PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Crônicas do cotidiano

Nome composto

Um mal de nobres e pobres

Por Ricardo Chapola
Atualização:
 Foto: Estadão

 

Ilustração: Felipe Blanco

PUBLICIDADE

Charlotte por causa do avô. Elizabeth por causa da bisa. E Diana em memória da avó. Pensaram em todo mundo na hora de dar um nome ao bebê real, menos na pobre criança. Toda a solidariedade a ela. Ass: Ricardo Antonio.

Vai levar algum tempo até que Charlote Elizabeth sinta as primeiras consequências de ter um nome composto. Isso deve acontecer na escola, na hora da chamada:

- Carl? - Here! - Caroline? - Absent, teacher! - Charlotte Elizabeth Diana?

______________________________________________

Publicidade

Acompanhe Crônicas de Ricardo Chapola pelo Facebook

(Clique em "obter notificações" na página)

Novas crônicas todas as quintas-feiras.

Twitter: http://twitter.com/ricardochapola

______________________________________________

Publicidade

Risadinhas quebrarão o protocolo, impedindo que a princesa se manifeste. A professora será obrigada a intervir, exigindo atenção da sala. Ela repetirá o nome, dessa vez ouvindo o barulho de alunos tentando conter os risos com as mãos. Charlotte Elizabeth Diana então descobrirá: "o meu nome é bizarro". A partir daí, sua vida nunca mais será a mesma.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O problema de um nome composto é que geralmente ele não orna. Vejo pelo meu. Ricardo Antonio é péssimo. As pessoas não são tão diretas assim ao conhecerem minha identidade. Preferem dizer nessas horas que parece nome de "ator de novela mexicana" - o que dá praticamente na mesma. Seria melhor se meu nome fosse em inglês. Richard Anthony: continuaria brega, continuaria composto, mas um dia alguém poderia me perguntar: "Personagem do Downton Abbey?", ou "Num tem um rei com esse nome?". Brega, porém glamoroso - que é o mais importante.

Ninguém ainda conseguiu explicar o comportamento dos pais nessa etapa da vida. Abrem completamente mão do senso estético, cegos pela preocupação de atender todas as homenagens pedidas pelos parentes. Deve ser a pressão vinda dos sogros, cunhados, padrinhos, todo mundo querendo meter o bedelho na identidade do pimpolho recém-nascido que, indefeso, não pode fazer nada para mudar seu destino. Se soubesse antes que o mundo era tão totalitário, talvez jamais deixaria o aconchego do ventre materno, onde tinha pelo menos uma meia dúzia de direitos garantidos.Resta-lhe a essa altura chorar e nada mais.

O resultado está aí espalhado pelo mundo, na nobreza ou na pobreza. Charlottes Elizabeths, Marianas Cristinas, Fábios Augustos, Claudios Robertos: perdoem os seus pais, eles não sabem o que fazem. Pais, puta sacanagem, hein? Tá na hora de mudar isso aí.

 

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.