arte: loro verz
» O cérebro é uma lente preguiçosa para olhar o mundo. Incessante arquivo de padrões, langorosa máquina de associações que estabelece, com ou contra a nossa vontade, perigosas metonímias.
Às vezes, as associações são de alguma valia (talvez até na maior parte do tempo). Outras, contudo, nos empurram na direção do abismo.
O filtro pelo qual olhamos o mundo é o filtro dos estereótipos. Há uma perversidade evolutiva nisso: o cérebro, para poupar energia, prefere pensar que todo animal não doméstico é perigoso, que todo fogo ameaça, que toda tempestade desabriga. São estereótipos ancestrais, que têm ajudado o homem a seguir sua jornada até o fim dos tempos. Assim, não é preciso examinar cada caso particularmente. Há uma regra geral por trás de tudo. Se não deu certo uma vez, nunca dará.
__________________________________________
Siga Males Crônicos no Facebook.
(Clique em "obter notificações" na página)
__________________________________________
O problema dos estereótipos se agrava no mundo moderno, cuja complexidade não cabe em nenhum esquema, palco, palavra. Sendo o estereótipo uma simplificação radical das situações com que nos defrontamos, e, sendo essas situações muito mais cinzentas e nuançadas do que o tudo ou nada da Idade da Pedra, como seguir em frente?
O mundo se ramifica em religiões, gêneros, direitos e conquistas; violências, fobias, artimanhas políticas. Como dar conta da realidade multifacetada e irredutível com que nos esfregamos dia a dia com essa lente distorcida?
Impossível.
Com cérebros programados para simplificar, como seremos justos? O terrorismo veste a túnica do Islã; o crime, a cor negra. Deus é brasileiro; país da doce malandragem, samba e Carnaval.
Marthina Brandt, brasileira, vence o Miss Brasil. A crítica não tarda: dizem que ela não representa a beleza brasileira. É loira de olhos verdes, ostenta um sobrenome incomum. Como conciliar loirice e brasilidade? Como incluir o Rio Grande do Sul neste país chamado Brasil?
O que é beleza brasileira?
As melhores intenções são também eivadas de preconceitos, de estereótipos. Pensar custa tempo, e as redes sociais perfazem mais uma máquina de roubar horas. Queremos opiniões prontas, que só podem vir rapidamente por meio do: estereótipo.
Afinal, o que é a beleza brasileira senão um grande estereótipo sambante, recém-saído da passarela? «
______________________________________________
Siga Males Crônicos no Facebook.
(Clique em "obter notificações" na página)
Atualizações todas as segundas-feiras.
Twitter: http://twitter.com/essenfelder
______________________________________________