigante não gostava dos trabalhadores
Porque ele não os via como seus irmãos
O gigante gostava de vingança
Porque não sabia o que era justiça
O gigante mandou acabar com muitas famílias
Porque não sabia que família era mais do sangue
O gigante fazia barulho batendo coisas
Porque não sabia tocar flauta
O gigante não dizia "vai com Deus"
Por que sua religião era o ódio
O gigante não sabia o que era amor
E o reino da dança e do riso
Foi ficando cada dia mais cinza
Por mais que alguns daltônicos
Jurassem que aquele cinza
Era verde como os campos
E amarelo como o ouro
Nunca se soube
O que aconteceu com o reino
Alguns contam que o gigante,
De tanto gritar,
Perdeu a voz
Outros contam que
O gigante era um fantoche
De um outro reino
Que tomou o poder
E cometeu barbáries
Outros dizem
Que todos se juntaram
E num dia em que o gigante dormia...
Pegaram sua cabeça...
Seguraram-na...
E fizeram...
Cafuné .
E que ele finalmente entendeu
Que certas coisas eram melhores
Do que gritar
E pisotear flores.