arte: loro verz
» O Brasil acaba, mas 2015 não acaba. A sensação não é exclusiva. Os colegas estão apreensivos, as notícias se avolumam como bile. Até os vendedores de loja, outrora exaustos mas esperançosos, estão taciturnos.
Há um mau humor natural e outro circunstancial.
É natural, enfim, que os potes de mágoa estejam já por aqui, por transbordar. O caldo dos dias prestes a entornar, à espera da gota d'água. A felicidade obrigatória das vitrines, comerciais e porta-retratos acentua, colateralmente, o enfado. Se é preciso ser feliz, deprimimo-nos. Não é à toa que os consultórios de psicólogos e psiquiatras lotam nesta época. Ser feliz é só outra forma de infelicidade?
Não bastasse a conspiração natalina anual, circunstancialmente nos aporrinhamos com as corrupções do Brasil real. Com todas as inconveniências do Brasil real. Como no poema, o Brasil é o grande fingidor que arranca máscara após máscara diante do espelho até que não reste mas nada, pois não há carne. Qual a carne do Brasil, senão outra máscara? Os escândalos se sucedem, e os eleitos decepcionam, sempre.
Não há lugar para correr, senão para a rua, e gritar.
__________________________________________
Siga Males Crônicos no Facebook.
(Clique em "obter notificações" na página)
__________________________________________
No dia 21 de dezembro já poderíamos, em outros anos, flutuar na modorra dezembrina, contabilizando ganhos e perdas, arrolando convidados, planejando cardápios. Nada muito pretensioso.
Mas neste ano, não. O Brasil acaba, mas 2015 não acaba.
Para a maioria das pessoas que conheço, 2015 foi um ano muito ruim, de pequenas e grandes tragédias. Para o país, também. É claro que se pode ser otimista e de tudo extrair lições. Pode-se ainda celebrar a ação da polícia quando vacina contra bandidos, o progresso das investigações criminais, o fortalecimento do órgão infestado de vírus - quando sobrevivemos. Mas o sonho de um Brasil melhor, uma incerteza, cobra a certeza da ruína para milhões de pessoas.
Se pudesse, desejaria um 2016 mais leve. Sonharia que o paciente, todos os pacientes, aprendessem a crescer sem a ameaça da destruição iminente. Sonharia com anticorpos sem os sustos da doença. «
______________________________________________
Siga Males Crônicos no Facebook.
(Clique em "obter notificações" na página)
Atualizações todas as segundas-feiras.
Twitter: http://twitter.com/essenfelder
______________________________________________