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Opinião|O Brasil acaba, mas 2015 não acaba

Para a maioria das pessoas que conheço, 2015 foi um ano muito ruim

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Atualização:
 Foto: Estadão

arte: loro verz

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» O Brasil acaba, mas 2015 não acaba. A sensação não é exclusiva. Os colegas estão apreensivos, as notícias se avolumam como bile. Até os vendedores de loja, outrora exaustos mas esperançosos, estão taciturnos.

Há um mau humor natural e outro circunstancial. 

É natural, enfim, que os potes de mágoa estejam já por aqui, por transbordar. O caldo dos dias prestes a entornar, à espera da gota d'água. A felicidade obrigatória das vitrines, comerciais e porta-retratos acentua, colateralmente, o enfado. Se é preciso ser feliz, deprimimo-nos. Não é à toa que os consultórios de psicólogos e psiquiatras lotam nesta época. Ser feliz é só outra forma de infelicidade?

Não bastasse a conspiração natalina anual, circunstancialmente nos aporrinhamos com as corrupções do Brasil real. Com todas as inconveniências do Brasil real. Como no poema, o Brasil é o grande fingidor que arranca máscara após máscara diante do espelho até que não reste mas nada, pois não há carne. Qual a carne do Brasil, senão outra máscara? Os escândalos se sucedem, e os eleitos decepcionam, sempre.

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Não há lugar para correr, senão para a rua, e gritar.

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No dia 21 de dezembro já poderíamos, em outros anos, flutuar na modorra dezembrina, contabilizando ganhos e perdas, arrolando convidados, planejando cardápios. Nada muito pretensioso.

Mas neste ano, não. O Brasil acaba, mas 2015 não acaba.

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Para a maioria das pessoas que conheço, 2015 foi um ano muito ruim, de pequenas e grandes tragédias. Para o país, também. É claro que se pode ser otimista e de tudo extrair lições. Pode-se ainda celebrar a ação da polícia quando vacina contra bandidos, o progresso das investigações criminais, o fortalecimento do órgão infestado de vírus - quando sobrevivemos. Mas o sonho de um Brasil melhor, uma incerteza, cobra a certeza da ruína para milhões de pessoas.

Se pudesse, desejaria um 2016 mais leve. Sonharia que o paciente, todos os pacientes, aprendessem a crescer sem a ameaça da destruição iminente. Sonharia com anticorpos sem os sustos da doença. «

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Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

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