Desconheço levantamento do tipo, mas, se pudesse dar uma contribuição ao valente investigador - eu não, pois não teria estômago - citaria sem hesitar a docência. Só a de nível universitário, claro. Por alguma razão muito torta, achamos que o professor de crianças e adolescentes é menos importante e digno do que o professor dos jovens bacharéis. Nisso, estou com o mestre Rubem Alves: deveríamos enviar nossos melhores mestres para o ensino dos pequenos, e deixar que os menos bons - ou até medíocres - fizessem a formação dos universitários, que já têm mais condição de entender até o que o professor não sabe explicar.
Também acrescentaria, à minha lista particular de ególatras, os escritores (mas esses cada vez menos, espancados diariamente no hipermercado de indiferenças da internet) e, em menor monta, os jornalistas. Talvez pudesse ainda citar advogados e economistas. Médicos, certamente.
O que têm em comum todas essas profissões? Ora, o trabalho intelectual. São ofícios de cadeiras ergonômicas e ares-condicionados, de livros e artigos, leitura e interpretação, insight e oratória. Beneficiam-se de um certo paradigma perverso que diz que o que é da mente é superior àquilo que é do corpo. Que diz ser mais nobre pensar do que obrar. Que barateia a carne e o suor no mercado para inflacionar os custos de um comentário dito erudito.
Não lido muito bem com essas distorções gravitacionais, que põem umbigo acima de coração. Não tenho paciência para egos inflados, vazios de realizações, nem para o gênio que despeja sobre o outro as suas leituras sempre particulares. Senhores: curem o câncer, ou, ao menos, escrevam uns bons livros. Façam alguma coisa a respeito de vossas genialidades - e, principalmente, deixem em paz a gente que não se interessa por elas. A gente simples, humana, que não tem muito tempo para grandezas fingidas - fugidias; quer viver, e muito, antes que tudo se acabe em vento de tempestade e pó.«