arte: loro verz
» Não bata panelas quando a presidente falar. Não enquanto ela falar.
O direito de se manifestar, você rebate, é sagrado. É próprio das democracias, que você e eu defendemos - Deus nos livre do "elemento militar". Tudo muito verdade. Mas ainda mais próprio da democracia é o diálogo. E, para dialogar, é preciso antes ouvir. Deixe a presidente falar.
Deixe falar. Então, avalie. Entenda os argumentos da outra parte, então refute - ou, quem sabe, abrande-se.
Não é que o panelaço não faça sentido, é que ele só faz sentido como resultado do pronunciamento. Nunca, jamais, como maneira de impedi-lo. Silenciar o outro, ainda mais à força, com a estridência de nossos metais, é prática das ditaduras. Nós somos democráticos. Nós ouvimos, refletimos, contestamos e, por fim, nos manifestamos.
Image um casamento em que, ao primeiro percalço, interrompa-se o desabafo da mulher, ou do homem, às paneladas. Como seria?
- Amor, não gosto quando você sai sem me avisar - diz ela, angustiada.
- Desculpe, é que eu...
Ela pega as panelas. Ele, intrigado, recomeça a se explicar.
- Ontem eu... [clém clém clém, barulho de panelas]
Como se dizia antigamente, palavras loucas, ouvidos moucos. "Conversa" de loucos.
No mundo ideal, o panelaço, se necessário, viria 10 minutos depois do pronunciamento, não durante. Ninguém tentaria silenciar ninguém. De que temos medo, afinal? De concordamos com o outro, se dermos espaço, se abrirmos brecha? São tão frágeis nossas convicções?
Ouvir não é concordar. Ouvir é ouvir: é o reconhecimento do direito do outro, é um fundamento ético.
Ouça: pense nisso. «
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